Wlaumir Souza
Do ponto de vista acadêmico-científico crítico o fenômeno religioso
possui regularidades e singularidades que distinguem os diferentes cultos e
tradições. Do ponto de vista das regularidades pouco importa se cristão
católico ou evangélico, ou qualquer outra denominação, quimbanda ou candomblé;
espírita ou budista; islamismo ou judaísmo. Todas as denominações religiosas
são manifestações do pensamento mágico, mítico ou simbólico sem possibilidade
de confirmação para além dos efeitos causados nos seres humanos que neles crêem
e devido mesmo a crença.
Não são raras as críticas cruzadas entre as mais diferentes denominações
religiosas. Para permanecer apenas na religião predominante no Brasil. Os
cristãos não se entendem: Seria e permaneceria Maira mãe de Jesus virgem e sem
mais filhos? A confissão defendida por católicos simplesmente não existe para
outras denominações cristãs. Jesus seria apenas mais um profeta segundo alguns
judeus e o islamismo? Os espíritos se comunicam com os vivos como ocorreu com
Jesus que parlamentou noite a fora com alguns dos patriarcas do judaísmo com
direito a tenda e todos os símbolos de hospitalidade israelita?
Como se isto não bastasse, se formos para o campo histórico do
político-religioso as coisas se complicam ainda mais. Quando da proclamação dos
Direitos do Homem e do Cidadão – um dos fundamentos da sociedade democrática de
direito ocidental que vivemos hoje – a Igreja foi um de seus oponentes mais
persistentes. Avançando para a Declaração Universal dos Direitos Humanos a
coisa não foi e não é tão diferente. Não por acaso as políticas de caridade das
igrejas tendem a buscar na mais tenra infância mecanismo para se perpetuar e
mesmo com recursos públicos e da ONU, pois, fora da infância, o consenso não
impera.
Ao longo da história se homens e mulheres não tivessem se levantado
contra o poder religioso-político viveríamos baseados nos milagres sem as
transformações da ciência. Graças a estes seres humanos extraordinários os
pensamentos laicos, seculares, democráticos e republicanos avançaram a despeito
da perseguição sistemática que sofreram Galileu, Darwin, Freud e tantos outros
das religiões.
Todavia, em pleno século XXI determinados pensamentos, escritos, discursos,
vozes e as práticas continuam a fazer vítimas em nome da salvação das almas que
tem como meio a condenação dos corpos. As mesmas almas que foram negadas ao
negro, ao índio e de certa forma à mulher. Na África o combate as religiões
afro por cristãos e muçulmanos, além das disputas entre os próprios africanos,
tem dizimado as centenas. O mesmo para o embate entre cristãos e muçulmanos;
muçulmanos e muçulmanos e outros mais.
Se deixarmos permanecer este avanço irracional do religioso, sem que se
construa uma educação crítica, laica e secular a favor das diversidades e
pluralidades – incluso a questão gay, a religiosa e humana – as vitórias de uma
longa história do pensamento racional pós idade medieval será vista em declínio
cada vez maior em nome da popularidade e da audiência do lucro fácil de mentes
simples e semi-alfabetizavas na interpretação do mundo e do ser humano.