quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal da Esperança de um dia não nos matarmos mais.

Primeiro os cristãos foram perseguidos e dizimados. Depois, os cristãos passaram a perseguir e dizimar. Hoje, os cristãos perseguem e são perseguidos. E, em vários momentos, estes naipes se mesclaram.
Se, Jesus Cristo foi imolado devido a sua maturidade moral face aos interesses comezinhos de seus contemporâneos, e por propor o direito à terra ao povo ao qual pertencia, sinto informar, isto não mudou muito daqueles tempos para o natal de hoje.
Pelo contrário.
Enquanto gente como nós – que vive num país em paz, com acesso a rede básica sanitária e educacional, com trabalho e moradia, com livre direito de exercer ou não a religião – somos, aproximadamente, 1/4 da população mundial, outros tantos passam fome, sede, frio e terror.
Nós, os herdeiros de Jesus, temos muito que aprender com o que sobre ele escreveram enquanto relatos de vida. Para se ter uma idéia. Basta lembrar que tão logo cristãos deixaram de ser perseguidos, passaram a organizar o Estado para perseguir e dizimar os “oponentes de Jesus”. E, depois, na Idade Média, organizaram a sociedade, bem como, depois, o Estado Moderno, para perseguir os próprios cristãos que não se adequavam à norma em construção como ortodoxa. Em meio a este furor da fé, cristãos de diferentes nacionalidades se dizimavam mutuamente. Todos devidamente abençoados pelo mesmo Deus e pela mesma Igreja.

Chegados ao século XX, a ancestral luta para libertar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos se travestiu em meio a discurso capitalista onde democracia e consumo de petróleo de mesclam sem que definamos exatamente o que é a estrutura ou o estruturante do discurso e da prática genocida do outro não cristão.
Assim, em meio a discursos laicos de igualdade, diversidade e pluralidade, talvez, dentro de alguns séculos, olhem para nós e percebam o quanto as lutas religiosas eram permanentes em pleno século XXI e, mais que isto, que a política como determinante ocultava a forma de influência determinante do Deus vencedor.
Pior que isto, que nas sombras das disputas de poder religioso a imolação de corpos humanos, tal quais tantas culturas realizaram em um passado não tão longínquo assim, ainda era moda entre nós via banho de sangue de cristãos, muçulmanos, entre outros. Mais que isto, que a morte de Jesus era revivida numa epopéia de mártires sem fim em nome da paz. Quiçá um dia não nos matemos mais e tal qual a cena de museu cause horror o passado que nos pertence como presente.
Feliz Natal da Esperança de um dia não nos matarmos mais.
Wlaumir Souza



sábado, 20 de dezembro de 2014

A arte de envelhecer no século XXI

“Faculdade de Ciências Nervosas” é um conto sobre a arte de envelhecer. Quanto mais ancião, mais esta palavra ganha urgência em ser substituída pela vida vivida. A premência da existência só dá a ver a quem dela se percebe em fuga. Contrariado.
Fosse à primeira metade do século XX, esta “h”istória causaria pudor e arrepios nos velhos de 44 anos sentados na varanda aguardando a vida passar nos dias finais e, por vezes, terminais. Sentado na varanda, acalentando sonhos dos netos e dos filhos e não os próprios. E, quem ousasse ir contra a “história natural dos fatos”, sobretudo, mulheres, seria coagido socialmente a resignar-se ou ser execrado.
Hoje, a beleza da história de 69 anos é rara aos de quem tem 19. Só os amantes de antiquários para saber o quanto se ganha ou se perde com a idade. A história única e traz em si o gosto da existência primitiva da do processo de humanização e individuação que apenas a poucos pode dizer a si mesmo, em primeira mão, e, depois em público, quem se é sem vergonha de ser.
Basta ser num tempo onde o único é cada vez mais raro mesmo na obra de arte. Sobreviveu apenas o antiquário com as peças raras no formato de obra prima repetida na unicidade de suas existências.
É isto que os 19 anos encontram nos 69. A mulher emancipada, dona de seu corpo e de seu desejo, desavergonhada de suas carnes e de seus gemidos na esperança de em um átimo conter o que juventude perdeu nos anos de existência.
A mulher Celena é tudo, menos afoita. Isto os anos consumiram, mas lhe deram a urgência de viver. Neste ponto são os dois jovens amantes que se interpenetram na busca do gozo de viver.
Ganha mais o jovem ou a fogueteira? Ganha a vida sem travas de idades, sem limites na inquietude. Ganha o jovem nas lições de lençol, ganha a anciã no calor dos braços jovens, ganha a vida com a esperança de eternizar-se num gozo que não tem fim.
“Faculdade de Ciências Nervosas” é um convite para se tomar ciência da vida, das faculdades mentais que a torna mais bela, dos nervos que se abrem para o real, do entretenimento dos amantes que confabulam sonhos irrefletidos diante dos dias.
Parabéns, Raúl Otuzi Oliveira por mostrar o quanto os admirados de antiquário apreciam a arte da existência.

Wlaumir Souza

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Obama em Cuba: as pontas de lança do capitalismo

Não há como negar que a história das Américas é marcada pelo cristianismo. Todavia, a cruz que marcou os EE.UU, não foi a mesma dos demais países. E, dentre estes, a Igreja que se implantou na primeira missa, no Brasil, era a mais retrógrada. Neste ponto, não há como não recordar o tipo ideal de M. Weber, criticado como estereotipia e preconceito pelos o opositores deste célebre pensador, quanto ao papel de protestantes e católicos no que diz respeito aos “avanços” do comportamento capitalista no Ocidente.
Enquanto a Europa via ruir o modelo de padroado – onde a Igreja era um departamento de Estado com privilégios cartoriais, como o de religião oficial que garantia a pertença à nação e ao Estado -, o Brasil o implantava em clara aliança entre Estado e Igreja. Dos tempos coloniais à “República Democrática” em que vivemos, a igreja saiu de departamento de Estado a Estado com a colaboração de B. Mussolini. A política realizada, até então, enquanto modo de influência passou a ser uma chancela diplomática onde o Núncio Apostólico desenha cenários em conformidade aos interesses católicos.
Se, no século XIX, o oponente máximo da Igreja era o mundo moderno, o liberalismo e seus representantes mais “discretamente visíveis”, a maçonaria e a ciência. Realizadas as devidas alianças, no final das monarquias, nos berços da República que aspirava a democracia, o novo oponente privilegiado passou a ser, no século XX, o comunismo.
Nos braços do “capitalismo republicano democrático” via-se a Igreja amparada no seu afã de proselitismo. A liberdade do liberalismo lhe parecia, então, melhor que o controle Estatal de outrora, embora o gosto pela monarquia ainda lhe deixasse saudades nos príncipes da Igreja.
Assim, uma Igreja livre num Estado livre, o que equivale a não haver qualquer tipo de restrição – seja doutrinárias ou fiscais e, sobretudo na rede escolar privada confessional – foi um acordo razoável para Igreja apoiar os políticos republicanos que não tinham a “linhagem sagrada dos nobres”, então descartados no jogo do poder de Estado explicito.
Figurou, deste modo, no horizonte do Estado e da(s) Igreja(s) um oponente comum: o comunismo, primeiro na URSS e depois em Cuba e China. No caso da Rússia a ascensão da Igreja Russa Ortodoxa é visível no pós-comunismo. No caso da China as barreiras ao cristianismo são marcadas, e até certo ponto, inflexíveis ao não avanço desta vertente religiosa. E, no caso de Cuba?

O fato do Vaticano ter operado no campo diplomático com destaque demonstra que em breve teremos um documento oficial entre Igreja Católica e Cuba. Em geral, o primeiro passo é a retomada das antigas propriedades seguida da liberdade de culto e ensino. Em outros termos, seguindo os caminhos históricos a Igreja o ocupará espaço privilegiado na educação das elites (econômicas) locais e distribuirá bolsas de estudos a elite intelectual (e pobre). Com isto, fará, na média, em vinte anos, uma transformação cultural com precedentes históricos; como o do Brasil - que no final do Império tinha uma tendência anticlerical, para, nos anos 1930 ver a saída do presidente do Estado do Palácio do Rio de Janeiro onde tomou o poder G. Vargas, pelas mãos do Cardeal Leme. E, mais que isto, viu re-implantar um tipo de neo-cristandade (“novo padroado”).
Deste prisma, por meio de ação humanitária e na defesa das crianças – ponto em que não há grandes discordâncias entre os Estados das Nações Unidas – a Igreja avançará transformando as mentalidades cubanas sobre as noções de igualdade, aborto, propriedade, pecado, ordem, e, como fato final do oponente principal do século XX, que ainda sobrevive no século XXI, derrubará a vertente dominante de matriz cultural socialista.
Não por acaso a Igreja anunciava, no final de outubro de 2014, após 55 anos, a construção do primeiro novo templo católico no País. Pobres indígenas, digo, cubanos. Mérito não apenas do atual Papa, mas da política do Vaticano, já com os papas anteriores, com destaque para Bento XVI, o papa emérito.

Wlaumir Souza

sábado, 13 de dezembro de 2014

Bolsonaro e seus aliados, não passarão?!

Bolsonaro e seus aliados, não passarão?!

Uma das formas mais primitivas de dominação, exploração e controle são as relacionadas às relações de gênero. Debater o papel do masculino e do feminino, do homem e da mulher, do hetero, do bi e do homossexual entre outras possibilidades é tema acalorado até os dias de hoje.
Dois parceiros históricos da demanda de igualdade de gênero são o laicismo e a democracia. Não há igualdade de gênero possível sem o questionamento dos papéis históricos construídos a cada sexo pelas religiões e pelo Estado. Quanto mais autoritário o Estado ou a religião em questão maior a desigualdade de gênero: da violência verbal à física, da violência patrimonial à simbólica, dos direitos reconhecidos à despersonalização e invisibilidade e a exclusão social.
Neste ponto abordar o tema Bolsonaro e sua posição quanto a estupro é debater o papel do Estado e do laicismo. Se Bolsonaros há que podem se arvorar em público é devido ao fato de representarem não poucas pessoas. O fato complexo de um homofóbico, misógeno e defensor da ditadura estar deputado, em uma democracia, demonstra que os valores democráticos tem não poucos oponentes e, por vezes, com alicerces históricos.
Assim, saídos de uma ditadura, oficialmente, não poucas são as continuidades institucionais com o regime negado: homofobia, misogenia, assassinato sistemático dos mais pobres e dos negros, crimes sem apuração ou investigação, abuso do poder, constrangimento e negação dos Direitos Humanos são uma rotina que estupram o Brasil cotidianamente.

Se, Bolsonaro fala em público, e no cargo oficial de representante do povo brasileiro, é devido ao fato de representar não poucos e, com isto alardear a fraqueza das instituições em defender os tradicionais sujeitos históricos vítimas de assédio moral.
Pior que isto é ver que mesmo pessoas que lideram instituições que deveriam primar pelas práticas democráticas e laicas e com grupos de estudos de gênero avançadíssimos “chafurdarem” quase ao lado de Bolsonaro. Assim, para o “reitor da USP, denunciar estupro na USP é ação inquisitorial”.
Ação inquisitorial é o estupro que sobrevive no século XXI como marca da masculinidade que se põe infensa as demandas dos femininos e dos feminismos. Ação inquisitorial é ver a cortejo de corpos em meio a laudos que não confiam na palavra do denunciante, visto e tratado como sujeito de terceira categoria, como se os Direitos Humanos não houvesse isto resolvido. Ação inquisitorial é ver um grupo de homens fazendo piadas das demandas de mulheres e gays e afins. Ação inquisitorial é o descaso com a educação sobre a sexualidade e as demandas por igualdade de gênero. Ação inquisitorial é ver quantos no ambiente profissional ou pessoal denigrem a imagem de mulheres e gays como se fosse uma ação válida do ponto de vista ético e com a cumplicidade silenciosa dos que não denunciam.

Wlaumir Souza

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Água, AIDS e despolitização.

Durante as eleições, e atravessando um dos períodos de maior seca, quase tudo que se viu, na campanha eleitoral, foi um trabalho de desconstrução do adversário politico e a desmobilização do eleitorado para além de qualquer gesto que não fosse o de ir às urnas. Neste ponto chamou atenção o fato da despolitização em diferentes níveis do eleitorado.
O primeiro e mais notório nos últimos anos é o fato da campanha girar ao redor do MKT profissional que quase nada incrementa no debate político para além de um País da propaganda onde todos gostariam de viver, pois, bem diferente do mundo cotidiano do real. Neste ponto a questão da água, no Estado de São Paulo, mas, não só por aqui, foi alarmante.
Em um processo contínuo de despolitização atribuía-se a falta de chuvas a S. Pedro e outros fatores mágicos. Mais que isto, a cena de políticos em nascentes ou represas com “curandeiros” fazendo à dança da chuva, digo, as rezas para chover. Quantos séculos retrogradamos?
Ao invés de se ter um debate sobre o meio ambiente e a legislação recentemente aprovada e seu impacto negativo nas precipitações em termos de crise e segurança hídrica, apelava-se para o pensamento e os atos mágicos que nos colocou no mesmo patamar que as tribos. Isto para o Estado que ainda se pensa a locomotiva do Brasil.
A despolitização realizada pelos agentes do Estado e por uma mídia cúmplice com um dos lados em questão, não para neste ponto.

No mês em que se marca uma data de combate internacional à AIDS, primeiro de dezembro, assiste-se ao mesmo fenômeno em novos parâmetros. O crescimento de portadores do vírus HIV, sobretudo entre pessoas dentre 15 a 24 anos, é atribuída ao fato de que a nova geração não viu morrer artistas e demais pessoas célebres em decorrência das complicações causadas pelo vírus. Nada mais pueril e despolitizante que isto.
Sim, como canta Cazuza, “Meus heróis morreram de overdose (AIDS)”, foi um marco que levou o próprio Cazuza à morte pela CIDA. Sim, isto colaborou para o processo educativo daquela geração. Mas, o ponto máximo não foi apenas o terror de se morrer em pouco tempo, foi o fato de se investir nos mais diferentes processos educativos de combate ao vírus.
Havia investimento de campanhas educacionais e publicitárias, nos mais diferentes espaços, da escola, passando pelos profissionais da saúde, à televisão, rádio, jornais e revistas. Mais que isto, houve um combate ao pensamento mágico que queria restringir tudo que diz respeito ao sexo e a sexualidade ao espaço privado das consciências e do controle do pecado.
A geração que conta entre 15 a 24 anos é a maior vitima da despolitização em nome de doutrinas políticas e religiosas que querem ocultar o real em nome de um mundo que só existe no imaginário de seus defensores que tem triunfado na Terra Brasilis.
Assim, são vítimas os jovens do crescimento do poder religioso sobre a sociedade, a política e na decisão dos rumos da educação, por consequência. Estas decisões silenciam a educação que foi e é o maior mecanismo sistemático de combate a qualquer forma de doença física ou social, os preconceitos e discriminações.
Esta geração, de 15 a 24 anos é vítima de uma despolitização continuada que fez da progressão continuada a “progressão automática” que aliada a meios de divertimentos cada vez mais baratos e hipnóticos, realizados em farto mercado virtual – de computadores a celulares -, se vê sequestrada do direito a informação, sem censura prévia de conteúdo, de modo sistemático na educação.
Sim, é possível dar combate o HIV, mas, não só pela morte dos “Heróis da AIDS”, mas, por um processo decisório de educação que faz da rememória politizada dos “Heróis mortos pelo vírus” instrumentos educativos preciosos, sem que se passe pelo conteúdo como quem dorme a beira da estrada por uma progressão sistemática de paisagens que nada diz ou transforma devido a meta “coronelesca” de despolitizar e mistificar das políticas.

Wlaumir Souza.

sábado, 22 de novembro de 2014

Corruptos trópicos ou a mediocridade por mérito?

Wlaumir Souza
A maior realidade das eleições de 2014 não foi a corrupção banalizada pelos meios de comunicação de massa ou pelas mídias sociais e judiciário, polícia federal e promotoria idem. Foi o quanto somos uma sociedade medíocre, digo, uma classe média, mediana no que diz respeito a compreensão da realidade política do País e para além dele.
Embevecidos num dualismo simplista e maniqueísta que faria a Idade Média iluminada pelos holofotes da razão brasilis – do senso comum à universalidade, digo, universidade. Para todos os lados, da esquerda à direita, com raras exceções dos que desejavam um centro deslocado pela elipse do sistema partidário, se viu um ataque pueril e estéril de que o outro é corrupto, corruptor, conivente e ditador. Para os PSDBs o outro são os Petralhas. Para os PTs o outro são os Tucanalhas. Numa linguagem vulgar, mas com efeito publicitário imediato, muito se falou e atacou e denunciou o outro sem que a Justiça se arriscasse a dançar com qualquer um dos convivas com um dos olhos fechados sequer.

Passadas as eleições o maniqueísmo eleitoral dos cidadãos, que ignora a tradição mais forte e longeva da história do poder no País – o adesismo a posse do poder de Estado (isto mesmo bem ao estilo patrimonialista com arrepios à sociedade de classes que demanda por participação e representações outras) – se depara com um PSDB e um PT que até aqui só fizeram ampliar as contas de contribuintes ao Senhor Estado – água, juros, gasolina, energia e outras “maldades” que estão no por vir.
Falta sair do egocentrismo político “adulto” que vê o outro como bandido nato e inato e a si mesmo como o supra-sumo do bagaço da honestidade e da reputação ilibada e enxergar a realidade que anjo e demônio todos os partidos têm e outros seres também. Mais que isto, se desejamos uma democracia avançada precisamos de uma Justiça que supere, sobretudo no STF, o fato de ser um local de apadrinhados, digo, eleitos políticos e que passem a fazer o que poucos fizeram neste país e onde o caso máximo da regra é o do Juiz que se pressupõe ser Deus e vence na carteirada ou no corporativismo patrimonialista dos doutores.
Entramos num abismo de postagens de pessoas e instituições onde apenas o outro é culpado e quase nada se vê de uma análise que demonstre o quanto nossas instituições estão carcomidas, de um lado e de outro, desde as frases celebres de Machado de Assis e Rui Barbosa, entre outros, sobre a situação do País e do Estado e dos políticos. Precisamos criticar os dois ou mais lados e buscar a condenação de quem quer que seja por comprovada culpa.
Urge-se postagens múltiplas que desmascare as facetas de PTs e PSDBs e que se clame por decência na coisa pública e no modo de administrá-la, e não só nesta, mas, também, nas instituições privadas. Necessitamos que se veja o ataque do neoliberal sobre o Petróleo que foca na Petrobrás como meio para se garantir lucros infindos a iniciativa privada em troca da “honestidade e competência” da administração privada. A mesma administração privada que corrompe em nome do sucesso das empreiteiras e que deixa na espera pacientes de planos de saúde ou telefone mudos no século XXI.


Carecemos de mais, neste país, que postagens sistemáticas apenas contra o outro, necessitamos de uma crítica radical que coloque os corruptos de ambos e de todos os lados onde eles merecem estar: numa jaula de ferro e condenados a pobreza e não apenas a devolução de parte do que subverteu do público. "Sinceridade" premiada não é sinônimo de honestidade. A semana se encerrou, talvez, com a maior verdade dita num arremedo de defesa – tipo aquela dos nazistas que apenas obedeciam ordens – pelo advogado: para todos os locais públicos há corrupção, da incorporadora bilionária ao prestador de serviços pagos em RPA. (?)
Corruptos trópicos... a mediocridade meritocrática do crime contra a coisa pública e em favor do privado lhe serve de coroa? Assim, fica ação dialética - a coisa pública corrompe o privado e o privado corrompe a coisa pública? O último dos honestos, por favor, acenda a luz!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Os “Dois Brasis” eleitorais ou a contradição que interessa?

Wlaumir Souza
Durante a campanha eleitoral de 2014 vi, ouvi e li muitas manifestações dos que estavam na oposição a reeleição de Dilma R., que contradiziam um dos principais pontos do pensamento de K. Marx – a dialética. Assim, assisti, impressionado, ao fato de que não poucas pessoas – do cidadão comum, passando por políticos profissionais a acadêmicos (de universidades públicas e privadas) que condenavam a posição de contrapor “ricos e pobres”, a classe dominante e a dominada e afirmavam que neste ponto o Partido dos Trabalhadores faziam um desserviço à nação. Mais impressionado fiquei ao notar que alguns destes acadêmicos provinham das mesmas faculdades que outrora legitimaram ou trabalharam para o “bom governo militar”.
Outro ponto que me chamou a atenção foi os não poucos cidadãos que ao se manifestarem via redes sociais diziam ter ido à rua, no meio do ano passado, para a “mudança”. Não poucos destes entendendo a mudança como o sufrágio do candidato Aécio Neves que historicamente representa, via PSDB, o Estado neoliberal. Assim, numa amnésia quase que coletiva esqueciam-se que as manifestações iniciaram exigindo o transporte livre e gratuito o que remete a maior intervenção do Estado na economia e nos avanços das políticas públicas de distribuição de renda pelos mais diferentes canais não de cidadania via consumo, mas, antes de cidadania social. Os acima citados, trabalhavam pelo ocultamento das contradições sociais e políticas buscando construir o candidato Aécio N. como o porta voz da unidade nacional sem as “disputas” de classe democráticas.

Encerradas as eleições o sonho de uns se realizaram e o pesadelo de outros se iniciava. E, com isto o foco da contradição que interessa. Neste ponto, a quem mais interessava a contradição vem a convocação para a “harmonia” das classes. Os que outrora queriam a “massa indiferenciada” clamam pela diferença ontológica. Nada como o tempo e o espaço para o desvelamento dos interesses e das auto representações demonstrando que o que parecia pensamento crítico se torna ideologia e alienação e o que poderia ser ideologia e alienação busca se tornar pensamento crítico? Assim, a diferença entre o Brasil que se pinta na campanha depende de se estar no poder ou na oposição a este.
Assim, findas as eleições o PT fez um chamamento para o diálogo – dialética – para se chegar a uma síntese de governabilidade, o que, poderia ser, mais uma vez entendido, como a abertura de mão dos trabalhistas de sua agenda programática histórica em favor da manutenção do poder pelo poder que se legitima via parcas políticas sociais de distribuição de renda sem alterar de fato a pirâmide social visto que foi regiamente financiado pela capitalista financeiro e corporativo.

Do ponto de vista dos tucanos vencidos, a contradição que irrompeu foi aquela de Jacques Lambert em Os dois brasis (1957). Ironia do destino, exatamente isto que o PSDB e o DEM negaram durante seu reinado, digo, governo federal. Esquecendo-se de que Aécio N, fora derrotado em seu berço político e no Rio de Janeiro (local preferido para os passeios rotineiros do ex-candidato a presidente) querem assinalar a vitória num binarismo simplório entre o norte/nordeste pobre financiado pelos “bolsas” do governos federal e o sul/sudeste “rico e intelectual que pugna pela honestidade e transparência”. Aliás, estas podem ser vistas no Estado de São Paulo que não vê  avançar as denúncias contra o governo? Por outro lado, esquecem-se que tudo o que fizeram no passado foi tentar apagar do Brasil a Belíndia descrita por Edmar Lisboa Bacha.


Neste ponto entramos na contradição suprema que revela a vitória parcial das manifestações do ano passado? Enquanto as agências internacionais “humanitária” aplaudem o sucesso das “bolsas” os agentes do capital internacional não cessam os ataques à bolsa e ao dólar no Brasil visto que tudo que interessa é o neoliberal do “sula maravilha”? Isto sem contat o racismo nada cordial que irrompeu numa revelação de que temos muito o que fazer pelos "Dois Brasis".

sábado, 18 de outubro de 2014

Eleição presidencial ou a corrupção por mote?

Wlaumir Souza
O poder corrompe ou o poder revela? Estas são questões que remetem às questões, respectivamente, filosóficas, de Rousseau – nascemos bons e a sociedade nos corrompe – ou, em Hobbes, o Homem é o lobo do homem. Estas teses até hoje não chegaram a uma síntese que satisfaça o pensar e o viver, a teoria e a prática, o dominante ou o dominado.
Todavia, as eleições de 2014 colocaram em relevo um fato inequívoco. A corrupção graça à direita ou à esquerda, mesmo estando estes conceitos mais que esgarçados pelas alianças políticas que, do ponto de vista histórico, seriam impensáveis há pouco mais de uma década, devido ao grau de espúria que remeteria.

Assistir o PT unido a Fernando Collor, Paulo Maluf, José Sarney (entre outros); ou o PSDB unido a Marina Silva – que só perde em personalismo político, hoje, para LLulla e FFHH –,  Eduardo Jorge (entre outros); é no mínimo constrangedor para quem não abandonou o programático em nome do pragmático.
Mais que isto, evidencia que a corrupção no país atingiu um nível suprapartidário pela demanda do poder ou o nível suprapartidário atingiu a corrupção pela demanda do poder? Em outros termos, o corrompido e o corruptor se confundiram numa simbiose onde o colorido partidário perdeu qualquer acento possível?
A pasta rosa, o mensalão, o metrô paulistano, o mensalão, o nepotismo... e, infelizmente, quase que um etc faria sentido nesta frase .Se no primeiro turno vimos um desfilar de acusações mútuas entre os que ocuparam/ocupam cargos eletivos, no segundo turno, inimigos aparentemente irreconciliáveis, devido as denúncias que se fizeram e as bandeiras que agitavam,  se uniram numa amnésia estarrecedora das denúncias alardeadas em cadeia nacional e em horário nobre - onde o público alvo era a classe média em diante.
Estas denúncias de parte a parte parecem ter como fim a banalização da corrupção uma vez que nenhum dos denunciantes é visto às voltas com promotores e juízes demandando por justiça, salvo, o raro caso do mensalão. Mais que isto, parece uma discussão de compadres políticos em meio a possibilidade remota de uma cisão de fato e não só de direito.

Há um misto de mal estar na sociedade atônita com o fato de que tanta lama possa correr em meio a campanha e tão pouca justiça se veja cumprir – inclusive pelo sucateamento do aparato do judiciário que vem desde o Império – com cumplicidade singela ao pensamento e a prática dominante na conformação das consciências.
E, em decorrência da banalização do mal da corrupção organizada, vota-se quase apático nos membros das elites partidárias que representam o estereótipo do poder partidário, ao se candidatarem. Os candidatos e seus partidos são votados não devido a cumplicidade real do povo com a corrupção, antes pela ausência visível de candidatos com programas capazes de representar a demanda social por justiça e dignidade. A vertente explicativa que quer culpar a vítima do sistema pelo sistema diz que o povo tem o governo que merece, mas, muito pelo contrário, o governo que o povo tem é o que a elite permite ter, quer seja econômica e/ou partidária. Vergonha das vergonhas visto que todos, neste ponto, querem ser os meritocráticos da ética e da conduta ilibada.
Melancólico trópico onde a denúncia fica quase vazia gerando um tipo de denuncismo desconstrutor da democracia. Não visa a justiça ou a real representação das aspirações populares como aquelas advindas de julho de 2013, as denúncias.
Da maneira que andam os debates presidenciáveis – ter-se-á de escolher entre "meritocracia com corrupção” ou "distribuição de renda com corrupção”, pois, não há outro modo de votar. O sufragado será o mais votado visto que o povo não pode invalidar a eleição por maioria de votos brancos e nulos. O povo vítima, depois, será o culpado do sistema nos alardes da elite que controla as mídias e, em parte, as mentes dos corpos sofredores das conseqüências eleitorais, quer de um grupo pela "tolerância" com a inflação, quer de outro pelo "choque de desemprego".


A manifestação da indiferença (voto em branco) ou inconformismo (voto nulo) pode ocorrer, mas, o sistema foi criado para andar sem estes num arremedo de voto oligárquico onde, por vezes, a minoria envolvida por parentescos mil, apaniguados outros, aparelhamentos os mais diversos, interesses privados tantos, votam e tão poucos sustentam o devir democrático onde o saber permanece como poder.

sábado, 11 de outubro de 2014

Carta aberta ao PT ou das possíveis razões do declínio eleitoral

Wlaumir Souza
Afinal, qual o discurso que vence a eleição - o dito ou o não dito? O realizável ou o irrealizável? Estes parecem ser os dilemas que resolverão a eleição presidencial de 2014.
Nas eleições de 2012, o machismo, o patriarcado e o personalismo fizeram a maioria crer que Fernando Haddad fora eleito prefeito da cidade de São Paulo pela influência pessoal de Lula. Não foi. Apesar do apoio de Lula, apenas a entrada na campanha de Marta Suplicy garantiu os votos necessários. Marta S. – por barganha política em nome de um Ministério? – arregimentou os votos dos pós-modernos, dos gays, das feministas e outras categorias relacionadas a gênero que não tinham para onde ir, diante dos outros nomes “conservadores” que disputavam o pleito.
Nas eleições de 2014 o quadro não é tão diverso.

O melhor sintoma não é a votação expressiva de Bolsonaro, Feliciano entre outros, mas o impacto que teve na campanha de Marina Silva, em sua primeira versão de “Plano de Governo”, a questão gay com uma plataforma “nunca antes vista neste País”. Mais importante que o dito, foi o não dito. Com a retirada da pauta LGBTTs a candidata perdeu parte de sua credibilidade e de votos espalhados pelo Brasil. O discurso dito foi o da candidata evangélica que poria em risco o Estado laico. O não dito, a questão de gênero é um fator decisivo das eleições em detrimento do pensamento, discurso e práticas retrógradas de tantas igrejas em meio ao arcabouço machista que defendem.
Por outro lado, a Presidenta Dilma Rousseff e Aécio Neves tentam passar ao largo da questão, num tipo de postura subliminar que não fira ou atice os ânimos quer de progressistas ou retrógrados das questões e agendas de gênero. Todavia, entre um candidato e outro qual seria o mais palatável para o público pós-moderno, os gays, as feministas e outras categorias relacionadas a gênero que não têm para onde ir face aos “conservadorismos” da cena política em meio a uma coxia irrequieta e um público com o entusiasmo a flor da pele?
Algumas pistas já foram dadas.
Aécio em primeira aparição em público para o segundo turno fez a arte do patriarcado: bom pai, bom esposo e bom provedor – apesar de todos os comentários de sua vida pregressa nas noites e madrugadas cariocas? Mais uma vez o não dito é mais forte que o expresso? Ou seja, votem em Aécio que nada mudará na vida familiar: vida pública com foto de família de margarina e vida privada a “Providência dará”? Ou seja, tudo ficará no muro?

Dilma, surgiu sozinha para dispor-se ao segundo turno, como a vitoriosa que abriu mão do “protetor” Lula. Este uma espécie de padrinho e damo de honra das virtudes de divorciada que vive como uma viúva virtuosa e assexuada, em nome da competência pós-moderna da mulher poderosa e executiva. Todavia, as práticas de seu governo para as agendas progressistas de gênero não foram palatáveis a alguns de seus principais atores ou ao(a) cidadão(ã) comum.
Neste ponto, os trabalhistas parecem devedores do patriarcado machista e classista. Se sentem muito classe média após mais de uma década no governo e não arriscam em questões que vão para além da moral medíocre, digo mediana. E, por isto mesmo, abre espaço à direita que nada fará. Nada por nada, qual a razão de se apoiar a continuidade que pouco acrescentará? Não por acaso o lema da campanha dá a mão à palmatória e propõe um novo governo com novas ideias, algo do tipo medianamente conservador, ou seja, modernização conservadora - se transforma para permanecer o mesmo.
Quanto ao patriarcado, exigem da Presidenta a postura de assexuada e enquanto tal deve ficar longe daquela que seria sua redentora eleitoral, Marta Suplicy? Não precisaria que a ex- do ex-Senador (e por isto mesmo punida e execrada do Partido?)  – que não se comportou como assexuada, fazendo jus a sua biografia (idem?) – fizesse grandes discursos para ganhar a eleição. Bastaria aparecer em público dizendo do apoio urgente e necessário. Isto bastaria para que os progressistas entendessem e acorressem. Mas, como dizer isto a um partido que “nasceu e cresceu” de certa forma na sacristia da Teologia da Libertação e ganhou espaço com uma linha eleitoral baseada no voto religioso que despertou a Hidra Religiosa para o poder que tem de dizer, por exemplo, “Crente vota em crente”?
E, afinal, se apenas o apoio personalista de Lula em campanha não resolver o pleito e como último suspiro for recorrer ao legado de Marta Suplicy, num tipo de personalismos feminista, o que esta mereceria? A casa civil? Seria demais para uma mulher que faz questão de ser Mulher? Ou o mínimo para quem mesmo sem dizer quase nada, diz quase tudo?

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ebola, bioética e racismo no século XXI: a procura de cura para os brancos?

Wlaumir Souza

Historicamente, a maior parte das atrocidades cometidas na área médica foram/são direcionadas contra as pessoas que, genericamente, foram/são de denominadas de socialmente vulneráveis. Esta expressão, politicamente correta, oculta que o alvo fácil das pesquisas, da exclusão da profilaxia, diagnóstico e terapêutica são os sujeitos históricos que não se enquadram no estereótipo do dominante vencedor tradicional: homem, branco, heterossexual, mentalmente "competente" e economicamente privilegiado.
Assim, mulheres, negros, pobres e pessoas com algum nível de debilidade mental foram utilizadas das mais diferentes formas inescrupulosas para os avanços da área médica. O maior alarme soou com o Nazismo e seus campos de concentração com atividades de pesquisa denominadas médicas. Mas, não foi apenas no regime nazista que tais aventuras inescrupulosas ganharam asas. Nos EUA, por exemplo, de 1930 a 1970, tem-se o Caso Tuskegee, no Estado da Alabama. Neste caso, aproximadamente 400 pessoas negras foram deixadas sem tratamento de sífilis para se compreender a história natural da doença. Isto em uma época onde já te tinha tratamento comprovado e, sem que as pessoas envolvidas soubessem que participavam de um estudo. Assim, países denominados livres podem utilizar-se da ciência e da tecnologia sem levar em conta princípios éticos ou morais fundamentais a dignidade do ser humano com vista ao lucro científico.

Pior que isto, em meio ao processo histórico de legitimação do poder supranacional dos EUA na segurança e ordem do mundo, após a derrota dos nazistas e descobertas as atrocidades contra a humanidade, incluso as questões de saúde, foi publicado o Código de Nuremberg, no ano de 1947, pelo Tribunal Internacional, no afã de proteger as pessoas de/nas pesquisas médicas e demais procedimentos.
Todavia, o desafio não parou neste ponto. Anos depois, outros documentos históricos e fundamentais foram publicados na ampliação da concepção e alcance da bioética: Declaração de Helsinque, em 1964 e atualizada de tempos e em tempos; Informe Belmont, de 1978, entre outros instrumentos lapidares da ética na defesa da dignidade humana, animal e ambiental.
Porém, tudo isto não foi suficiente para por termo a exclusão profilática, diagnóstica e terapêutica ou a possíveis abusos em pesquisa ancoradas na exploração e dominação. O melhor exemplo para ilustrar isto é o vírus HIV e o Ebola, frutos das relações humanas com a natureza no século XX.
A pesquisa história do vírus HIV desenvolvida pelas Universidades de Osford e Leuven demonstraram que o mesmo surgiu no início do século XX, pelo uso de carne de chimpanzés, na região de Camarões e até a década de 1921, quando chegou à capital do Congo Belga, atual República Democrática do Congo, foi uma infecção regional. Depois disto, nos anos 1980 iniciou a ser diagnosticada nos EUA e tornou-se uma pandemia que já infectou mais de 75 milhões de pessoas. No momento que deixou de ser uma preocupação com negros e pobres africanos a ciência capitalista se envolveu com ardor na pesquisa de possível cura e/ou tratamento. A razão instrumental se fez sentir com sua força nos países livres.
No caso do Ebola, a situação histórica não é totalmente diferente. Foi identificado pela primeira vez no norte da República Democrática do Congo, em 1976, e foi contido pelo isolamento da população controlada pelo exército local e Organização Mundial de Saúde. Outros surtos se seguiram nos anos de 1995, 2003, 2007, 2012, e o maior número de pessoas envolvidas não ultrapassou a 220 doentes por surto, sendo todos restritos a área da África subsaariana. Todavia, aquilo que foram surtos com negros e pobres tornou-se epidemia e chegou à Europa e EUA. Hoje somam mais de 8000 pessoas que foram infectadas e mais de 3000 mortes.

Neste ponto, HIV e Ebola tem uma história em comum. Enquanto “surtos”, que dizimavam negros e pobres africanos, as medidas eram paliativas e os investimentos mínimos. Uma vez que adentra nos principais países capitalistas de população majoritariamente branca faz soar o alarme e novos fármacos iniciam o avanço para uma lacuna de experimentação, em especial na África.
Fica a questão, quantos documentos mais serão necessários para que a saúde enquanto profilática, diagnóstica, terapêutica não excluam os socialmente vulneráveis da sua dignidade humana e urgência no direito ao tratamento eficiente e eficaz? Quanto tempo ainda será necessário para que os surtos façam soar o alarme mesmo quando atinge "apenas" pessoas pobres, negras e mulheres? Parece que a lição ainda não foi aprendida apesar dos avanços documentais e quem mais uma vez pagará o preço será, no século XXI, a África transformada em laboratório a céu aberto para curar os brancos recém contaminados?







sábado, 2 de agosto de 2014

Educação e ética

Wlaumir Souza

                Escrever sobre educação e ética soa como eco para alguns iluminados. Todavia, a cada dia o desafio da explicitação dos valores na educação cresce. Se até a década de 1980, aproximadamente, a presença da esposa-mãe no lar se traduzia em um acompanhamento diuturno do que e como as crianças faziam e, portanto, se estava de acordo com os valores representados por aquela família, no terreno da moral; hoje, pelo contrário, a redução da renda do tradicional provedor – o pai;  e mesmo as famílias compostas por mãe e filho ou pai e filho entre tantas outras configurações de laços de sangue e de amor – obrigou o cônjuge ou parceiro a ingressar no mercado de trabalho para dar conta das demandas do lar.
                Isto posto, fez com a escola enfrentasse dois novos desafios. Primeiro, a democratização do acesso à escola. O que abriu as portas das salas de aula para crianças que não representavam o cotidiano burguês e seus valores. Segundo, mesmo a criança com valores burgueses não encontrava mais no lar a possibilidade educativa dos valores e regras como a geração anterior.

                Paulo Freire atento a estas questões demonstrou com sabedoria e conhecimento que não era mais possível à escola apenas ensinar os tradicionais conteúdos escolares, mas, que urgia à escola também educar e, assim, assumir mais um compromisso com a sociedade que ia para além da explicação de fórmulas, datas, elementos e passar a compor o cenário de tradutora dos valores aceitos pela sociedade.
Este feito é de uma complexidade sem precedentes. Outrora o educando chega a escola com valores morais razoavelmente acentuados e passa a discuti-los do ponto de vista ético com a comunidade educativa e educadora. Agora, não. A moral é perpassada pelos meios de comunicação, pela família, pela vizinhança e sobretudo por uma escola com parcos recursos humanos e materiais.

Se desejamos e aspiramos e trabalhamos por uma sociedade melhor, precisamos do implemento disciplinas de Ética e para além deste que o cotidiano escolar possa traduzir em ações os valores éticos assumidos pelo humanismo na busca da paz, da solidariedade à diversidade e a pluralidade. Sem isto, teremos cidadão cada vez mais atomizados e preocupados apenas com uma questão, a reprodução do capital para a própria subsistência o que equivale ao salve-se quem puder. E, nada mais imoral e antiético que isto.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O insulto como (por) elogio: postes e gratidão ou como o mandonismo sobrevive no Brasil.

Wlaumir Souza

                                                               A gratidão é um sentimento ancestral com laços na religiosidade e na política, com raízes profundas na cultura social e econômica, sendo típica das relações pessoais e privadas. Ser grato é uma das bases do mandonismo que vivemos na Terra Brasilis desde a Colônia e mantém Magalhães e Sarneys no poder... 
                                                               Leio aturdido, quase todos os dias nas redes sociais pessoas com grande notoriedade – inclusive intelectual – a alardear a importância da gratidão. Não notam a diferença entre gratidão e reconhecimento. A gratidão tem por séculos construído clientelas, apadrinhamentos e outras vertentes mais visíveis da corrupção. O ponto máximo nesta história de podre no Reino da Dinamarca foram os “religiosos” – em meio ao mensalão – serem gratos a Deus pelo espólio ilegal.


                                                               O esgarçamento da gratidão nas camadas mais populares tem se contra posto ao crescimento desta palavra nas frações de classe média. Também, esta se vê contra a parede face a uma população que tem despertado para o fato de que a gratidão é um dos móveis do imobilismo de classe, educacional e político. Diante das manifestações do “Não é só por R$0,20”, a camada média quer a gratidão, o beija mão e não o reconhecimento. O reconhecimento é público, profissional e em sua vertente mais pura seria impessoal.
                                                               A gratidão tem se arrastado pelo terreno do político e sua chama máxima tem sido a modernização conservadora desta via Partido dos Trabalhadores que pelo seu mandatário máximo – que se tornou personalista e o partido é apenas uma legenda como outras para suas decisões pessoais – fez eleger postes. Estes apareciam como a renovação e nada mais eram que dependentes pessoais. Eleitos postes pela ânsia da população de inovação, de reconhecimento de novas competências que nada mais eram que apadrinhados, em alguns casos, vazios.
                                                               Passado quase dois anos destes postes, a população os rejeitam – e isto vale da Presidência à vereança. Os desgastes são múltiplos: alinharam-se ao que tem de mais retrógrado em questão de moral e costumes, mas querem ser os modernos libertadores. Bandeiras tradicionais foram encapadas para facilitar o financiamento de tudo e todos. A resposta vem pela queda na aprovação dos governos e a possibilidade cada vez mais tangível da oposição se fazer eleger.


                                                               A população não quer mais gratidão. Quer reconhecimento. Reconhecimento de direitos e competências. Postes inúteis que reverberam em favor da inflação; dos costumes ultrapassados defendidos por religiosos ignaros do poder da história – inclusive em seu discurso caquético. A população sabe que a ingratidão é feita a cada mandato: algo igual ao que fizeram as velhas elites e que as novas parecem não se diferir.
                                                               Triste escolha a deste ano: entre a gratidão confessa e a dependência manifesta. Afinal, a gratidão pura e simples reconhece a ausência de méritos próprios e na dependência da gratidão vão de roldão todos os valores republicanos e democráticos em favor do familismo.


                                                               Para ser explicito: ficamos entre o mensalão que supera o familismo ou o tucanato com tradição familiar que perverte a República em linhagens que se pretendem ideologicamente profissionais?


sábado, 14 de junho de 2014

Abertura da Copa e o machismo, racismo e elitismo: Dilma vai tomar...

Wlaumir Souza
A abertura da copa lembrou o fato de quando a situação ouve mais a oposição que seus aliados e neste plano apóia mais a derrota que a vitória do projeto de origem do Partido. E, pior, isto em um país onde o governo federal controla uma bancada de aliados, da primeira e da última hora, capaz de promover uma reforma na Constituição Federal.
                Quando Lula e o Partido dos Trabalhadores e aliados escolheram a vertente de coalizão com o projeto FIFA de Copa do Mundo e o das Olimpíadas – como mecanismos para incrementar obras de infra-estrutura, em especial as viárias e turísticas, e mais que isto, fazer a empregabilidade crescer apesar dos transtornos da economia nacional e internacional, – não esperavam que este alvo histórico na trajetória do PT no governo federal pudesse ser uma das alavancas das oposições.

                No governo federal, o PT passou de partido que defendia e viabilizava a democracia participativa a ser o que todos os demais eram; partidos de representação eleitoral bem ao modo criticado por Marx e denunciado pelos anarquistas como a realidade de todos que se dizem de esquerda, mas querem o poder de Estado. A guinada do Partido dos Trabalhadores – que alguns já apelidaram de Partido dos Traidores – não é nova e nada inovadora em questão de teoria ou de prática.
E, para compor tal bancada no Congresso e viabilizar a realização do projeto Copa do Mundo e Olimpíadas aliaram-se os trabalhistas, desde o primeiro governo Lula e de forma ainda mais lapidar para eleger Dilma R., com forças retrógradas do País que não só foram oponentes históricos da agenda partidária de origem do PT como são, até o presente, negadores de viabilizar tais processos que transformariam os rumos políticos, sociais e culturais do Brasil.
Estes aliados de última hora seguem o conselho antigo: seja amigo de seu inimigo para controlá-lo. O preço a pagar foi sacrificar as prendas históricas das classes médias: o fim crescente do vestibular pelo ENEN, as cotas, as “bolsas”. E, o PT por sua vez colocou na pira do sacrifício alguns de seus aliados históricos desde a primeira hora ou quase isto: feministas, gays e reformas estruturais. Assim, paulatinamente, o PT, fecunda os germes de sua própria destruição eleitoral.

Dando tiro no próprio pé, o PT do governo Dilma, mas não só este, abandonou a questão de gênero em nome de uma bancada retrógrada. O maior sinal disto é o Plano Nacional de Educação (PNE) que atendeu as demandas religiosas contra o que denominam, equivocadamente, mas proposital do ponto de vista do marketing, “ideologia de gênero” e das etnias.
Neste ponto unem-se a trajetória das escolhas partidárias com a abertura da Copa. Esta evidenciou as mazelas do percurso em favor do machismo - inclusive de fundo religioso - do classismo e do elitismo. Ouviram demais as críticas e economizaram onde não poderiam: na festa e na educação a partir dos princípios norteadores da educação nacional na defesa de uma educação evolucionista, racional, diversa e plural na questão de gênero e de etnias e de classes. A ovação inversa que sofreu a presidenta demonstrou na platéia o que se via na arena do partido: machismo, racismo e elitismo “abençoado por Deus”.
De outro modo, enquanto Angelina Jolie em meio a uma organização mundial faz uma ofensiva ao machismo, ao racismo e ao elitismo que viabiliza estupros com impunidade garantida pela cultura, a Presidenta e seu partido e aliados virando as costas aos seus aliados históricos e não fazendo a transformação cultural que poderiam realizar, via educação formal pelo PNE, ouviram o que, no dia a dia, ouvem mulheres, gays, negros e outros diversos dos modos mais plurais e sintetizados na frase: Dilma vai tomar...


Dilma vai tomar... foi um clamor machista pelo estupro coletivo da presidenta em arena de esportes, ou seja, enquanto diversão masculina acompanhada pelo apoio da massa branca que se sente, devido as cotas, as bolsas e outras estratégias de "divisão" de renda aturdida; quer sejam homens ou mulheres. Nesta demonstração de poder retrógrado seus oponentes são seus aliados e o que se viu na abertura é apenas uma amostra grátis do que a Presidenta finge não ver no cotidiano de gays e mulheres e negros em favor de uma aliança espúria que sacrifica o laico e o secular como lições histórias de um poder democrático e republicano. Não por acaso, a presidenta já goza de um apelido entre parte dos militantes de gênero suprapartidário – Dilmá. 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Copa do Mundo no Brasil: Não vai ter copa, cozinha, almoço, jantar, segurança, mobilidade, saúde, educação...

Wlaumir Souza
“Não vai ter copa” é a expressão mais forte do “Movimento não é só por R$0,20”, que em alguns dias passará a ser “Não vai ter Olimpíada” e que ecoará por muito tempo em nossos ouvidos e livros.
“Não vai ter copa” é um símbolo da realidade dos Brasis. Um “grito de guerra” convocando para o despertar diante do fato de que enquanto um grupo restrito se regozija, esbanja e se esbalda em meio aos quitutes dos boleiros, o outro Brasil se manifesta pelo investimento precário em educação, saúde, mobilidade, moradia, segurança, salários dignos em meio ao País que é a sétima economia do globo e fraco na distribuição de renda.

Não por acaso as elites e as classes médias (reais e não aquelas propagandeadas pela campanha político-partidária de nova classe média que é uma camada do proletariado devidamente endividada com o crédito fácil e quase irresponsável que mantém o crescimento interno de modo um tanto quanto artificial) odeiam os programas de distribuição de renda, pois lhes nega o privilégio enquanto “elite local” de explorar, dominar e excluir ao bel prazer da insensibilidade para com os mais pobres – com a meritória(?) exceção da caridade que alivia as consciências e nada muda nas estruturas sociais deixando o dominador com aura de benfeitor e não apenas de feitor de fazenda ou de curral eleitoral ou de apadrinhados dos dominantes.
“Não vai ter copa” expressa que esta se realizará de fato, mas, antes, que não ocorrerá como de costume: com quase todos cantando o hino “vamos todos, pra frente Brasil”. Ou seja, assim como os senhores de escravos dormiam atônitos com a possibilidade do levante da senzala na madrugada que a todos os brancos livres poderia matar, nos nossos dias a “senzala”, todos os tipos de dominados e excluídos, manda lembrança via manifestação social e diz que não se desfrutará da ideologia do brasileiro bonzinho, cordial e outros adjetivos fabricados por uma elite que inculca a submissão como padrão sem que haja resistência pública ao modelo hegemônico.

Copa haverá, mas, não mais como dantes no País da bola com a favela calada e os anarquistas nas algemas do regime do capital (des)humano. À insensibilidade dos dominantes se somará os gritos – contidos pela repressão via monopólio legítimo da violência(?) pelo Estado – nas praças, nas avenidas e onde for possível dizer além da copa a população deseja cozinha, almoço, jantar, segurança, mobilidade, saúde, educação... Desnudando um governo que se propôs como de esquerda e que para todos os lados se enreda com os partidos e elites mais tradicionais e, em alguns casos, mais suspeitos da República Democrática. As denúncias abundarão com a idílica esperança de haja liberdade de expressão na mídia nacional e internacional sem o controle dos interesses transnacionais da FIFA  ou dos anunciantes e patrocinadores.

“Não vai ter copa”, por outro lado, ao aliciar parte da burguesia liberal é uma clara denúncia de que esta acabou com o protecionismo local aos direitos dos abusos dos nacionais contra a sua própria nação e a todos colocou como sujeitos da espoliação internacional em nome de um dos eventos mais lucrativos para os de fora e a revelia da elite verde amarela e do próprio Estado que o isentou de impostos.

 Boa copa a tod@s quer seja com quitutes ou com gritos que vença a democracia e a justiça com gols de um placar há muito equivocado.
Imagina na Olimpíada!!!

domingo, 25 de maio de 2014

X-men: dias de um futuro esquecido - a sociedade cosmopolita da paz perpétua


Wlaumir Souza
Tempo e espaço são determinantes inexoráveis da existência humana e enquanto tal da história e da geografia que vivemos e construímos cotidianamente? Esta parece ser a questão fundamental do filme X-men: dias de um futuro esquecido.  Paralelo a este tema, segue a temática comum a todos os filmes da série: o direito a diferença, ao singular, a diversidade, a pluralidade humano/existencial.

Note-se que o velho embate entre o socialmente correto e o incorreto, ou o binário – quase eterno – do bem e do mal faz parte de todas as tramas de modo a evidenciar que humanos mutantes ou humanos sapiens não são neste quesito, como qualquer outro animal racional do planeta, como preferiria classificar Aristóteles, diferentes. Todos são passíveis de algum tipo de morte, todos têm desejos e aspirações, sonhos e amores e frustrações, desafios e aprendizagens e assim ad infinitum  nas características de ser e estar no mundo dos humanos. Para fechar este emblema da filmografia todos os episódios têm final feliz para a Humanidade. Interessante notar que neste quesito quase tudo que foi produzido pela humanidade na arte tange pelo mesmo rio ao entrar e sair das águas, exceto os Gregos com suas tragédias e alguns poucos ilustres da humanidade, para alívio de Heráclito e pesadelo de Parmênides.
Um silêncio, enquanto censura, se faz presente entre humanos sapiens e os mutantes: em nenhum dos episódios o amor entre iguais: dois "homens" ou duas "mulheres". A questão de gênero é petrificada nesta variedade mutante e sapiens da sétima arte. Um erro pueril visto que a demanda é pelo humano universal do planeta, sem tirar nem opor qualquer cizânia. E, este, possivelmente o maior limite desta série visto que o horror que descrevem face ao outro é mais vista no que diz respeito à mulher, ao negro e depois aos homossexuais em seu multicor de possibilidades sexuais e de sexualidades. Assim, não por acaso, Wolverini é o personagem principal – símbolo da masculinidade que tudo resiste e a tudo supera. O estoico face as mais dilacerantes experiências da carne e da mente. O negro é outro ser  quase esquecido – há uma exceção – mas, grosso modo, é mantido enquanto metáfora barata do mal travestida de controle do bem na busca de conter o obscuro mal.

Nesta série sobre o bem e o mau o pano de fundo são os Direitos dos humanos ou melhor os direitos Humanos que servem a todos e em qualquer lugar no tempo após a sua declaração e sob qualquer circunstância e para qualquer humano mesmo que tenha negado para outrem esta dimensão. Em suma, a questão dos universais nos valores. Deste prisma, enquanto Batman sofreu uma mutação ética, visto ser o braço armado das elites onde o bem e o mal estão cristalizados; nos X-men, pelo contrário, é enfatizado o dever ético contra todas as perspectivas de extinção. Assim, a ética do dever tão cara a I. Kant sobrevive nos mutantes como retorno do futuro corrigindo o passado, quase uma situação de TOC – da qual Kant era uma vítima(?).
A ética do dever encontra seus opositores sistemáticos em nome da ordem, e não por acaso um anão. O anão representa várias metáforas: demonstrando que nenhum argumento, por menor que seja, pode ser desprezado. O menor pensamento, encontrando o tempo e o espaço adequado podem se tornar monstros criados pela razão e que se tornam maior que ela e que o humano. O anão, Doutor Bolívar Trask – metáfora da inquisição que sobrevive em moralistas, retrógrados, reacionários de todos os naipes (dos religiosos aos comunistas passando pelos capitalistas) – demonstra o quanto os saberes podem reconstruir práticas antigas de perseguição e execução em massa em motes hodiernos defendidos em nome do “bem comum”.
No que tange ao tempo – recurso explícito da trama  - o uso da imagem do rio com as ondas tenta demonstrar que o curso do destino está traçado mesmo que possa ser abalado momentaneamente. Ou seja, “o destino, o futuro e tudo” é determinado por uma corrente democratiana (o ser é) onde o devir (Heráclito) é apenas aparente ou momentâneo demais para ser considerado no curso da história, digo, do rio.
Os atores da história estariam determinados pelas estruturas sociais das quais nada poderiam fazer para serem de fato sujeitos da história? Esse o papel de Logan demonstrar que ao “super-homem” tudo é possível, inclusive superar a tragédia do destino em meio a angústia da possibilidade de ser livre. Ou, em outros termos, e num outro ponto, a busca da cosmopolita comunidade humana poderá se tornar um fato diante de grandes atores que superam os determinantes sociais, históricos, geográficos, biológicos, para constituir a “paz perpétua”. Ao leitor e cinéfilo atento deixo o convite para a reflexão.

Portanto,  “Dias de um futuro esquecido” não remete apenas às memórias únicas de Logan e Charles Xavier, o professor X. Antes, o futuro ao qual a Europa estaria destinada e que agora tem nos EUA seu principal representante: a paz é possível para todos os humanos e disto não se pode esquecer em momento algum da história, embora os oponentes desta diversidade possam dela fazer questão de defender como caos da humanidade “verdadeira”. OU, pior, os que defendem  a "paz cosmopolita" não perceberem que sacrificariam o que seria o melhor de todos, justamente todos numa sociedade cosmopolita e de paz.
O futuro esquecido é aquele planejado no passado e não vivido como a possibilidade que era. Ou, numa frase popularizada: o futuro já não é mais como era antes e cabe aos super-homens reconduzi-los ao destino “correto”: à “paz perpétua cosmopolita” Norte Americana. E, numa forma clichê – a criança e o velho em que te tornastes se orgulharia do “adolescente” que foras?