segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A Bastilha manda lembranças? Rolezinhos não são arrastões.

              Wlaumir Souza.     
Os rolezinhos são parte de um contexto mais amplo de questionamento da inserção subalterna – nas relações internacionais, na política, na cidadania, no mercado – quer no Brasil ou em outros países classificados no mundo contemporâneo de terceiro mundo ou subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. É a periferia dos capitalismos clamando ao centro do sistema econômico e político e cultural por igualdade sem deixar de ser o mesmo. Sem perda da identidade, sem serem colonizados pelos costumes elitizados de ser e estar, desejam o direito dos usos do mercado em benefício próprio. Assim, se a sociedade capitalista num primeiro momento tinha como demanda o consumo e, nos dias atuais, tem como demanda o desejo artificialmente criado, nada mais capitalista que mobilizar-se nos templos dos desejos por mais.

Bem ao modo brasileiro de ser – superando as divisões de classe mas fora do tempo e do espaço próprios determinados pelos detentores dos poderes – a manifestação é de tudo um pouco; parte de um movimento social ainda informe na totalidade de seus projetos; namoro; compras; protesto; organização política informal; festa; dança; canto; gritaria; alienação. Todavia, ampliou a agenda das demandas e modos de manifestação e seu lócus.
O “Movimento não é só por R$0,20” que foi cooptado pelos mais diferentes interesses e classes começa a passar pelos expurgos dos dominantes insatisfeitos com o partido detentor do poder. Agora o mercado, e não apenas o Estado a serviço do mercado é questionado, é questionado e se canta e grita e corre por inclusão via mercado, ou seja, a cidadania via mercado  que tanto agrada as classes médias é demandada pelas novas classes médias que diante da inflação crescente percebem que seus avanços podem ser temporários. Mais efêmeros do que o “O milagre econômico brasileiro da ditadura militar”.
Como desejam a manutenção da identidade via consumo de mercado regido por um partido que foi de esquerda e que se consolida no poder como partido “social de mercado”, não se deixam colonizar pelos modus vivendi da etiqueta de classe média. Neste ponto, os rolezinhos assustam aos cidadãos privilegiados historicamente como classe média, pois estes não o distinguem do arrastão, da turba ou das lembranças da Bastilha que bate a porta todos dias quer via Maranhão ou Carandiru ou arrastões.
                                                 

O recado está dado desde o “Não é só por R$0,20”. A pólvora está sendo espalhada em nome da cidadania plena sem perda de identidade via mercado. Que os políticos respondam com a assertiva de democracia sem desvios de conduta ética e econômica para que todos possam ter o que o desejo de mercado lhes prometeu sem colonização das mentes e comportamentos. O consumo de direitos de felicidade de bem estar movimentados pelo mercado social. O rolezinho é primo irmão da ostentação. Ostentação dissonante não é questão de polícia, como não o é as questões sociais e culturais; é questão de mercado e políticas de Estado, de governo, sociais e, agora, também, de mercado inclusivo do bem estar do consumo ostentatório de coisas, locais e tudo o mais que possa ser mercantilizado em meio ao capitalismo do espetáculo. 
Wlaumir Souza.