sábado, 22 de fevereiro de 2014

Manifestantes, vândalos e outras cidadanias no Brasil ou o “orçamento” participativo negado.

              Wlaumir Souza.              
           A Constituição cidadã tem, em sua origem, como um de seus vértices o acento na participação popular como forma cabal de negar o período da Ditadura Militar no Brasil. De 1988 até hoje, o Leviatã que poderia ser controlado pelo “participacionismo” – onde a questão orçamentária seria apenas um dos pontos privilegiados como modo de se alçar vôos cada vez maiores na cidadania plena – vê se cada vez mais próximo das sentenças do Príncipe de Maquiavel em meio ao Espírito das Leis. Uma mescla típica da Terra Brasílis onde em tudo se misturando de moderno e contemporâneo muito se mantém de tradicional. Todavia, desafiando este tradicionalismo modernizador avesso ao contemporâneo explícito – este quase um palavrão ouvido pelas pessoas recatadas das primeiras décadas de 1900 – os odiernos manifestantes, vândalos e outros cidadãos se levantam forçando o progresso passar à frente da ordem.



                Em meio a esta mescla típica da Terra Brasílis, vemos de tudo um pouco, mas mais do moderno do que do contemporâneo, onde o “Príncipe”, o “Leviatã” e o “espírito das leis” se chafurdam no Novíssimo Regime Democrático. Assim vemos dois Lulas e FFHH. O segundo solicitou que esquecessem o que produziu como acadêmico em nome da política partidária administrativa; o primeiro, contrariamente ao que todos acreditavam revelou que o partido ao qual pertence nunca foi marxista. Nada mais estrela que um tucano e nada mais tucano que uma estrela no modus operandi da política nacional?
                De outra perspectiva, enquanto os trabalhistas defendiam acaloradamente o orçamento participativo tendo como vitrine o governo de Porto Alegre; de modo menos entusiasta mas seguindo a toada em ritmo de classe média os social-democratas vinham logo atrás tateando entre a ação e as reticências. Em comum no tempo presente, abandonaram o “participativo” e se locupletaram no temor do progresso passar adiante da ordem.
                Assim, o medo venceu a esperança, não nas bases sociais dos partidos, das igrejas, dos sindicatos e outros modos organizados ou não de participação. Mas, antes no “Príncipe” – ou seria “Princesa” – que vê de modo saudosista o “Leviatã” mas não o confessa diante do “espírito das leis”. Mas fica claro pelos silêncios e pela tentativa de construir normas que diminuam a participação em praça pública.
Nada mais temerário que o discurso da ordem pela paz social sem distribuição de renda e sem participação pública do cidadão compartilhado em diferentes tons de cinza pela esquerda e pela direita que assinam em uníssono o que os anarquistas já alardeavam como escândalo do poder: se há governo, se é contra; ou, em forma mais lapidar quem assume o governo passa de esquerda a simpatizante com as ideias vermelhas, mas, como dono do poder, preservá-lo é a regra, e, simpatia política é afago e não realização de cidadania plena.




Venceu o Estado, venceu o mercado? O povo clama na praça que não!!! Apesar da dispersão realizada hoje (22/02/2014) com mais policiais que manifestantes ficando os sussurros do progresso que não se contentam com as ordens dos “príncipes” e dizem com todas as letras – A primavera virá! Sem definir ou saber qual estação realmente esta será.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Big Brother Brasil – BBB – ou a pesquisa de opinião plim plim.

Wlaumir Souza.
A cada ano vêem-se mais pessoas postando contra o BBB nas redes sociais. Por outro lado, o programa segue com audiência significativa e participação suficiente de público votante, e pagante por consagrar os que ficam até o final, a ponto de o lucro ser infinitamente maior que os gastos. Isto sem contar os anúncios comerciais.
BBB é lucro certo nas terras do Brasil e está na décima quarta edição. Mais que o lucro imediato, a Rede Globo tem como alvo a pesquisa de opinião a domicílio por amostragem dividida em macrorregiões e microrregiões onde o investigado paga a conta da demanda e do programa. Melhor impossível.
A seleção das personalidades – não no sentido de pessoa notável, mas, muito antes, de estereótipos e tipos – que viabilizem entender os desejos de consumo no mundo do entretenimento, da política, dos costumes, da moral, da convivência, da fantasia, do espetáculo e da balburdia.
Assim como as principais belezas das estrelas Hollywoodianas são resultados de números geometricamente testados ao longo da propaganda e do marketing, o BBB possibilita pensar como serão as tramas de novelas, minisséries e programas os mais diversos para a sociedade do espetáculo bem ao gosto do cliente e dos financiadores do sistema brasileiro que querem lucro certo.

Os estereótipos de sucesso – da cor da pele ao tipo de musculatura e de cabelo; d@ bo@-moç@ ou da vilania; da traição ou fidelidade; da pobreza ou da ostentação; do gay ou do hétero ou do discreto ou do explícito; tudo colabora para dizer a cada votação como poderia ser o entretenimento televisivo e comercial para melhor se atingir o público consumidor.
Psicólogos, sociólogos, historiadores e outros profissionais de ponta, trabalham nos bastidores do Plim Plim ou de agências conexas – ou mesmo de modo autônomo – a partir dos dados de cada votação em favor ou contra determinado comportamento, fala ou postura, para produzir mercadorias materiais e imateriais que alcancem os desejos mais íntimos.
Assim, num misto de TV com mídias sociais, onde todos se sentem livres de controles ao mesmo tempo que parte de uma tribo unida pelo voto pago nos candidatos vencedores, paga-se a conta da pesquisa de mercado editorial do espetáculo com visibilidade do emitente. Para além disto, garante-se material suficiente para se planejar um ano de TV com público garantido.

Os personagens da TV, assim, passam a se inspirar no BBB. Se @s vilões(ãs)  são os mais votados, se @s mocinh@s, se os loiros ou morenos ou negros... tudo isto conta para se garantir o lucro do espetáculo que de gratuito não tem nada.