Wlaumir Souza
Na longa
história do Brasil o Golpe Militar, de 1964, é um dos episódios do mandonismo que
graça, de diferentes modos, mesmo pós cinquenta anos de luta pelo retorno do
Estado Democrático de Direito. Neste contexto, a República da Espada, a
República Oligárquica, o Governo de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar seriam
as faces mais visíveis do mandonismo que se traveste ora de oligarquia, depois de autoritarismo,
outrora de ditadura e, na história do momento presente, por certos atores denominados de democratas(?) conservadores e que estão de prontidão na perseguição incansável da liberdade do mundo
virtual.
Estes
democratas conservadores são de todas as idades, níveis escolarares – incluso gente
com doutorado e livre-docência – e profissões. Grassam livremente pelos mais
diferentes círculos sociais, econômicos, culturais e políticos; não raro chegam
a dizer que são de esquerda. E, agora, uma vez que não podem garantir a ordem
apenas pela imposição da autocensura da mídia – que silencia sobre determinados
assuntos e temas por vontade própria via controle de patrocinadores e/ou
partidos e/ou partidários, igrejas e religiões entre tantas outras “forças
ocultas” – voltam-se para o controle
social pessoa a pessoa via redes sociais.
Assistimos a
construção de batalhões de militantes virtuais – e o naipe político tanto faz –
onde o controle do número de curtidas – para mais ou para menos – e compartilhamentos passaram a ser a nova
obsessão dos censores de plantão. Paralelamente este batalhão de militantes virtuais conseguem fazer girar o País em um dia um boato falso ou que omite algo a mais. Os mensalões são apenas um exemplo desta
participação social artificial, mas, não a única. A # mais curtida passou a ser
o sonho ou o pesadelo de muitos. Afinal, o cidadão pode ser caseiro, e mesmo “domesticado”,
e não sair às ruas, mas o mundo virtual demonstra como as coisas vão mentes e
relacionamentos e intenções a fora.
Assim, não
poucos têm ouvido como um anátema, quase como uma “letra escarlate” “Você
curtiu e compartilhou” ou pior “Você publicou” na rede. Durkheim vibraria se
estivesse vivo ao ver o quanto o fato social ainda é vigente nas terras
democráticas tupiniquins – e não apenas por aqui – sobretudo no que diz respeito
a coerção social – informal e, em breve, formal com o aparato legal que se
constrói para o “bem do cidadão”. Neste ponto a aprovação de legislação própria
para internet fortalece a visão de fato social contra teorias mais hodiernas.
O filhotismo,
o apadrinhamento, o coronelismo, a perseguição, o abuso, enfim, o mandonismo em
suas mais diferentes manifestações e vertentes entrou na era virtual para
manter o mundo real tal e qual aspirado pelos conservadores amantes dos mandonismos.
Curtir,
compartilhar ou publicar passou a ser um risco social, político e mesmo de empregabilidade. Pior.
Dependendo do caso, a turba virtual se alvoroça clamando por “justiça com as mãos do patrão” numa
histeria semelhante àquela que o ritual da inquisição em meio a cruz e a
fogueira fazia o povo entrar em catarse coletiva confirmando os valores
sagrados do humano esgarçado.
A escolha
pública pelo linchamento moral, profissional, quase um exílio do mundo real e
virtual, e, não pela via educativa ou do retratar-se em público - ou mesmo a judicialização da questão e com ela a tipificação que consolida o fato social, - demonstra o
quanto nos falta a noção, mesmo durkheimiana, de que o poder da coerção
material cederia espaço para as simbólicas ou repositoras dos danos. Durkeim se
chocaria com o fato de que somos mais mecânicos do que ele poderia imaginar, quase um século depois de sua morte. Durkheim, talvez se suicidasse em anomia completa
diante do virtual capaz de reviver o linchamento público como ápice da
civilização científica numa inspiração coletiva do pior que foi a Inquisição - espanhola - a gestapo ou a KGB, todas numa aparência de bom-moço a la Obama, por exemplo e não único, nos tempos cibernéticos.