sábado, 22 de novembro de 2014

Corruptos trópicos ou a mediocridade por mérito?

Wlaumir Souza
A maior realidade das eleições de 2014 não foi a corrupção banalizada pelos meios de comunicação de massa ou pelas mídias sociais e judiciário, polícia federal e promotoria idem. Foi o quanto somos uma sociedade medíocre, digo, uma classe média, mediana no que diz respeito a compreensão da realidade política do País e para além dele.
Embevecidos num dualismo simplista e maniqueísta que faria a Idade Média iluminada pelos holofotes da razão brasilis – do senso comum à universalidade, digo, universidade. Para todos os lados, da esquerda à direita, com raras exceções dos que desejavam um centro deslocado pela elipse do sistema partidário, se viu um ataque pueril e estéril de que o outro é corrupto, corruptor, conivente e ditador. Para os PSDBs o outro são os Petralhas. Para os PTs o outro são os Tucanalhas. Numa linguagem vulgar, mas com efeito publicitário imediato, muito se falou e atacou e denunciou o outro sem que a Justiça se arriscasse a dançar com qualquer um dos convivas com um dos olhos fechados sequer.

Passadas as eleições o maniqueísmo eleitoral dos cidadãos, que ignora a tradição mais forte e longeva da história do poder no País – o adesismo a posse do poder de Estado (isto mesmo bem ao estilo patrimonialista com arrepios à sociedade de classes que demanda por participação e representações outras) – se depara com um PSDB e um PT que até aqui só fizeram ampliar as contas de contribuintes ao Senhor Estado – água, juros, gasolina, energia e outras “maldades” que estão no por vir.
Falta sair do egocentrismo político “adulto” que vê o outro como bandido nato e inato e a si mesmo como o supra-sumo do bagaço da honestidade e da reputação ilibada e enxergar a realidade que anjo e demônio todos os partidos têm e outros seres também. Mais que isto, se desejamos uma democracia avançada precisamos de uma Justiça que supere, sobretudo no STF, o fato de ser um local de apadrinhados, digo, eleitos políticos e que passem a fazer o que poucos fizeram neste país e onde o caso máximo da regra é o do Juiz que se pressupõe ser Deus e vence na carteirada ou no corporativismo patrimonialista dos doutores.
Entramos num abismo de postagens de pessoas e instituições onde apenas o outro é culpado e quase nada se vê de uma análise que demonstre o quanto nossas instituições estão carcomidas, de um lado e de outro, desde as frases celebres de Machado de Assis e Rui Barbosa, entre outros, sobre a situação do País e do Estado e dos políticos. Precisamos criticar os dois ou mais lados e buscar a condenação de quem quer que seja por comprovada culpa.
Urge-se postagens múltiplas que desmascare as facetas de PTs e PSDBs e que se clame por decência na coisa pública e no modo de administrá-la, e não só nesta, mas, também, nas instituições privadas. Necessitamos que se veja o ataque do neoliberal sobre o Petróleo que foca na Petrobrás como meio para se garantir lucros infindos a iniciativa privada em troca da “honestidade e competência” da administração privada. A mesma administração privada que corrompe em nome do sucesso das empreiteiras e que deixa na espera pacientes de planos de saúde ou telefone mudos no século XXI.


Carecemos de mais, neste país, que postagens sistemáticas apenas contra o outro, necessitamos de uma crítica radical que coloque os corruptos de ambos e de todos os lados onde eles merecem estar: numa jaula de ferro e condenados a pobreza e não apenas a devolução de parte do que subverteu do público. "Sinceridade" premiada não é sinônimo de honestidade. A semana se encerrou, talvez, com a maior verdade dita num arremedo de defesa – tipo aquela dos nazistas que apenas obedeciam ordens – pelo advogado: para todos os locais públicos há corrupção, da incorporadora bilionária ao prestador de serviços pagos em RPA. (?)
Corruptos trópicos... a mediocridade meritocrática do crime contra a coisa pública e em favor do privado lhe serve de coroa? Assim, fica ação dialética - a coisa pública corrompe o privado e o privado corrompe a coisa pública? O último dos honestos, por favor, acenda a luz!