Primeiro os
cristãos foram perseguidos e dizimados. Depois, os cristãos passaram a
perseguir e dizimar. Hoje, os cristãos perseguem e são perseguidos. E, em
vários momentos, estes naipes se mesclaram.
Se, Jesus
Cristo foi imolado devido a sua maturidade moral face aos interesses comezinhos
de seus contemporâneos, e por propor o direito à terra ao povo ao qual
pertencia, sinto informar, isto não mudou muito daqueles tempos para o natal de
hoje.
Pelo
contrário.
Enquanto gente
como nós – que vive num país em paz, com acesso a rede básica sanitária e
educacional, com trabalho e moradia, com livre direito de exercer ou não a
religião – somos, aproximadamente, 1/4 da população mundial, outros tantos
passam fome, sede, frio e terror.
Nós, os
herdeiros de Jesus, temos muito que aprender com o que sobre ele escreveram
enquanto relatos de vida. Para se ter uma idéia. Basta lembrar que tão logo
cristãos deixaram de ser perseguidos, passaram a organizar o Estado para
perseguir e dizimar os “oponentes de Jesus”. E, depois, na Idade Média,
organizaram a sociedade, bem como, depois, o Estado Moderno, para perseguir os
próprios cristãos que não se adequavam à norma em construção como ortodoxa. Em
meio a este furor da fé, cristãos de diferentes nacionalidades se dizimavam
mutuamente. Todos devidamente abençoados pelo mesmo Deus e pela mesma Igreja.
Chegados ao
século XX, a ancestral luta para libertar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos
se travestiu em meio a discurso capitalista onde democracia e consumo de
petróleo de mesclam sem que definamos exatamente o que é a estrutura ou o
estruturante do discurso e da prática genocida do outro não cristão.
Assim, em meio
a discursos laicos de igualdade, diversidade e pluralidade, talvez, dentro de
alguns séculos, olhem para nós e percebam o quanto as lutas religiosas eram
permanentes em pleno século XXI e, mais que isto, que a política como
determinante ocultava a forma de influência determinante do Deus vencedor.
Pior que isto,
que nas sombras das disputas de poder religioso a imolação de corpos humanos,
tal quais tantas culturas realizaram em um passado não tão longínquo assim, ainda
era moda entre nós via banho de sangue de cristãos, muçulmanos, entre outros.
Mais que isto, que a morte de Jesus era revivida numa epopéia de mártires sem
fim em nome da paz. Quiçá um dia não nos matemos mais e tal qual a cena de
museu cause horror o passado que nos pertence como presente.
Feliz Natal da
Esperança de um dia não nos matarmos mais.
Wlaumir
Souza