A homoafetidade fez e faz parte da história
dos animais racionais e irracionais; numa apropriação da definição de Aristóteles.
Assim, a homoafetidade faz parte do que se tendeu a chamar de natural e, mais
que isto, do conceituado como sócio-histórico-cultural.
Marco na
transformação sócio-histórico-cultural no que tange a homoafetidade foi o ano
de 342 d.C. quando Imperadores cristãos emitiram o Código de Teodósio proibindo
o casamentos entre pessoas do mesmo sexo, em Roma. Os que infligissem a lei
seriam executados.
Sendo crime
o casamento, o ato passou a ser realizado num jogo de velar e desvelar; de
manifestar-se e ocultar-se. Desde então a homoafetidade tendeu mais para a
homossexualidade realizada entre o medo e o prazer.
Num continuum histórico de mais
recuos que avanços dos direitos do amor entre iguais – onde não poucos foram os
mártires da causa homoafetiva -, em 1966, Frank Sinatra lançou o álbum Strangers in the niggt. Foi sucesso.
Todavia, o cantor não esperava, e não aceitou, que a música de mesmo nome se
transformasse no Hino Gay Norte-Americano. A expressão da época fora que odiara
ter gravado a canção que se notabilizou por evidenciar – entre o invisível e o dizível
– as tramas do direito ao amor homossexual nas noites ocidentais.
Neste ambiente, e não por acaso, no
ano 1969, a 28 de junho, em um dos principais bares gays dos EUA, Stonewall, em
Nova York, os frequentadores reagiram à blitz policial. Foi a primeira reação
contra os abusos a população gay que se viu restrita a guetos neste continuum
histórico de exclusão, pecado e culpabilidade.
No ano seguinte, ocorreu a primeira
parada gay da história com milhares de pessoas se manifestando em Los Angeles,
Nova York e S. Francisco para que o dizível encontra-se em praça pública o
visível.
Frank Sinatra não estava só no seu
preconceito e discriminação de gays. Uma vergonha diante do fato de que, na
Europa, a Suécia legalizara a homossexualidade desde 1944. Com isto
fortalecia-se o contra fluxo às proibições e exclusões homoafetivas e homossexuais.
Mais que isto, a Europa, da qual
migraram tantos seres humanos em busca da “terra da liberdade”, avançou muito
antes dos EUA nos direitos homossexuais: a Noruega cunhou lei para combater a
discriminação sexual, em 1981; a Dinamarca foi o primeiro país a legalizar a
união civil entre pessoas do mesmo sexo, em 1989.
Todavia, o desejo da comunidade gay
não era apenas a sanção do Estado a algo que sempre existiu, o amor e sexo
entre iguais. Para, além disso, o desejo era que a construção histórica
realizada pelo Estado e Igreja e que se transformou em consciência coletiva, em
pensamento de massa, se decompusesse em favor do pensamento e afetivade pela
diversidade das afetividades.
Foi o que ocorreu no referendo sobre
o casamento gay na Irlanda, no dia 22 de maio de 2015. Um avanço para a
humanidade e ao direito de amar. A resistência milenar aos abusos do Estado e
da Igreja na construção da ilegitimidade das relações entre pessoas do mesmo
sexo parece chegar ao fim por consenso democrático pela liberdade,igualdade e
fraternidade.
E, mais uma vez, e não por acaso, a
música se transforma em hino gay. Agora não para ficar no jogo entre o
mostrar-se e o ocultar-se, mas, antes, para comemorar. Foi o que fez Bono Vox
ao dedicar a canção Pride (In the
name of love) a vitória do casamento igualitário na Irlanda em show realizado
no dia 23 de maio no Arizona – EUA.
Para encerrar cito Anatole France: “É
impossível determinar se uma doutrina hoje funesta nos seus primeiros efeitos
não será amanhã amplamente bem faceja. Todas as ideias sobre as quais a
sociedade repousa foram subversivas antes de serem tutelares.”
Vivas para o amor em todas as formas
e todas as etnias!