quinta-feira, 30 de julho de 2015

Justiceiros?


@ justiceir@ parte da ideia de que é capaz de fazer justiça tomando para a si a capacidade de decidir o que é justo, moral, injusto, imoral, criminoso ou ilícito em conformidade ao senso comum palatável a cada cultura em seu tempo e espaço em detrimento da função do Estado; considera que as instituições não são capazes de realizar a justiça com o mesmo rigor e urgência. Tomado pelo sentimento de injustiça toma para si a ação que seria do Estado e, à margem da lei, portanto, incorre em crime. Partem, @s justiceir@s para fazer justiça com as próprias mãos quer sejam civis ou representantes do Estado.
Fortalece-se o fenômeno do justiceiro na medida em que o Estado não reprime tais ações, por seus meios legítimos e legais, com eficiência e eficácia. É fenômeno que reflete a ineficiência ou ausência do Estado e, mais que isto, uma certa conivência silenciosa com o statu quo social, mesmo que ilegal, de fazer justiça com as próprias mãos da turba pouco educada – uma cumplicidade baseada em valores sociais que não são legitimados pela ordem legal e dos Direitos Humanos.
O Brasil tem assistido ao crescimento desta ação em diferentes campos sociais face a quase inoperância do Estado.
Do ponto de vista religioso a quebra ou desfiguração de imagens católicas, em praças públicas ou templos que são invadidos, tem a mesma raiz e tem se tornado rotina e tem sido ignorada a sua importância social enquanto deslegitimação do patrimônio histórico cultural e artístico do cristianismo católico em favor de outras visões religioas em franca expansão em número de votos e ausência de ecumenismo ou tolerância religiosa, nem escreverei sobre aceitação religiosa. Não é preciso evocar que se aproximam, tais ações, do justiçamento realizado pelo Estado Islâmico que destrói imagens históricas milenares em nome da religião enquanto instrumento político de controle e exploração. São, na realidade, uma vergonha para o islã.

Na mesma linha de conduta de justiceiro, Kailane Campos, com 11 anos de idade e iniciada no candomblé, foi alvo, no dia 14 de julho de 2015, de cristãos, numa denominação genérica de evangélicos, que denigriram e insultaram a jovem e a avó dela, a mãe de Santo Káthia Marinho. Segundo esta “O que chamou a atenção foi que eles começaram a levantar a Bíblia e a chamar todo mundo de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’" e, assim, com a Bíblia em uma mão e uma pedra na outra fizeram da menina alvo de “apedrejamento” em praça pública. O caso foi registrado como lesão corporal, provocada por pedrada, preconceito de raça, cor, etnia ou religião. Na prática assumiram o papel de justiceiros ao ressuscitar o apedrejamento bíblico, uma demonstração de questionamento da ordem do Estado Laico na firme certeza de que ficariam impunes. Afinal, no Brasil o crime de racismo não alcança os brancos sempre condenados por injúria racial, fazendo-se assim, cúmplice com a letra morta via judiciário.
O arcebispo do Rio de Janeiro atento ao que ocorre na sociedade  - e com sua Igreja em particular – e as repostas (ou seria a ausência desta) dadas pelo Estado aos crimes de depredação de imagens religiosas católicas, somou sua voz a de Kailane Campos e Káthia Marinho.
Em um outro vértice da mesma questão, no dia 6 de julho de 2015, foi espancado até a morte Cleidenilson Pereira Silva, em São Luís, no Maranhão, após tentativa de assalto. E, não é caso isolado no Maranhã ou no Brasil. É de se notar que o linchamento atingiu com vigor o “suspeito” negro e poupou a vida do indiciado “branco”.
A impunidade dos justiceiros é garantia de repetição em meio a uma população entre cúmplice e algoz, quando não vítima. Mais que isto, a fala contra os Direitos Humanos de tantos “ilustres” da mídia, neste campo minado de direitos, com redução da idade penal aplaudida por parte significativa da sociedade, faz surgir candidatos aos executivos municipais, eleição de 2016, onde este caráter justiceiro – uma releitura do caçador de marajás, só que voltando a ira secular das injustiças sociais e judiciais, agora, para os mais pobres – passa a ser tônica simbólica. Não por acaso nomes como Datena e Russomano, além de militares e delegados, vêm à baila com “notoriedade”.
 Ou, para além disto, nas manifestações contrárias ao governo federal de Dilma Roussef palavras de ordem pela ditadura – o que é crime – alardeiam-se ao calor do dia com a cumplicidade das autoridades que refletem o pensamento mais que secular de que política social é questão de política e não de política pública.
Tristes tempos onde o Estado é quase de exceção, onde a ausência da eficácia do direito suspende o Estado de Direito, e parte da população vibra com isto – diante da exploração que são submetidos vingam-se dos andares de baixo. Isto demonstra a nossa fragilidade enquanto nação democrática de direito.







domingo, 12 de julho de 2015

Cristiano Araújo na voz de Zeca Camargo: a questão da “crítica da arte”

Quanto Immanuel Kant (1724-1804) abordou a questão da estética e o papel do artista afirmou que o gênio artístico é original e exemplar, ou seja, é o formador de novas regras na arte que produz a tal ponto que se torna exemplo a ser observado pelos demais artistas da área em questão. Este o traço das contribuições originais. Cristiano Araújo passaria por esta peneira?
Pela peneira de Kant, possivelmente, passaria Aleijadinho, Oscar Niemayer, Machado de Assis, Heitor Villa-Lobos, Elis Regina, e alguns outros. Bem poucos outros!?
Zeca Camargo não errou ao analisar a produção artística de Cristiano Araújo. Equivocou-se no tempo que o fez. Não analisou a comoção popular como elemento do show business, da lucratividade da indústria cultural que pouco ou quase nada quer com o gênio ao estilo definido por Kant por propiciar pensamento e sentimentos livres e autônomos que podem tirar o povo da massa consumista.
Cristiano Araújo é fruto de seu tempo e espaço. Conhecido “nacionalmente” estava num terreno entre a cultura popular e a mídia de massa; num ponto onde o sucesso está marcado pela lógica do lucro e pela da exposição visceral. Onde o músico é produto temporário, mas, no emergir tem força suficiente para movimentar milhões pelas massas que o consomem no formato de shows, CDs e DVDs, conteúdo de jornais, revistas, sites, etc. Assim, e não por acaso, uma de suas maiores defesas foram a cifras que movimentou no país enquanto vivo e, para o lucro do espetáculo sua morte renderia ainda mais pela comoção que se ameniza pela via do consumo das “últimas lembranças”.
Zeca Camargo ao buscar fazer uma autocrítica, no sentido de viabilizar uma análise do meio do qual é fruto, a mídia de massa com sua lucratividade pela “arte” produzida em massa e quase unitemática – o alienante amor burguês individual e individualista que faz do outro objeto e não sujeito do amor, onde o “caipira enlatado em moldes semi-norteamericanos é o ápice da “sofrência” egoística – terminou por expor o quanto o público da mídia de massa é limitada pelo próprio meio que a (des)educou e vista diante do espelho ignaro se recuou a olhar o espelho o narciso Zeca se refletia.


O choque não poderia ser menor para um público colocado diante de uma crítica feita magistralmente pela Escola de Frankfurt. O trauma comovente uniu as massas, as mídias para a inquisição midiática do crítico que se rendeu penitente e pediu desculpas diante do fato, já assinalado pelo kant – que possivelmente poderia ter inspirado um Zeca Camargo crítico – a razão cria monstros que a própria razão desconhece!