Não nos
enganemos. O capitalismo é um sistema de crises e as atuais crises política,
econômica, elétrica e hídrica, entre outras, cumprem o papel fundamental do
sistema de concentrar capital ou extrair capital do cidadão consumidor e
trabalhador.
Uma das frases
mais citadas nos últimos noticiários tem sido que ocorre investimento das
grandes fortunas privadas “apesar da crise”. Não é apesar da crise e sim devido
a crise. A crise gera as oportunidades de investimentos com alto retorno devido
ao baixo índice de empregabilidade que possibilita menores salários e menos
direitos sociais. Maiores vantagens em acordos com o Estado, como isenções e
financiamentos a maior prazo e com menores juros, existência de capital a ser
aplicado por investidores sedentos por lucros imediatos, entre outros fatores
que favorecem o capital privado e esgarça o sistema de proteção social, de
direitos trabalhistas.
Exemplo típico
deste “apesar da crise” é o 11 de setembro dos EUA. Enquanto muitos choravam
seus mortos, outros tantos a perda do emprego, muitos mais temiam os impactos
da “doutrina do medo” ancorada no terrorismo; alguns poucos planejavam e
efetuavam lucros multibilionários com a previsão da ascensão do mercado de
armas, ouro e petróleo. Assim, em frações de minutos algumas economias
evaporaram e fortunas se consolidaram.
O cassino do
capital não para; mudam os jogadores e até os edifícios que sediam os jogos,
mas, a febre alucinada por mais lucro não cessa. Isto o que ocorre agora com o
Brasil. Após anos de avanços sociais, políticos e econômicos chegou a hora do
grande capital apresentar a fatura e recolher os lucros vendendo ações,
clamando por redução de custos e ampliação da idade de aposentadoria sem
maiores ganhos monetários para mantê-los ativos no mercado. Até a família vê
ceder seus direitos com a redução da parte a ser paga ao pensionista. Nada fica
de fora do lucro, da concentração de renda.
Neste ponto a
crise política no Brasil cumpre o papel de reduzir direitos sociais e trabalhistas,
entre outros, da seguridade social, em nome da empregabilidade, da redução do
custo Brasil, em outros termos, em nome da ampliação da extração do lucro do
trabalho assalariado para maior competividade no planeta em condições
semelhantes aos dos piores países socialmente falando.
As crises
hídrica e elétrica retiram do cidadão comum parte fundamental de seu salário e
com isto subsidia as grandes empresas que podem fazer acordos para manter-se no
Estado ou no município com redução de
custos. E, com isto, “apesar da crise” não se expande o direito ou se incentiva
a produção de energia solar nas residências pois retiraria o consumidor do
papel passivo de ficar sem recursos e colocaria como agente do mercado e
ampliador de seu renda, ou seja, inverteria o papel da crise que é concentrar o
capital e ampliar a exploração.
A crise
política por sua vez escamoteia o sentido das ações políticas ao grande público
tentando ocultar o poder das engrenagens econômicas no comando da política que
é financiada pelas grandes fortunas durante a campanha e, por vezes, mesmo
depois. Neste ponto, nota máxima, a manifestação da FIESP e FIRJAN pelo fim da “crise
política” ao lado de uma das maiores redes de comunicação conclamando pela
governabilidade de Dilma acenam para o fato máximo: os objetivos imediatos de
ampliação dos mecanismos de lucro e controle social foram atingidos cabendo ao
Estado retornar ao ponto de ampliação da produtividade e consumo.
Todavia, nesta
equação só não se contava com um aspecto surpreendente, a desvalorização da
moeda chinesa. Um susto que pode tornar a crise espetáculo em crise de fato,
mas, no ponto final, “apesar da crise” a crise para quem? Para o cidadão
consumidor e trabalhadores que vive o choro e o ranger de dentes; aos donos do
capital, apenas a rotina do cassino.