quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Dr. Valter De Paula (1943-2016): uma vida dedicada à aprendizagem

Foi uma HONRA trabalhar, conhecer e conviver com D. Valter de Paula no Centro Universitário Barão de Mauá. Mesmo escrevendo honra com negrito, itálico e sublinhado ainda é insuficiente para dizer as qualidades deste ser humano nos esforços pela qualidade das relações humanas no ambiente de trabalho e pessoal.
Dr. Wlater era amigo de todos e todas. Sempre tinha uma palavra amiga, um conselho profissional ou um estímulo para se avançar no processo de ensino-aprendiagem, da dodiscência que tão bem analisa Paulo Freire.
Atento a todos e todas, as necessidades de professores, alunos e funcionários não media esforços para fazer do Centro Universitário Barão de Mauá, nos 40 anos que se dedicou a instituição, para fazer dela um reflexo, no presente, dos ideais defendidos por seus fundadores, em especial o Spinelli: um espaço democrático, mesmo diante de tantos autoritários; um espaço diverso, ainda que em face de tantos que gostariam de negar a essência da Universidade, no caso de Centro Universitário, um universo de diversidades de etnia, de gênero, de classes e de ideias e práticas.
Era mais que um administrador, era um cientista do cotidiano que fazia do sonho quase impossível uma possiblidade real.

Lembro-me do sorriso sempre afável com que ele nos recebia para atender, mais do que para ouvir, as demandas do cotidiano e do futuro da instituição. Em meio a estas memórias quero lembrar uma especial: a institucionalização do Grupo de Estudos e Pesquisas e Metodologia da Oralidade (NEPMO) pelo Centro Universitário Barão de Mauá.
Tivemos uma conversa informal, no corredor da instituição de ensino e pesquisa Barão de Mauá, sobre o meu desejo de formalizar o grupo, que já funcionava há uns dois anos, no curso de História, como extensão gratuita aos alunos e alunas de todos os cursos.
Dois meses depois ele me chamou à sua sala e me entregou o certificado de institucionalização do NEPMO e disse-me trabalhe tranquilo e continue estimulando nossos alunos a seguirem novos e mais belos projetos ao longo de suas vidas.
Assim era ele. Um patrocinador do ideal da aprendizagem. Por mais que esvreva será insuficiente para dizer a HONRA, a ALEGRIA  de ter podido conviver e ter sido um de seus alunos.
Não foi apenas, nós, os amigos e colegas de trabalho do Centro Universitáiro, além de seus maravilhosos filhos, que perdemos esta pessoa maravilhosa, foi a educação de Ribeirão Preto e do Brasil que se despede de um homem expetacular.
Ficam os ideais, as palavras e ações que tanto contribuíram para o avanço da aprendizagem plural de tendência universalista que tanto defendeu.
Siga paz!

OBRIGADO! OBRIGADO! OBRIGADO! 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Donald Trump: Cada nação tem o Temer que merece

Uma das características do neoliberalismo é a polarização social. Neste quesito Brasil e EUA estão igualados pelas últimas eleições presidenciais. Tanto em um como em outro País o neoliberalismo conseguiu recriar o medo da insuficiência de recursos para todos da nação. Não que isto tenha desaparecido do planeta que produz mais do que suficiente para não haver fome e miséria, mas, se acentuou a diferença e a distância entre as camadas sociais.
O Estado de liberalismo neoclássico que intervinha e tinha no Estado um dos produtores de classe média entra em declínio e, pior que isto, a ideia de redistribuição de renda via serviços públicos passa a ser propalado não como investimento, mas, antes e, sobretudo, como gasto. Neste ponto resta a classe média a desesperação do desamparo uma vez que, sobretudo no Brasil, os salários são insuficientes para a manutenção da posição de camada intermediária no mercado de trabalho privado.
Neste ponto a metáfora da barata e do inseticida ganha força e aterroriza os brasileiros que aspiram ser brazileiros.

A ascensão de Temer ao poder por meio de “golpe jurídico-parlamentar” legitimada pelas massas que aspiram aos píncaros do consumo, mais do que a cidadania, que saíram às ruas e militaram pela internet - característica esta que é compatível com o neoliberalismo que não precisa da democracia para reproduzir-se e, sim, da liberdade suprema do capital aos limites impostos pelo Estado defensor de sua nação. – é a outra face da moeda da eleição de Donald Tramp. Enquanto na Terra Brasilis a baixa qualidade da democracia permite o uso de instituições formais para retirar presidenta legitimamente sufragada; nos EUA, a eleição a eleição legítima tende a ser respeitada pelo congresso e judiciário.
Note bem, isto não quer dizer que Trump poderá fazer tudo o que reverberou durante a campanha. Em geral, um é o candidato e outro o administrador. Some-se a isto o fato de que o presidente eleito não detém o apoio amplo do partido pelo qual se candidatou. Mas, no Brasil isto causou furor nas redes sociais. As camadas médias foram pegas de surpresa, afinal, faria com elas Tramp o que faz Temer com as camadas abaixo das medianas?
E, assim, a metáfora da barata e do chinelo ganha outra conotação. Agora ameaçadora.
Para aqueles que não conhecem as “piadas” das baratas, vamos a elas. Se chinelo fosse partido a barata votaria nele. A barata festejando a invenção do inseticida.
Claro a barata é sempre uma camada abaixo. O problema é quando o inseticida ou chinelo está camadas acima.

Adeus  lúgubre 2016. Que venha 2017 com novas possibilidades.

domingo, 4 de setembro de 2016

Tempos TEMERários

Assisti admirado o avançar do processo de impedimento da Presidenta Dilma Rousseff. Não tanto pelas acusações de pedaladas – fato recorrente na política brasileira e agora legalizado pelo sistema – mas, pelo modo como ficou claro a baixa qualidade de nossa democracia. Mais que isto, o quanto está posto, em pleno século XXI, as condições para aplicação e expansão do pensamento autoritário em nome do vil metal.
A igualdade tornou-se um insulto propalado em alto e bom som por uma parcela significativa da direita que quer ter o direito de voltar a dizer piadas racistas, como se não lhes bastasse as piadas homofobias, misóginas e xenófobas, entre outros quilates de preconceitos e discriminaçõess como esteio da exploração econômica e marginalização social.
Vi espantado o desfecho do impedimento. A plataforma básica é a ampliação da subjugação do povo com a exploração máxima, ao ponto de restar apenas o bagaço humano sugado pelas engrenagens capitalistas de usurpação da dignidade da pessoa humana. Aposentadoria por volta dos setenta anos nos iguala a condição de escravizados libertos pela lei do sexagenário. Para quase nada adiantava para a massa de escravizados negros e mesmo para os septuagenários pobres que nasceram formalmente livres nos séculos que vivemos será algo quase inatingível - o direito de retorno de seu trabalho feito pelo bem do País.
Pior que isto, para sustentar a pirâmide dos privilégios dos altos postos do Estado e de empréstimos com incentivos fiscais e crédito subsidiado aos capitalistas cortará direitos sociais que por esta paragem chegou há menos de duas décadas. Pouco o povo desfrutou do fato irrefutável de que a maior riqueza de uma nação é seu povo e logo será jogado à indigência de políticas famélicas, tão tradicionais na Terra Brasilis, ao gosto dos autoritários de que naipa político seja da América Latina.
Vivo desolado com o triste fato de sobeviver a ponto de passar por tempos temerários onde o direito pode tornar-se uma exceção, concedida aos partidários, aos burocratas e aos financiadores do último golpe parlamentar que ainda não se assumiu com tal. Ainda vivemos sob uma democracia formal que aos poucos vê apagar as chamas da igualdade, da liberdade e da hipótese da fraternidade.


Vemos um golpe que se revela aos poucos, insinuando-se qual sedução vista em sinais sóbrios, porém soturnos. A maior marca de Caim pode ser vista avultar-se logo após o fechamento do ciclo iniciado em 17 de abril: as prerrogativas de advogados sendo pisoteada pelas botas de diferentes modos: apanhando no meio-fio; impossibilitado de se comunicar com as vítimas presas em manifestações contra o presidente;  detido em nome da ordem. Trieste tempo onde a OAB sente na própria pele as dores de ter aderido a nova ordem por meio do apoio ao impedimento parlamentar formalmente estabelecido.
Assim, vejamos, quanto tempo será gestado para que, como na Ditadura, se escancare a realidade com frese semelhante a do Ministro do Trabalho e da Previdência Social Jarbas Passarinho, na reunião, em dezembro de 1968, que aprovava o AI-5: "Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim e a todos os membros desse Conselho, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples, mas me parece que claramente é esta que está diante de nós. [...] Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”.
Até mesmo o pensamento autoritário precisa de uma preparação para ser implementado. Entre nós o ponto de partida seria o slogan espalhado pelo Brasil a fora “Não pense em crise. Trabalhe”? Síntese de um projeto ao qual interessa corpos trabalhadores, escravizados e sem a interferência do Estado no mercado via leis trabalhistas, e com mentes vazias de ideias e ideais democrático-sociais viabilizados pela educação formal, visto que esta seria controlada pela “Escola sem partido” que seria a de partido único, a do opressor-explorador-dominador pautada pela patrulha ideológica do básico ao universitário?

Apesar do dia triste que foi o do impedimento... a democracia vencerá os tempos de temerários e a chama da justiça será vista brilhando nos luzeiros das estrelas como esperança se concretizar nos mais triviais dos dias aos de mais temor.

sábado, 18 de junho de 2016

O Brasil de ‘Temer”: da ditabranda para a ditadura?

A música “Brasil” de Cazuza, da década de 1980, dizia “Brasil, mostra a tua cara /Quero ver quem paga /Pra gente ficar assim /Brasil /Qual é o teu negócio? /O nome do teu sócio /Confia em mim”.
17 de junho de 2016, dois meses depois do início do processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff, e décadas depois da música de Cazuza, vemos ao vivo, em cores e em rede nacional o desfile de nomes e siglas partidárias, de ontem e de hoje, sufragados para nos representar, mas que na realidade nos aliena e faz a “gente ficar assim”: terceiro mundo, serviços públicos precários, endividados, presente falido, aposentadoria capenga para a iniciativa privada e polpuda remuneração da aposentadoria para algumas das carreiras e funcionários do Estado, e com o futuro comprometido; pasmados diante do caos do Estado tornado patrimônio privado em proveito de caciques políticos e empreiteiras com lucros comparáveis ao grande capital internacional – que os indígenas nos perdoem pelo termo.
O desfilar de nomes e siglas partidárias, envolvidas em denúncias e crimes contra a cidadania, não é fenômeno novo e nem estranho à República no Brasil, e muito menos a história que a antecedeu. Mas, não deixa de ser original o fato de que no tempo presente conhecemos a gramática e a hierarquia do patrimonialismo, traduzido no cotidiano como corrupção e, como ironia histórica histriônica, dado à luz por determinação legal sancionada e patrocinada pela presidenta afastada pelo ritual do impedimento, Dilma Rousseff, na Lei 12.850/2013.
Embora houvesse legislação pretérita quanto a delação foi a Lei 12.850/2013 que possibilitou avanços sem precedentes, como podemos ver a olhos nus pela atuação do Juiz Sérgio Moro – ainda que questionado e questionável em alguns de seus procedimentos – e que tem levado para a punição exemplar pela perda da liberdade – ainda que em prisão domiciliar – alguns dos principais nomes da política e do empresariado nacionais. É um feito sem precedentes, assim com o foi o contexto que possibilitou este processo histórico.
As manifestações do início do ano de 2013, e que se notabilizaram em junho, tinham por marco inicial as péssimas condições do serviço público em geral e, em particular, de transporte coletivo em face do preço e do aumento das passagens diante do baixo rendimento salarial da população. Num crescendo alocou interesses outros e tornou-se num caudaloso movimento contra tudo que tem oprimido de modo atávico a nação, em especial, o patrimonialismo, o partidarismo de elite, como pano de frente a um movimento que tinha como estofo o antipetismo, ou melhor, o direito a uma democracia com conquistas sociais face a uma classe média que descobria, aturdida, sua realidade diante da ascensão dos mais pobres: a classe média também faz parte da pobreza face ao grau de exploração a que é submetida mesmo com títulos e relações preciosas.
Como tentativa de esvaziar o discurso explícito das manifestações, a pouca transparência do Estado e impunidade dos corruptos e ladrões endinheirados da nação e do Estado que inviabilizavam serviços públicos de qualidade, viu-se a presidenta e todo o aparato republicano impelido à lei mais abrangente e severa que pudesse dar satisfação à nação; o que resultou na Lei 12.850/2013.


Se num primeiro ponto respondia pela ânsia histórica por um Estado democrático de fato e não só de direito, por outro deu combustível para a já combalida República administrada pelo Partido dos Trabalhadores, devido ao Mensalão, ao que se somou o Petrolão. Assim, o discurso implícito ganhou força, o de retirada do PT do controle do poder de Estado. Neste ambiente beligerante entre as elites e com o aporte legitimador do judiciário, que fazia cada vez mais baixas no Partido dos Trabalhadores e aliados que veio num crescendo os autoritários com seu discurso anti ganhos sociais em nome de certa estabilidade econômica, ou seja, o tradicional direito da classe média em explorar os de baixo da pirâmide posta em risco pelos avanços sociais, num primeiro momento, e agora carcomido pela crise econômica-política.
Pouco afeitos a democracia eleitoral, sobretudo a democracia social, os autoritários tiveram munição suficiente para realizar as maiores manifestações vistas no Brasil desde as que pediam o impedimento de Fernando Collor, mas bem aos moldes da histórica Marcha da Família com Deus que estendeu de março a junho de 1964. Neste país que não é para amadores, é interessante notar como os autoritários instrumentalizaram um meio legítimo de participação democrática para trabalhar contra a democracia. O efeito foi o terceiro turno realizado no domingo dia 17 de abril de 2017 e que marca o início de transformações profundas no Brasil.
O afastamento da presidenta eleita com Michel Temer no exercício da presidência pode ser comparado ao primeiro episódio histórico que levou ao golpe de 1964, o parlamentarismo. Assim, estaríamos diante da ditabranda realizada com aportes democráticos para se legitimar, mas com objetivos antidemocráticos de fato?
A ditabranda, ou soft power, tem por missão criar uma nova hegemonia a ponto de legitimar os novos atores no poder. Todavia, isto seria possível apenas revertendo a Lei 12.850/2013 e com isto limitando o poder da Lava jato de modo mais imediato. Como denunciado por Sérgio Machado os planos visavam conseguir isto até 2018 com uma nova Constituinte. Ou seja, há um projeto em curso em meio aos parlamentares de médio prazo.
O sinais da ditabranda são sensíveis: formação de um ministério patriarcal, secretaria das mulheres com uma secretária anti-feminista, “defesa da mulher bela, recatada e do lar”, fim do Ministério que defendia Mulheres, Negros e LGBTT, desocupação de prédios públicos sem mandato, prisão de professor que realizava aula pública, prisão do primeiro jornalista no exercício da função no Brasil, Rio Grande do Sul, Matheus Chaparini, em 34 anos; tentativa de controle dos meios de comunicação social, tipo “Zap-zap”, decretar a “falência econômica do Estado” via Estado de calamidade, e a lista pode ser ampliada.
Neste ponto, resta saber se, diante da impossibilidade social de se parar a Lava jato que já anuncia a probabilidade de se chegar ao presidente interino, se utilizar-se-á mais uma vez o hard power, a ditadura como resposta para legitimar o poder estabelecido em nome da extração máxima do lucro diante de uma elite pouco afeita à democracia e seus rituais e diante de um Estado que se diz falido. Ou seja, os fins justificariam os meios?
No hard Power decretar a falência econômica do Estado é meio para se legitimar toda ação possível para a extração do lucro. Neste assunto chegamos ao ponto de partida, as manifestações de julho de 2013 – que já demonstravam o esgarçamento da capacidade do povo de pagar taxas, tributos e outros elementos mais para se manter as prática que por séculos sustentam os usos patrimoniais do Estado. E, mais que isto, notamos um projeto bem elaborado, onde o discurso oculto é mais forte e importante que o explícito.



sábado, 28 de maio de 2016

"Temer" para nada mudar


O Brasil é um fato das contradições históricas mais gritantes no mundo contemporâneo. Não por acaso que tantos teóricos ao analisarem as transformações no/do País utilizam-se de termos como “modernização conservadora” ou “mudar para permanecer o mesmo”. E, mais uma vez, seria isto que assistimos diante do fato do processo político-social que conduziu a aceitação do processo de impedimento da Presidenta Dilma Rousseff e ao governo (interino?) de Michel Temer?
Nestes termos o que parecia ser o emergir de uma nova era na relação dos cidadãos com os políticos e seus partidos, ou da cidadania ativa e suprapartidária para o bem comum revelou-se como farsa conduzida em coalizão nos bastidores pelas forças tradicionais do País, (segundo acusação de site notório de notícias): PMDB, PSDB, DEM e Solidariedade.– num Brasil que viu seu povo ser manipulado ao longo dos séculos pelas elites econômicas e políticas, com raras e meritórias exceções como as conquistas dos direitos trabalhistas, a Constituição Cidadã, de 1988, e alguns programas do governo federal, em especial, durante o governo federal do PT.
PMDB, PSDB, DEM e Solidariedade teriam utilizado a máquina partidária para apoiar o Movimento Brasil Livre (MBL), em princípio, com lanches, panfletos e transporte. Ou seja, neste ponto, igualaram-se ao que denunciavam do PT, no processo de resistência e mobilização da militância contra o impedimento de Dilma Rousseff.
Mais que isto, os áudios de conversas entre Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, com o presidente José Sarney, PMDB, Romero Jucá, PMDB, e Renan Calheiros, PMDD, demonstraram a possibilidade da organização das elites do partido para que o impedimento da presidenta fosse feito em nome da tomada do poder como meio de se garantir o tradicional salvo-conduto dos políticos do Brasil diante da Justiça, em especial da Operação Lava jato.
Assim, teríamos o tradicional movimento de nossas elites pela modernização conservadora onde se muda para continuar a mesma em séculos de patrimonialismo. O povo – ainda que constituído na maioria pelas camadas médias e dominantes – na praça pública que pareceu ser o empoderamento dos cidadãos, via redes sociais, revelou-se um teatro de fantoches onde a vítima maior é o cidadão comum, que foi às ruas ou não.

Afinal, que reformas virão da caneta do neoliberal Temer, apoiado por políticos que tinham como meta desmontar as investigações na Lava Jato, visto que o PT “permitia” o avanço de Moro mesmo cortando sistematicamente na própria carne? A isto os apoiadores de Temer, envolvidos na denúncia via conversas gravadas e vazadas na mídia, denominavam ausência de solidariedade da presidenta para com seus partidários? E, qual seria o “negócio do Aécio” que todos sabem e que faria com que ele fosse o “primeiro a ser comido”?
O bem do Brasil não seria o bem das elites partidárias, segundo a “nuvem de fumaça da honestidade” dita em praça pública pelo impedimento da presidenta e negada pela indicação de ministros suspeitos, e mesmo em investigação, e agora acuados por gravações vazadas?

As novas tecnologias da informação, que tanto competem pela legitimidade da informação com a grande e tradicional mídia de algumas poucas famílias no Brasil, também serviram no caso do MBL (e será que nos demais também?) apenas para viabilizar no Brasil mais do mesmo? Um novo golpe, só que desta vez civil-parlamentar e não mais civil-militar? Os mesmos atores unidos nos dois golpes: igrejas, OAB, a grande mídia, FIESP e associadas? Vitória do capital contra os direitos do cidadão comum com a manutenção dos privilégios dos funcionários do Estado? Desta forma, podemos ver melhor o “negócio do impeachment” e seus atores e estruturas lendo em fontes internacionais, visto que os nacionais manipulam em demasia as informações e análises com o poder do editor?

terça-feira, 29 de março de 2016

As ideias fora da realidade ou a corrupção e fraude na excelência do impeachment

A tradição lusa relegou como herança ao contemporâneo algumas das características que tornaram o Brasil, Brasil: educação metafísica e patriarcado.
A primeira tornou-nos um povo dado a teorias, princípios em abstrato, a teses desencarnadas do plano do real, do material. Importa muito mais as “belas ideias” que suas possibilidades práticas, discursos efêmeros com poucas práticas eficientes e eficazes. O amor à teoria de belas explanações e possibilidades infinitas de um paraíso irrefletido nas práticas.
A segunda herança fez com que em nome dos ideais fossemos capazes de nos lançar aos mais algozes poderes do pai, do chefe, do branco, do homem, do heterossexual, do capital. Diante deste poder inconteste do patriarca e de seus desejos nos submetemos a ordem idealizada de família hierarquizada para sobreviver em meio a uma realidade múltipla e em devir majoritária no plano real e minoritária no plano das ideias; e aos negócios escusos do chefe em nome da ordem. Cativos do senhor de escravos o empresariado do grande capital tornou-se donos dos corpos e das mentes no lar e para além dele, nos remetemos a ideias e ideais que apenas amenizam nossas dores cotidianas de explorados e expropriados via legal e por corrupção.
Este o ponto onde o passado encontra o presente ou o futuro com o passado no atual embate entre liberais (PSDB, DEM entre outros) e os que tentam ser socialdemocratas (PT e outros mais) aflora a corrupção com listas que parecem metralhadora giratória que põe a nú a realidade da corrupção tornada rotina burocrática, como o fora o extermínio nazista da Segunda Grande Guerra.
Os fatos que nos cercam demonstram que somos uma “democracia colonial”, em uma linha interpretativa tradicional, poderia ser designada de teoria da dependência de FHC. Neste campo, entre o patriarca dono de escravos – empregados sem direitos trabalhistas, sem segurança no emprego ou condições dignas de trabalho em meio a precarização crescente e a dependência do favor da família para manter-se – e o líder partidário do século XXI, vemos renascer o coronel truculento nas práticas legislativas e no judiciário e o patrão que quer controlar o voto de seus “apaniguados”, como se isto não fosse suficiente, em meio aos aplausos dos que defendem a “liberdade” em via pública.
Mas, por livre, leia-se e entenda-se liberalismo pós-neoliberal econômico temperado pelo sentimento patriarcal colonial escravocrata, ou seja, redução de direitos sociais e civis onde as primeiras vítimas serão os pobres, as mulheres, os negros, os homossexuais e tantos outros capazes de exercer a liberdade social para além da econômica – enquanto liberdade face ao destino dos costumes. Assim, os que defendem a liberdade na praça pública nada mais querem que o retorno do antigo privilégio de serem os únicos atendidos por recursos do Estado a juros ínfimos enquanto ao povo nada caberia se não o trabalho.
Nesta sopa de ideias e ideologias vemos o quanto as ideias estão fora do plano real. O discurso de combate a corrupção visa apenas a ampliação dos lucros da iniciativa privada, em especial do grande capital, sobretudo daquela alijada pelos atuais “donos do Estado” questionados em sua legitimidade de poder. A meta é apossar-se dos recursos do Estado para outro grupo, aquele fora do poder de Estado, com outra concepção de Estado e Sociedade, mesmo que o preço seja o golpe contra democracia legítima via judiciário como esteio de evidências legitimadas.
No mesmo plano, a fala de Lula de que o combate a corrupção – até aqui limitada quase exclusivamente ao PT e aliados, onde a lista com mais de duzentos nomes ocultada pelo sigilo de processo é apenas meio para se por sob suspeita, ainda maior, a impessoalidade da aplicação da lei – seria a responsável pela crise econômica não reconhece dois fatos, em nome das ideias que controlam as mentes e corações. A paralisia econômica deve-se a nossa dependência do mercado internacional, em crise desde 2008 – crise que colocou fim ao neoliberalismo, mas o que se inaugurou ainda não se configurou de forma explícita em termos de doutrina econômica – e isto consolidaria a teoria da dependência de FHC –  que seria a única política-econômica que nos caberia.

Outro elemento explicativo da crise não é a investigação da corrupção, mas a crise da rotina da corrupção. A corrupção vista como fato social, no Brasil, quer dos políticos ou das iniciativas privadas indo do grande ao pequeno capital em conformidade ao poder político que a circunda, demonstrou-se uma prática suprapartidária que coloca em questão a própria república e seus representantes, de liberais a socialdemocratas. A rotina da corrupção posta em cheque, sobretudo diante da leniência do grande capital, colocou os empresários atônitos ao contágio coletivo que poderia causar e os fez cessar no investimento produtivo, mesmo dizendo que tudo se deve aos altos impostos, apenas; como se fosse apenas?
Assim, a economia não parou apenas pela dependência internacional, mas por fatores próprios ao Brasil, naquilo que o torna Brasil, as ideias abstratas de que partidos poderiam corresponder a quadrilhas e políticos, possivelmente, a criminosos organizados, foram materializada fazendo o escândalo para inglês ver. A rotina da corrupção fazia as engrenagens andar de forma azeitada por todos os naipes políticos e do grande capital, “cessada” esta rotina que ia do mensalão, para se votar no “projeto Brasil do PT”, às obras públicas, restou ao país encolher economicamente com milhões de famintos desempregados.
O que coloca outra questão, e decisiva no que torna o Brasil, Brasil; a disputa é pelo fim da corrupção ou pelo monopólio da corrupção ou pela alternância na corrupção? As ideias fora da realidade demonstram que o importante não é o combate a corrupção, mas, a imposição de seu projeto social-político-econômico em detrimento do outro, sem que com isto, se extirpe a rotina da corrupção? A Itália de Berluscone, após mãos limpas, que o diga. E, não apenas. A questão é qual corrupção interessa investigar e qual preocupa manter os olhos da justiça fechdados?
Para ficar apenas em mais uma tese típica dos cientistas políticos do PSDB, a defesa da ideia de que a condições econômicas determinam a eleição está posta em cheque neste terceiro turno, uma vez que até o segundo turno a crise não se demostrava com a força que agora notamos pelos números negativos inegáveis face a crise econômica-política da corrupção. Resta saber se combinaram com o povo que não aparece em todo seu fulgor nas ruas. Ah! Sim! O povo é apenas mais uma ideia fora da realidade!
E tudo isto confirma apenas uma tese: o grande capital, este orbita ao redor dos governo federal e alguns estaduais, não se envergam perante o Estado, compram tudo que lhes interessa de reeleição presidencial com reforma Constitucional a partidos e candidatos que se lançaram como baluartes da ética e da defesa do povo brasileiro?
Que os juízes e os políticos honestos nos salvem!          

domingo, 20 de março de 2016

“O negócio do impeachment”: os últimos dias do governo Dilma

Apenas para lembrar alguns traços históricos; nos EUA os presidentes tendem a ser assassinados quando rejeitados socialmente e pelos políticos; no Brasil, a tendência seria o suicídio ou a renúncia, além de se perpetuar no poder por acordos?
Parto do princípio que todos os corruptos devem ser investigados, julgados com isenção – palavra tão linda de significado profundíssimo e tão banalizada nas práticas brasileiras, do jornalismo à ação de juízes e promotores, além de professores e pesquisadores acadêmicos – e condenados a penas compatíveis com as evidências dos crimes. Mais que isto, sou favorável à ampliação da pena por crime conexo, do tipo, desvio de hospital, deve ser julgado por assassinatos; e assim iria. Os crimes de corrupção no Estado e do Estado deveriam ter as penas mais severas e exemplares.
Assim, não me coloco a questão das possibilidades de corrupção via PT, DEM, PMDB ou PSDSB e os possíveis bilhões desviados, isto é lugar comum, ao menos para os minimamente críticos e não cegos pela militância ou por defesa de ideais outros que no plano da realidade são incompatíveis com a corrupção?
Coloco a questão das razões, dos determinantes sociais, para além da corrupção, que levam ao impedimento da Presidenta Dilma, dos valores ou interesses que podem guiar alguns dos principais atores deste processo histórico que poderá vir a ser impar, se expandido para todos os partidos – o que até agora não ocorreu; e marcar um novo capítulo da história.
A FIESP, e suas parceiras, por exemplo, mais que o impedimento da presidenta, deseja o avanço da flexibilização das leis trabalhistas e a reforma da previdência. No que diz respeito a primeira questão, leia-se redução dos direitos trabalhistas e mesmo, se for possível, a inexistência de leis que protejam o trabalhador. No segundo quesito quer-se a ampliação da idade de aposentadoria que teria duplo fim: após investir anos de aperfeiçoamento profissional a pessoa pode se aposentar, em média, aos 55 anos; é muito cedo para a lógica da exploração capitalista. Após anos de investimentos, e com o avanço da indústria farmacêutica e médica a pessoa vivendo mais anos, deveria ser igualmente explorada por mais anos. Nada de “ócio criativo”; deve-se aposentar quando se for uma espécie de “bagaço humano”, sem possibilidades de investir em projetos pessoais outros que não o servir o patrão de modo assalariado. Ou pior, do ponto de vista da exploração capitalista, aposentar uma vez e continuar trabalhando o que possibilitaria algum tipo de acúmulo de renda o que não caberia aos trabalhadores, detentores apenas da força de trabalho. Neste ponto Dilma tergiversou e ofereceu a carteira de trabalho em proposta teórica para reforma e com ela a idade de aposentadoria. Mas, foi pouco.
Com as togas o que mais preocupava os atores da justiça era a demanda por transparência e teto salarial nos cargos. A transparência salarial com sua publicidade ampla a irrestrita, não incomoda apenas a toga, mas servidoress públicos em geral e políticos, pois, causa escárnio o salário de alguns poucos marajás do serviço público, que gozam ainda do direito a aposentadoria integral e auxílios mil diante da média salarial da iniciativa privada que sustenta o Estado. Em outros termos, aqueles que deveriam ser servidores, mas são nobres em um Estado que deveria primar pelos valores republicanos e democráticos, para muito além do entendimento da liberdade, igualdade e fraternidade maçônica. Para muitos ver o salário estampado nas redes sociais é motivo de perseguição pois, afinal, seguem a regra, primeiro o meu; depois o teu, no caso, o direito a educação, saúde e segurança, entre outros elementos, de forma pública e gratuita e de qualidade. E, na contramão desta noção, sobretudo os professores se vêm com salários indignos da humanidade que são e que representam e constroem, no presente para o futuro, sem contar as péssimas condições de trabalho.

Num outro vértice, vem o embate das consciências entre o religioso-político que tanto primou até ao final da Inquisição e o político-religioso que propõe as liberdades do Estado laico e liberdade ecumênica de religião. Entre as gravações tornadas públicas da Lava-jato, uma fala chama atenção neste quesito, a do prefeito do Rio de Janeiro com Lula que diz: “Eles (investigadores da Lava-jato?) são todos crentes”. Temos, neste ponto, outro projeto paralelo ao do Estado laico (político-religioso), na demanda pelo Estado “Teocrátio”, espero que seja entre aspas (o religioso-político). Assim, o projeto ganharia para a cena o presidente da Câmara dos Deputados, principal homem preocupado com o impedimento da presidenta, e seria uma derrocada para muitos avanços das mulheres, das religiões milenares de tradição africana, e para os LGBTs. Ficarei apenas no quesito mulher, dentre as relações de gênero. Vencendo o impedimento, seria aprovada nova lei de atendimento a mulher estuprada e esta passaria mais uma vez a ser duas vezes vítima, pois, teria, antes de ser atendida no serviço de saúde pública, de provar que foi estuprada. Além disto, a pílula do dia seguinte teria sua comercialização proibida. Entre outras questões propaladas por algumas religiões.
A aprovação da CPMF, por sua vez, equivaleria a quebra de sigilo bancário e facilitaria ao Imposto de Renda comprovar as fraudes nas declarações. Mais que isto, faria com que Igrejas, Institutos e Fundações, além de ONGs e OSCIPs, entre tantas outras formas de organizações que se isentam de impostos, contribuíssem. Em meio a imposto obrigatória e a impossibilidade de se furtar ao imposto de renda, sem ser pego na malha fina, todas  as grandes fortunas e mesmo as médias e pequenas foram contra mais um imposto em meio ao oceano de corrupção.

Para encerrar este texto uso a frase do Paulinho da Força Sindical, também pego em gravação, “O impedimento só ta acontecendo por causa do Eduardo Cunha” – contra o qual não tem nenhuma denúncia até o momento?. A outra frase é lapidar para entender-se o processo histórico: “Tem muita gente querendo financiar esse negócio do impedimento”. Neste contexto de pessoas honestas e valores altos, de alto poder e renda (não conta você que recebe menos de 15 mil por mês e não tem patrimônio superior a cinco milhões), sou apenas mais um estre muitos que vive numa residência tão pequena que para eles, os corruptos, poderia ser comparada a casinha dos cachorros e, pior que isto, nem seria, eu, o professor com doutorado da iniciativa privada, o cachorro, mas os restos por este deixado, tamanho o fosso deixado entre nós, os humanos comuns, e estas fraudes que nos desafiam a construir um novo Brasil.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Zika, Chicungunha e Dengue: a apoteose do aquecimento global a partir do Ebola

Não foi por mero acaso que terra, sol (calor, fogo), água e ar foram elementos eleitos pelos filósofos da natureza, na Grécia Antiga, para explicar a vida, sua força e seus limites. O mesmo vale para místico, alquimistas e bruxas. Eles e elas observaram, sentiram ou intuíram, conforme a filiação à filosofia, ao misticismo, a alquimia ou a bruxaria, o quanto estes elementos eram necessários para suportar a vida, seu florescer e fenecer.
Séculos depois estes perderiam o posto legítimo de explicação do mundo para químicos, biólogos e suas áreas conexas ou reflexas da ciência, sem, contudo, conseguir se fazer valer sem o apoio em alguns conhecimentos daqueles que negavam a validade do saber.
Chegamos ao século XXI e, este conhecimento explicativo da vida ganhou novas formas na tabela periódica, nas pesquisas acadêmicas-científicas e na consciência coletiva; todavia, não podemos negar que sem o planeta terra, sem o sol, sem água e sem o ar não podemos sobreviver. Mais, que isto, nossa interferência no planeta altera as relações estáveis forjadas ao longo de milênios.
Assim como para existir vida no planeta foram preciso condições especiais na relação entre terra, sol, água e ar, do mesmo modo, se alterarmos a relação com um ou mais dos elementos fundamentais podemos colocar em risco a vida ou em declínio: o aquecimento global.
O conceito de aquecimento global é da década de 1970, momento em que se realizava certo consenso de que ocorria aquecimento do planeta por influência humana. O aquecimento global nada mais é que alterarmos a relação da terra, do ar e da água com o calor por via da intervenção humana na natureza, o que ocorre de modo decisivo com o implemento da economia capitalista pós Revolução Industrial. Esta se utilizando primeiro do carvão, e agora do petróleo, contribuiu para o desequilíbrio do planeta com seus elementos fundamentais e fundantes.
Estas mudanças climáticas vêm sendo denunciadas há décadas e o reconhecimento de que é o modo de vida humana que tem colaborado para esta transformação é desta década, mais que isto, ano a ano temos o aumento da temperatura e da sensação térmica. Basta pensar que o ano de 2014 foi o mais quente desde que a temperatura é medida; e o ano de 2015 superou o ano anterior.
Com estas transformações não é só o clima que de altera, mas o que dele depende para permanecer em equilíbrio ou inofensivo. O aumento da temperatura propicia condições especiais climáticas para vírus e bactérias se proliferarem ou se transmutarem, além de outros seres, e até faz com que limitações regionais de sobrevivência e reprodução sejam alteradas e expandidas. Transpondo isto para a saúde e o clima, ou se preferir para a doença e o clima, na mesma década em que se iniciou o consenso ao redor do conceito de aquecimento global, e não por acaso, ocorreram os primeiros surtos de Ebola.

O Zica, por sua vez, descoberto na Floresta do Zica, na África, em 1947, não causava grandes preocupações devido aos sintomas leves que causavam: coceira, febre e manchas pelo corpo. E, ao fato de estar circunscrito a uma determinada região. Foi se alastrando aos poucos ao estilo “virose”. Com as transformações climáticas, sobretudo nos dois últimos anos, encontrou cenário ideal para se expandir por vários países, o mesmo caso da Chigungunha.
O zica, via aedes aegyppt, hoje se espalhou por vários continentes e encontrou clima favorável, o hospedeiro, para se expandir pelas Américas e ponto de preocupar os EUA que diante do aquecimento global também passa a ter condições climáticas favoráveis para a proliferação do mosquito portador dos vírus em questão.
Neste campo de interpretação, o problema do Ebola, em um extremo, e do Zika, do Chicungunha e da Dengue são apenas os sinais das doenças provenientes do clima pelo aquecimento global que propicia maior espaço de alcance e de reprodução. A temperatura torna-se ideal para a proliferação tanto por um período maior, quanto em maior extensão geográfica – do Brasil aos EUA.
São apenas os primeiros sinais das doenças climáticas que nos assombram se nada for feito para deter o aquecimento global. É um alarme sério visto que vírus detidos em espaços geográficos determinados e inofensivos ao ser humano podem evoluír para formas letais, como o Ebola, ou que comprometem as futuras gerações, como o Zika – suspeita do aumento de microcefalia.
É a natureza respondendo ao ser que se notabilizou por ser o maior predador a ponto de por em risco a vida planetária? Deste ponto de referência aquelas viroses que os médicos não dizem ou não sabem o nome poderiam evoluir para formas mais letais, com nome conhecido e efeitos assustadores?
Mas, não se preocupe cara pessoa leitora, este é apernas um artigo de ensaio hipotético, sem grandes compromissos com a realidade.




quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

BBB ou o “zoológico humano” no século XXI

O “zoológico humano” não é um fato novo. Existiu em diferentes formatos desde antiguidade e sua última exposição, no formato tradicional, ocorreu em 1956, na Bélgica, na cidade de Bruxelas. Estes “zoológicos humanos” contemporâneos eram populares na América do Norte e na Europa onde a população branca os visitava para comprovar a “teoria evolutiva” onde o negro, o esquimó e o indígena seriam os elos humanos entre o macaco e a pessoa branca. Um misto de animal com ser humano.
Eram indígenas, africanos ou esquimós – entre outros – que serviam a sanha europeia ou norte-americana de construir o eu e o outro de forma etnocêntrica, ou seja, colocando-se como modelo superior e perfeito de civilização em oposição às demais, o outro. O eu, branco, civilizado, educado ou ainda o homem, heterossexual era construído em oposição ao outro, não branco, selvagem e sem educação e ainda a mulher e o homoafetivo. Postos em jaulas,- esquimós, africanos e indígenas -  estes outros, exibiam seus comportamentos em ambientes construídos para recuperar seus locais de existência. Nada diferente do que vemos ainda hoje em zoológicos com animais classificados como irracionais ou, no caso do BBB, com os animais ditos racionais.
O BBB é uma jaula devidamente construída com as novas tecnologias – espelhos, paisagens, câmeras, microfones e produtos à venda –  e não por acaso foi comparado a um campo de concentração, por uma dos participantes desta edição de número 16, pois era o local onde as pessoas iam aos poucos definhando e eram observadas rigorosamente pelos algozes que se consideram superiores – antissemitismo. Por vezes eram utilizados como cobaias de experimentos sem qualquer dimensão ética. No plano ainda dos campos de concentração o extermínio é feito em paredões numa dissimulação da morte simbólica do perdedor.
O mesmo ocorre com o “zoológico humano” BBB em seu décimo sexto ano. O ambiente foi produzido para causar conforto – no lugar de jaulas o confinamento recebe o nome de casa – um eufemismo de péssimo gosto para quem está internado na “Fundação Casa”. Por vezes são dados estímulos para provocar comportamentos e medi-los em sua radiância. Por outra, dão se “Prêmios” para tornar a estadia mais suportável e estimular a competição entre os pares, e dá-lhe entorpecer das consciências via drogas lícitas para demonstrar ao público o comportamento humano sem reservas.
Os preconceitos e atitudes mais comezinhos podem ser assistidos em todos os naipes produzido, no caso do BBB16, pela pessoa mais simples, passando pela burguesia repleta de bens e que desfruta do ócio do capitalista ao portador de doutor em filosofia, todos equiparados pela realidade do humano, exageradamente humano. Assim, as estruturas sociais de dominação da mulher por ser mulher é o que mais apareceu até a presenta data com a “macholândia”.
Claro que ninguém se identificará em alto e bom som como um machista típico; afinal a função do machismo é unir os machos em detrimento das fêmeas que serão utilizadas para o avanço dos homens sem que as mesmas notem sendo exploradas e dominadas. Assim, vemos o espetáculo do preconceito e da discriminação realizada pelo galã loiro, passando pelo negro ao intelectual chancelado pelo título de doutor ao “bicho grilo”.
“Fantástico” observar como os atores sociais – os personagens da vida real do BBB – se comportam em meio as estruturas socias artificiais do zoológico televisio cultural do machão.
As mulheres por seu turno, também se uniram, “sem nada dizer ou nada notar” da dominação masculina disfarçada em “reinado do quarteto masculino”. Assim, para não combinar voto de forma explícita determinaram apenas votar nos líderes. Interessante como as mulheres para sobreviver a séculos de patriarcado conseguem fazer acordos quase silenciosos para sobreviver em meio a dominação e exploração que sofrem; mas que também podem reagir, desde que seguindo certo código imposto pelo patriarcado: a docilidade disfarçando o poder.
Não deu em outra: um paredão de homem contra mulher ou seria de mulher contra homem? A vitória não poderia ser mais típica da sociedade patriarcal e machista brasileira: vitória do homem branco heterossexual.

Mas, como de todas as mazelas a menos dita – mesmo por quê criminalizada – é o racismo. Assim, a presa mais fácil tornou-se aquele que agiu de forma explícita diante do que a macholândia determinou e como única vítima no altar da vida simples e sem intenções é visto como alvo certo e frágil; afinal, quantos negros morrem antes do final do filme? Quantos chegaram a reta final de qualquer BBB? A presença negra é só cumprir “cotas”?

Assim, podemos ver muito em um BBB deste ano ou dos anteriores, mas, em especial um espetáculo, o do capital. Até onde se vai por mais de um milhão diante de uma emissora que lucra centenas de milhões com um zoológico contemporâneo? A pesquisa  por amostra simbólica dos costumes capitalista está no ar com a pergunta: “até onde você iria”?.
Pensando no cotidiano: até onde iria por e para manter um emprego? Até onde iria para conseguir um aumento, projeção ou promoção?
Mas, a Globo não está sozinha neste espetáculo de exploração capitalista; O SBT tem programa em outro formato que lembra o mesmo, afinal, quem não se lembra do "quem quer dinheiro" e doa aviõezinhos de dinheiro que fazia a massa se digladiar por alguns reais?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O planeta e o petróleo ou a crise das ações

Não é devido ao fim da escravidão formal que não temos mais escravizados no século XXI. Pelo contrário, nunca houve tantos seres humanos em escravidão ou situação análoga à escravidão. Mesmo em Ribeirão Preto já vimos várias denúncias contra a construção civil e seus incorporadores. O trabalho escravizado ainda rende lucros mesmo quando descoberto e punido pelo Estado.
Não é devido ao fim do patriarcalismo que o sistema patriarcal se desfaz - aquela que permitia a punição de esposas, filhas, ou mulheres, em geral, com a pena de morte por infligir a vontade do macho. A Lei Maria da Penha e os casos cotidianamente denunciados pela imprensa evidenciam o tamanho do problema apesar da igualdade perante a lei entre homens e mulheres. Ou seja, o tipo de crime leva a impunidade diante pena menor praticada por juízes homens.
Não foi devido ao fim da era do carvão que este deixou de ser utilizado pelo capitalismo. Pelo contrário, a China o usa em larga escala e as carvoarias, não raro, estão entrelaçadas com o trabalho escravizado, mesmo no Brasil. O lucro do carvão mantém seres humanos aprisionados e soterrados em minas.
Com o caso do Petróleo não é diferente.
A queda no preço do barril no planeta não coloca fim ao seu uso, pelo contrário, o implementa como último suspiro de um modelo energético. Isto não quer dizer que pararemos de utilizar o petróleo como base de energia produtiva, no planeta, ainda esta década, mas, que, não há espaço para ele no futuro do século XXI. Ao menos da forma escancarada com que vimos no século XX.
Se, 2014 foi o ano mais quente da história da humanidade desde as primeiras medições realizadas; não deixa de ser alarmante que o ano de 2015 já tomou o prêmio indesejado do ano de 2014. O aquecimento do planeta se acelera, superando as expectativas dos cientistas. O alarme soa cada vez com maior e com urgência se faz necessária uma resposta.
Face ao aquecimento global, os maiores investidores do planeta, que não estão infensos a esta realidade que desembocará em impostos e taxas cada vez mais caras para os produtos que têm em sua pegada produtiva o uso de tal energia, do carbono em geral, iniciam o desembarque desta matriz energética na bolsa de valores não só do Brasil, mas do planeta.
Aquilo que os Estados não foram capazes de fazer pela COP 21 (novembro a dezembro de 2015) será feito esta semana, com a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos? As questões que se farão sentir nas entrelinhas do debate econômico neoliberal são: clima e petróleo. As maiores fortunas planetárias se reúnem em meio a Chefes de Estado e suas comitivas para decidir o que farão do planeta, para além das decisões das Nações Unidas, e mesmo de Estados isolados, diante das práticas e saberes neoliberais que não querem ver seus lucros minguarem diante de taxas e impostos. Não por acaso o tema de Davos, em 2016 é a “Quarta revolução industrial”.
Para o Brasil, esta realidade se materializa de forma contraditória. Embora o petróleo esteja com o preço em queda no plano internacional –  e isto atinja em cheio o valor das ações da Petrobrás, mas, não só dela, de toda e qualquer petrolífera e seu complexo produtivo, –  devido a demanda por redução de carbono e o possível direcionamento das grandes fortunas para energias limpas, em médio prazo, é um fato no mínimo embaraçoso diante dos projetos da camada do pré-sal.  

A era do petróleo chegou ao fim antes mesmo que pudéssemos fazer do lema “O petróleo é nosso” em uma realidade de redistribuição de renda via royalties para a educação. Esta a característica de terceiro mundo, de país atrasado ou em desenvolvimento que não conseguimos deixar para trás: quando estamos próximos ao modelo dominante de produção, este se esgota diante de uma nova vertente ou matriz.
Deste prisma, a queda do preço do petróleo e do valor das ações das empresas petrolíferas e seus complexos visam a não expansão da estrutura em preparação a sua substituição. Em seu último suspiro dominante o petróleo será viabilizado ao maior número possível de agentes econômicos e sociais para garantir até o último centavo de lucro. Enquanto este modelo de carbono não se torna antieconômico e merecidamente ilegal em nome das gerações futuras ele será utilizado, mas seu complexo produtivo será limitado cada vez mais – este o problema maior para o pré-sal.
Assistimos aos estertores do petróleo e tornar antieconômica a extração do pré-sal é apenas um dos sinais irreversíveis deste processo histórico onde ou deciframos o aquecimento global ou seremos pelo planeta dizimados por catástrofes climáticas cada vez mais gigantescas: enchentes, secas, nevascas, furações, perda de lavouras, doenças... onde as pragas do Antigo Egito parecerão brincadeira de criança diante dos desalojados e famintos do clima.

E, deste prisma havia razão para o Estado investir em pesquisa de ponta para tornar o pré-sal cada vez mais viável do ponto de vista se ele será cada vez mais condenado do ponto de vista ambiental? Seria o tempo de darmos um passo adiante e investirmos no que temos também em abundância: sol, ventos e marés? Ou seria necessário dois passos além para entrarmos no século XXI?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Além do tempo - a arte enquanto drama do mundo

O tema central da novela “Além do Tempo”, da Rede Globo,  não é o amor romântico na sua interpretação da alma gêmea. Na doutrina espírita kardecista constam as almas afins, em mesma sintonia, em níveis semelhantes de aprendizados, de interesses, de saberes entre tantas outras modalidades de pluralidade de ser e estar no mundo dos encarnados ou desencarnados – este um tema não analisado (como foi outrora na novela “A viagem”).
                Lívia e seu conde não são o centro da trama, mas uma das relações possíveis entre os viventes (encarnados) deste mundo. Não são almas gêmeas como aspira ao amor romântico numa salada de frutas que envolvem de Platão aos platonismos passando por doutrinas outras espiritualistas e reencarnacionistas.
                Centro da questão ali posta é como o amor e seu oposto – o ódio, este uma das variantes das formas do amor doente – influenciam a vida dos que nos foram confiados, os filhos.
                 Sim! O tema central é como a vida amorosa ou de desamor dos pais influencia a vida dos filhos. A expressão mais acabada disto é Anita que nega o amor de casal em nome dos avanços da ciência pela concepção in vitro. Superado o trauma do desafeto dos pais retorna o amor em sua construção lúcida.
                Assim, são postas as relações de causa e efeito, tão típicas das ciências do século XIX – e ainda hoje nas ciências ditas da natureza e exatas – e que influenciaram o espiritismo kardecista  na demonstração das relações entre a vida anterior, entre o amor e a paixão – mais uma variante das formas de amar – enquanto (des)aventura que viveu com Roberto.
                A pergunta de fundo da trama evocada é “os filhos pagam pelos pecados dos pais”? Parece que sim! – segundo o folhetim televisivo. Mas, podem se libertar destas amarras e viver o esplendor do destino próprio em meio as suas interconexões de sentidos e trajetórias.
                No caso do menino Francisco, não é diferente. O tema é como o amor dos pais ou vivência da morte destes podem influir em seu destino, em sua trajetória de vida. O mesmo com Bianca e sua irmã Felicia e todas as demais crianças e adolescentes da trama. E, como cereja do bolo, o caso do menino Alex que sofreu em outra vida a desventura da perda dupla do pai. A primeira pela perda simbólica do pai incapaz de adotar o filho diante da calúnia de não ser fruto biológico.
             Desta maneira, é posta a trama que alcança muitos pais. A paternidade como a maternidade, exigem um ato de adoção daquele que nasce. Não basta ser biologicamente filho, tem de ser desejadamente filho para se ter um pai ou mãe presentes e afetuosos, é um movimento de adoção afetiva. Filipe, assim, não viveu a paternidade em plenitude na vida de Conde. Nesta, enquanto vinicultor, a vive independente da questão biológica – são as superações do amor entre pais e filhos – tema central da novela.
             A segunda perda do pai da parte de Alex foi o assassinato de Felipe por Pedro, o que lhe rende marcas vividas em sonho nesta vida. 
Por outro lado, a condessa que manipula o filho Bernardo em nome de um amor possessivo, onde só há espaço para o egoísmo do espelho – amo-te somente se fores igual ao que desejo, igual ao que me represento – e, neste ponto, o filho com sequelas mentais é inadmissível no convívio social e deveria ser sepultado em vida num manicômio – prática tão comum nas famílias abastadas ou medianas para esconder filhos gays, desvirginadas, e tantos outros outrora classificados como loucos. 
Mas, aquela que se pretende antítese da Vitória Condessa é o espelho de ponta cabeça da mesma realidade com Lívia nas duas vidas. Tanto em uma vida, como cigana artista, ou nesta, como abastada empresária de sucesso, Emilia é o reflexo da possessão dos filhos manipulados por dores próprias e mágoas outras dos pais.
Alberto se vingando da Condessa Vitória que lhe negou a paternidade no último suspiro, nesta, numa relação de causa e efeito produziu o ódio em Mili , negando àquela a maternidade em vida. Mas, quem paga todas as contas é a filha que precisará a tudo superar. Ou, nas palavras de Lívia – tudo pode ser perdoado. Heis a heroína.
Neste contexto, para iniciar os desfechos da novel,a o primeiro amor que se expande é o do capataz Bento, sendo nesta vida enteado de Vitória, se depara com a realidade dos erros do pai (des)herói que assassinou a mãe. Diante da realidade e do perdão tudo se resolve e os nós se desatam em uma trama de liberdades ilimitadas e de possibilidades novas para Bento.

Para avançar em direção ao remate da novela a pergunta do final do capítulo de Além do Tempo de hoje, 06 de janeiro de 2016, remete ao tema central e suas variações: pode o amor mais que o ódio? Ou, em outra palavras, o ódio, que é uma das variações do amor doente, pode ser superado a que empenho na relação entre pais e filhos? Quais os traumas que se poderá superar e sob que condições de experiência de vida?
Coroando estas relações Melissa traz a tona o drama das separações em todos os tempos, da visão do abandono feminino, típico até quase metade do século XX, ao desafio da mulher emancipada no século XXI. Mas, a resposta dela seria semelhante à de Medéia, da Tragédia Grega? 
Medéia assassinou os filhos para se vingar daquele que se separava dela – Jasão. O primeiro assassinato, do filho Alex, Melissa comete ao dizer que este não é filho biológico de Filipe - mais uma vez o assassinato simbólico do pai aparece na trama. Na continuidade realiza a desconstrução do pai ao filho em meio ao assédio moral nas relações familiares, neste caso, denominado e tipificado como alienação parental, no final do século XX. Mas, chegará Melissa ao assassinato material que já tentara fazer em outra vida com Lívia e consumado por Pedro,mas, agora contra o próprio filho?
Numa sociedade de tantos divórcios violentos ou com casamentos mantidos para não dividir o patrimônio o tema é no mínimo relevante, para não dizer de profundidade salutar para pais e mães e familiares e amigos refletirem sobre como as ações recaem sobre os destinos dos filhos e amigos. E, para além disto, diante de casos como o da Família Nardone – entre tantos outros noticiados em rede nacional de filhos assassinados por pais e vice-versa – o tema é urgente.
Nesta tramas das vidas intimas e pessoais, da vida privada e seus amores e dores as personagens femininas surgem como as mais poderosas e determinantes das histórias. Vitória do patriarcado ao dar a ela o espaço privilegiado do privado? Ao contar a história do amor e do desamor a matéria prima é o feminino diante de homens que circulam ao derredor das determinações sociais? Ou, pelas obsessões que a tantos corroê e muitos outros (des)mobiliza?