segunda-feira, 22 de maio de 2017

Temer em xeque ou o declínio dos atores políticos em nome do Mercado

A ideia romântica dos filmes de guerra dos EUA de que nenhum homem ficaria abandonado, e que foi celebrada em várias películas que falam dos resgastes, celebra a ética de que nenhum ser humano é insubstituível. A realidade capitalista está bem distante deste ideário. Cada vez mais os atores, quer sejam sociais, políticos e agora econômicos, tornam-se descartáveis ou substituíveis em favor do projeto a que estão vinculados.
A própria fala de Aécio Neves que se deveria indicar alguém que fosse possível matar caso houvesse necessidade para manter a ordem das aparências “ilibadas” do projeto em curso, contra o avanço da justiça, demonstra que certos atores pensam ser insubstituíveis ao passo que outros facilmente o são. Ledo engano. Nesta ordem capitalista todos são alvos em nome do poder e do Deus Mercado.
 É neste enredo estruturante que se encontra o Presidente Temer, Rodrigo Maia, Aécio Nevez e todos os demais em nome dos avanços considerados por eles modernizadores do capitalismo e pelos progressistas como precarizadores das relações capital trabalho.O furo de reportagem do Globo contra Michel Temer demonstra que este, como aquele, Aécio Neves, tornaram-se descartáveis em nome do projeto modernizador do capital de precarizar as relações trabalhistas.
Mais que isto, demonstra que as elites capitalistas do Brasil acirraram a divisão entre si em suas esferas de projeto. Enquanto a fração de classe do capitalismo financeiro – aquele que Palocci quer delatar, e possivelmente jamais conseguirá fazê-lo no sistema judiciário – avança; o capitalismo produtivo – Tipo Odebrecht, JBS, OAS, entre outros donos do poder – tomaram consciência de que a tomada do poder de Estado não os contemplaria como desejavam via reforma trabalhista.
A reforma trabalhista minimiza a relevância do empresariado e faz avançar a esfera financiasta – Bancos entre outros agentes – na exploração daqueles. Neste sentido que coube a família Batista a luta pela sobrevivência segundo seus parâmetros de mercado. E, pela mesma razão a OAB, que apoiou a tomada de poder de Dilma, por Temer, protocola pedido de impedimento, abandonando o barco do qual fazia parte. O modelo da ordem produtiva estabelecida na reforma trabalhista também prejudica aos advogados.
Interessante notar que as disputas entre capital produtivo e financeiro advém da Primeira República do Brasil, como muito bem foi analisado pelo sociólogo, que negou seus escritos uma vez eleito Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

Alguns poderiam dizer, mas não é tudo capitalismo. Não. As frações de classe também podem ser aplicadas aos capitalistas, aos burgueses que disputam entre si, embora possam em certos momentos estarem unidos, como o estiveram para derrubar Dilma Rousseff que se via constrangida pela realidade a fazer ajustes no modelo da economia que contrariaria aos capitalistas.
Neste quadro, Temer, por sua vez, não demonstrava mais poder para fazer avançar as reformas que interessavam ao capital, a previdenciária e a trabalhista, esta por sua vez dividindo as frações de classes dos capitalistas. Interessante notar que Temer fez tudo que a tradicional política brasileira realiza para aprovar leis: distribuiu cargos e verbas, além de jantares e almoços ao estilo do Império do Brasil para lustrar os egos, entre outros mimos.
Isto quer dizer que a crise institucional do País cresceu não apenas no terreno no político, mas, sobretudo entre os capitalistas que cada vez mias agem como se a democracia fosse desnecessária e mesmo um impeditivo de seus projetos. Unidos pela vialização da derrubada de Temer, não mais o estão no tipo de projeto modernizador do capitalismo e explorador do trabalho, visto que o capital financeiro quer assumir o poder sozinho sem os capitalistas produtivos. Seria a vitória de um projeto que se iniciou na Primeira República.
Afinal a modernização capitalista é para a precarização, é para ampliar a exploração, sempre, da fração de classe abaixo e nunca de si mesma. O capital produtivo trabalha para não ser a bola da vez junto com o povo, que viu seu voto ser surrupiado pelos corruptores agora chamados de delatores.

Se houver eleição indiretamente, esta refletirá mais que a democracia, mas, qual fração de classe está no poder e se ele ainda é compartilhado entre produtivos e financistas. Lembrando que a JBS reconheceu que pagaria entre 3 a 5 milhões por voto pelo impedimento de Dilma Rousseff. Afinal, como já vimos pelas cifras, dinheiro é solução destes agentes para transformar políticos em subservientes dóceis para alienar a representação da nação.