A ideia
romântica dos filmes de guerra dos EUA de que nenhum homem ficaria abandonado,
e que foi celebrada em várias películas que falam dos resgastes, celebra a
ética de que nenhum ser humano é insubstituível. A realidade capitalista está
bem distante deste ideário. Cada vez mais os atores, quer sejam sociais, políticos
e agora econômicos, tornam-se descartáveis ou substituíveis em favor do projeto
a que estão vinculados.
A própria fala
de Aécio Neves que se deveria indicar alguém que fosse possível matar caso
houvesse necessidade para manter a ordem das aparências “ilibadas” do projeto
em curso, contra o avanço da justiça, demonstra que certos atores pensam ser
insubstituíveis ao passo que outros facilmente o são. Ledo engano. Nesta ordem
capitalista todos são alvos em nome do poder e do Deus Mercado.
É neste enredo estruturante que se encontra o
Presidente Temer, Rodrigo Maia, Aécio Nevez e todos os demais em nome dos
avanços considerados por eles modernizadores do capitalismo e pelos
progressistas como precarizadores das relações capital trabalho.O furo de
reportagem do Globo contra Michel Temer demonstra que este, como aquele, Aécio
Neves, tornaram-se descartáveis em nome do projeto modernizador do capital de
precarizar as relações trabalhistas.
Mais que isto,
demonstra que as elites capitalistas do Brasil acirraram a divisão entre si em
suas esferas de projeto. Enquanto a fração de classe do capitalismo financeiro –
aquele que Palocci quer delatar, e possivelmente jamais conseguirá fazê-lo no
sistema judiciário – avança; o capitalismo produtivo – Tipo Odebrecht, JBS,
OAS, entre outros donos do poder – tomaram consciência de que a tomada do poder
de Estado não os contemplaria como desejavam via reforma trabalhista.
A reforma
trabalhista minimiza a relevância do empresariado e faz avançar a esfera
financiasta – Bancos entre outros agentes – na exploração daqueles. Neste
sentido que coube a família Batista a luta pela sobrevivência segundo seus
parâmetros de mercado. E, pela mesma razão a OAB, que apoiou a tomada de poder
de Dilma, por Temer, protocola pedido de impedimento, abandonando o barco do
qual fazia parte. O modelo da ordem produtiva estabelecida na reforma trabalhista
também prejudica aos advogados.
Interessante
notar que as disputas entre capital produtivo e financeiro advém da Primeira
República do Brasil, como muito bem foi analisado pelo sociólogo, que negou
seus escritos uma vez eleito Presidente da República, Fernando Henrique
Cardoso.
Alguns
poderiam dizer, mas não é tudo capitalismo. Não. As frações de classe também
podem ser aplicadas aos capitalistas, aos burgueses que disputam entre si,
embora possam em certos momentos estarem unidos, como o estiveram para derrubar
Dilma Rousseff que se via constrangida pela realidade a fazer ajustes no modelo
da economia que contrariaria aos capitalistas.
Neste quadro,
Temer, por sua vez, não demonstrava mais poder para fazer avançar as reformas
que interessavam ao capital, a previdenciária e a trabalhista, esta por sua vez
dividindo as frações de classes dos capitalistas. Interessante notar que Temer
fez tudo que a tradicional política brasileira realiza para aprovar leis:
distribuiu cargos e verbas, além de jantares e almoços ao estilo do Império do
Brasil para lustrar os egos, entre outros mimos.
Isto quer
dizer que a crise institucional do País cresceu não apenas no terreno no
político, mas, sobretudo entre os capitalistas que cada vez mias agem como se a
democracia fosse desnecessária e mesmo um impeditivo de seus projetos. Unidos
pela vialização da derrubada de Temer, não mais o estão no tipo de projeto
modernizador do capitalismo e explorador do trabalho, visto que o capital
financeiro quer assumir o poder sozinho sem os capitalistas produtivos. Seria a
vitória de um projeto que se iniciou na Primeira República.
Afinal a modernização
capitalista é para a precarização, é para ampliar a exploração, sempre, da fração
de classe abaixo e nunca de si mesma. O capital produtivo trabalha para não ser
a bola da vez junto com o povo, que viu seu voto ser surrupiado pelos
corruptores agora chamados de delatores.
Se houver
eleição indiretamente, esta refletirá mais que a democracia, mas, qual fração
de classe está no poder e se ele ainda é compartilhado entre produtivos e
financistas. Lembrando que a JBS reconheceu que pagaria entre 3 a 5 milhões por
voto pelo impedimento de Dilma Rousseff. Afinal, como já vimos pelas cifras,
dinheiro é solução destes agentes para transformar políticos em subservientes
dóceis para alienar a representação da nação.