quarta-feira, 20 de junho de 2018

A Copa do Mundo e a mulher russa – não “apenas” a russa


Os esportes de competição fazem parte de um longo processo histórico de reeducação do homem e de sua masculinidade. Em boa medida os esportes substituíram a guerra como exercício contínuo da masculinidade que se auto representava como uso da força, da violência, da virilidade, da capacidade de impor a própria vontade em desprezo das outras opiniões.
Ao longo dos séculos o esporte passou a ser o novo campo de batalhas onde os homens tentam se afirmar como força viril que a tudo controla e penetra. Não à toa que o goleiro que pega as bolas está entre os mais insultados além do juiz da partida que põe limites a agressividade pelo gosto da vitória. Talvez, mais importante que isto, a imposição da derrota como humilhação pública, de onde se depreende os apelidos afeminados ou submissos que se dá ao derrotado, como o celebre “chupa”.
É uma cena entre o exercício “civilizado” da violência e o sexo como humilhação que se repete rotineiramente. Destarte, o esporte falhou aotentar inviabilizar a violência física cotidiana. Parte dos torcedores ingleses se notabilizaram pra demonstrar que não foi um alvo acertado. Não à atoa são os torcedores ingleses, afinal vêm do maior Império que o planeta viu.
O caso da mulher russa loira violentada e/ou constrangida verbalmente revela as disputas masculinas internacionais por superioridade, força e poder. Se nas guerras do passado, e mesmo do presente apesar de ser crime – oficialmente – o estupro dos e das derrotadas era parte do sague das riquezas.
Neste campo de ideias machistas, sexistas, misóginas, patriarcais os homens envolvidos nada mais esperavam que a aprovação social por revelar os valores que a duras penas mulheres e tantos outros grupos minoritários e movimentos sociais têm trabalhado para conter e reeducar.

Mas a resistência dos opressores é histórica. Afinal de contas se na copa anterior um homem ilustre representante da meritocracia brasileira branca de classe média alta puxou o coro em estádio e televisionado para o planeta com o “Dilma via tomar no c...” que problema teria em fazer algo como gritar em público pelo órgão sexual feminino em terras estrangeiras onde os direitos femininos e homossexuais são diariamente contidos pelo Estado Russo que oficializa o machismo, o sexistmo, a misoginia, o patriarcado e a homofobia?
Ledo engano, a resistência existe e ela persistirá mesmo diante de um Estado governado por Temer que negocia os direitos de muitos em troca de uma governabilidade capenga que finge ser democrática e legítima. A vergonha é nacional por revelar ao mundo que se quer “civilizado” como no cotidiano mulheres, em especial as mais pobres e negras, além de homossexuais são destratados no Brasil e para além dele.
E, não basta dizer e se fosse sua irmã, filha ou esposa, pois no patriarcado que permanece vivo nestas práticas e no imaginário, estas pessoas são propriedades do homem e eles tudo podem fazer com elas, por isto a violência contra a mulher inicia em casa e se expande para as ruas. A violência do pai, do irmão, do esposo são as mais notadas.

Basta pensar que uma mulher é morta a cada duas horas, em geral, por algum conhecido e em casa no Brasil. E um gay, em geral afeminado ou travesti, é morto por dia em uma população que não chega a 10% da população. O massacre é visível. A guerra contra o feminino e a mulher está declarada desde a colonização.
Gritar em público para humilhar e constranger a mulher para esses homens brancos, que se apresentam como heterossexuais, e se pensam de elite, nada mais é que uma brincadeira...
Para nós é reveladora da mais crua e dura realidade hipócrita que só se move pelo Direito Humano diante do colapso da falsidade documentada internacionalmente do machismo, sexismo, patriarcado e misoginia brasileiras. Para piorar, a bancada religiosa, agrária e da arma  (Boi, Bala e e Bíblia) dizem que não há necessidade de educação de gênero nas escolas.  Mais que isto, todo o movimento para retirada de Dilma do poder legítimo de Estado tinha por base a luta conta a educação de gênero nas escolas. Revelador de que lado estão e o que realmente defendem parte significativa da nação e para estes tudo não passará de repercussão exagerada.