terça-feira, 22 de julho de 2025

ENTREVISTA DE JOSÉ DANTAS CONCEDIDA A WLAUMIR DONISETI DE SOUZA

 

ENTREVISTA DE JOSÉ DANTAS CONCEDIDA A WLAUMIR DONISETI DE SOUZA

 

Data junho de 2009

 

Entrevista com José Dantas

 

Entrevistador: Wlaumir Doniseti De Souza

Entrevistado: José Dantas

 

 

Entrevistador: Professor Dantas, seu nome completo, por favor, data de nascimento.

José Dantas: Sou...me chamo José Dantas, nasci em 03/03/1938. Numa cidade do Rio Grande do Norte chamada Flores, que hoje se chama Floriano, no sertão nordestino, nas proximidades de uma cidade conhecida como Currais Novos, não é? Fiquei lá até início da guerra, Segunda Guerra Mundial. Meu pai se chama Adino Adad; minha mãe se chama Severina. Adino Adad é um nome de todos os filhos e de todos os irmãos do meu avô; ele era muito religioso, leitor permanente e diário da Bíblia; ele fez questão de nomear os filhos com nomes bíblicos; ele é descendente de português, é... com uma certa ascendência francesa. Meu avô, depois da guerra, foi chamado a receber uma fortuna em Paris, um descendente, mas depois recebeu a notícia de que não adiantava ir lá, pois não tinha recurso nenhum mais, mais... porque a guerra gastou; minha mãe é filha de português com índio. A minha avó paterna, é negra, negra, negra mesmo com índio, e essa é minha, é minha relação familiar, durante a guerra é... minha família se alistou como soldado da borracha, um projeto do Getúlio Vargas. O Brasil entrava na guerra, borracha natural se tornara algo importante para o desenvolvimento da guerra não por conta da indústria automobilística, porque isso tinha sido outra coisa lá no século XIX, que a Amazônia contribuiu né? E que milhares de nordestinos fizeram a ocupação inicial da Amazônia naquela ocasião, tanto é que a guerra de independência do Acre, tomada da Bolívia, foi uma guerra com uma participação muito grande de negros maranhenses, que eram quilombolas que se refugiavam na Amazônia para se refugiar da escravidão, ou que se refugiavam na Amazônia no final do século XIX para não serem capturados por aqueles senhores maranhenses que não aceitavam a libertação em 1888. Eles foram para o Acre; o Acre, estava em convulsão naquela época, na luta de libertação da Bolívia, libertação, a palavra não está correta, de retomada, de conquista do território boliviano e que foi tomado para os maranhenses, negros, principalmente né? E por outros nordestinos tangidos pela seca 1888, que, provavelmente, foi uma das maiores secas que atingiu o nordeste brasileiro. A minha família, durante a Segunda Guerra Mundial, foi convencida por propaganda governamental é... a seca era muito grande também nessa ocasião, e a memória que eu tenho disso são memórias mais passadas pelo meu avô, meu avô era letrado. Ser letrado, na época, não era o ser letrado de hoje, ser letrado, ser leitor de bíblia ou de saber ler mal e mal e escrever mal e mal, isso era o que se conhecia e se chamava de letrado, esse meu avô Teobaldo né? E muito das memórias que vou passar hoje aqui para vocês pelo menos alguma das coisas tem a ver com a recontando (sic) a memória do meu avô com quem eu tive uma relação muito carinhosa, próxima, muito querida na minha infância, pelo menos enquanto ele permanecia no Acre. Aos 8 anos, eu fui morar em La Paz, voltei aos 15, era seminarista né? Num colégio jesuíta, depois voltei meu avô já estava na idade avançada, (?) naquela época era muito difícil né? Depois é... fui embora para São Paulo, fiz exército no Acre e fui embora pra São Paulo e estou aqui até hoje e minha presença em Ribeirão Preto se deveu por ocasião da fundação da Barão Mauá: o professor Melhem Adas tinha sido convidado por não sei quem para vir trabalhar na Mauá em 1970, e nós éramos colegas no curso Anglo Latino de São Paulo, onde eu tinha fundado o curso de Administração de Empresa, cursinho de Administração de Empresa  e Economia em São Paulo. Nós dois trabalhávamos em CA, cursinho de CA, chamado Cailou vestibulares. Mas o Cailou vestibulares ele foi fechado, faliu, porque a direção do Cailou vestibulares era uma direção era ligada ao CA da Faculdade de Economia e Administração da USP, e eles patrocinavam o movimento estudantil, da guerrilha estudantil, e todo o dinheiro do Cailou vestibulares começou ser enfiado Guerra... No movimento estudantil, inclusive o rapto daquele embaixador  americano ou alemão, foi patrocinado pelo Cailou vestibulares. Eu era professor lá, eu e o professor Adas. Faliu e nós não tínhamos para onde ir, comecei a oferecer meu trabalho em outra escola, e eu fui ao Anglo Latino  que era um curso especificamente pra engenharia, tive audiência com Simão Hadenbauer que era o dono e ofereci porque meus serviços lá no Cailou que era um cursinho de Administração e Economia, e eu propus para o Simão levar toda a equipe do Cailou, que estava desempregada, se o Anglo criasse, criasse um cursinho para Administração e Economia. E o Anglo criou.

Então eu trouxe toda a e... me tornei diretor do Anglo Latino por conta disso, né? E nós fomos...foi aí que numa (?) e foi nisso que minha relação com o Adas se solidificou e, posteriormente, muito mais tarde, já por volta de 1970, eu e o Adas viemos morar em Ribeirão Preto.

E.: Ah! é?

J. D.: É. Gostei de trabalhar na Barão de Mauá. Escola que tá abrindo, recebi o convite para trabalhar em curso superior, eu tinha feito palestra na, na PUC – SP. Trabalhar em Ribeirão Preto dois anos, depois houve uma reviravolta do Anglo Latino e perdi a direção, que foi oferecido ao filho do dono do Anglo e eu fiquei muito insatisfeito, mas eles me deram umas aulas, eles queriam que eu desse História da Civilização na Barão de Mauá, eu tinha (sic) que ser muito difícil. Fiquei com algumas de História do Brasil e Mauá...e eu, em 72, em março se não me engano, dei minha primeira aula em Ribeirão Preto, continuei morando em São Paulo, eu viajava toda semana e aí comecei na Mauá. Mas antes da Mauá tem muito mais vidas. Outras coisas importantes que tem a ver com a Mauá, 68 eu era aluno na pós da USP, com Sérgio Buarque de Holanda, que ao ser cassado Florestan Fernandes, ele se autocassou, não aceitou a cassação de Flores, e eles saiu (sic) da universidade e eu fiquei com que eu substituí; antigamente, tinha pós e mestrado e acabava a carreira em doutorado e livre-docência; hoje me parece que tem mais que livre-docência, né? Parece que tem outra coisa, e eu era também na universidade presidente do CA, tinha um envolvimento político dentro da universidade, né? E morador do CRUSP, o conjunto residencial da USP, onde morei a vida acadêmica inteira lá até o último ano, quando o CRUSP  foi invadido e cercado pelo exército e pela polícia, e todos nós 804 jovens, entrem mulheres e homens, fomos levados para o Dops em Tiradentes. Nessa época, já era casado com a mãe das minhas primeiras filhas e nós todos fomos nos camburões... alguns, a maioria  corrigir sem nenhum vínculo político, me lembro de um jovem da Poli que descobriram uma carta para a namorada de MG... quem mais, em que ele dizia nas cartas que programávamos passeatas e quase tudo isso sai do curso, tinha uma função do departamento cultural o comprador eu que visitava as livrarias e comprava a livraria do curso que era dos moradores. Então se a polícia queria a documentação lá tinha de sobra para dizer quem é quem, e esse jovem escrevia para a namorada: “Hoje vamos tomar o poder!”. Era uma simples marcha que íamos na praça até o Largo de Pinheiros, atrapalhando o trânsito e não era tanto, íamos para a rua principal que era e subia a Pinheiros inteira até sair no HC... essa era nossa... que ele achava que isso era tomar o poder, e pegaram essas cartas dele desse homem dentro da universidade... esse homem apanhou para confessar o que jamais ele tinha condição de fazer. Ele ficou não é transtornado, ficou descaracterizado o aspecto do rosto dele de tantos bofetes, sei lá o que borrachada que esse homem levou para confessar o que ele não sabia com que de muitos outros dessas caminhadas no centro para a Sé, né? No Largo Pinheiros, na Rebouças, né? Bem, é... isso foi 1968. Você sabe era um momento de rigidez do Ato Institucional Costa e Silva e Garrastazu Médici, e a repressão se tornou muito mais violenta, e meu amigo foi preso num momento desse depois azar dele, né? Nessa ocasião, eu já trabalhava no Anglo Latino, já era professor do Anglo Latino e cada vez que por um motivo ou outro eu ia pro DOPS para o presídio Tiradentes que era a moradia maior dos estudantes para minha era surpresa porque [havia] um certo preconceito com relação a judeus. Eu sempre fui [bem] recebido no Anglo que pagou integramente os meus salários à minha mulher sem descontar a não ser descontos normais todo os tempos que não foi um só passei por cinco prisões, mas não como guerrilheiro, como estudante lutando contra o regime, né? Chegava no dia seguinte no Anglo Latino, chegava em casa pode detonar Ele achava subcolocava alguém no meu lugar, remunerava absolutamente e integralmente o meu salário para minha família e dizer você continue com toda a liberdade na sala de aula e eu com toda liberdade eu era preso, não saída do portão do Anglo... tinha escutas dentro da sala de aula, não me considerava cidadão perigoso, né? E mesmo com tudo isso, ele jamais, e isso eu digo em memória dele, ele jamais, nem o Gabriades jamais me chamou, e disse mude sua atitude na sala, ao contrário, continue sendo o professor que você foi até agora na minha empresa, na a sala de aula por motivo qualquer que seja o motivo não seu e aqui tô prestando um homenagem ao Simão.  Um homem de grandeza maior do que alguém com que até eu não poderia esperar por tudo que a gente já leu, ou já ouviu falar de judeus. Simão era um judeu de altíssima qualidade, né? Isso já era 68 trabalhei até 69; em 72, quando me mandou embora, o Anglo, Simão me chamou e disse: “Meu filho é... acabou de se formar na Fundação Getúlio Vargas e vai remodelar a escola e trazendo um cara da Getúlio Vargas, pra dar aula de Brasil. Você quer assumir a cadeira de Geral? Gilberto que era um colega da USP um colega disse não posso não é você, não, então diante desse quadro que o Adas ficou sabendo, me convidou para vir para a Mauá. Uma vez para me devolver algumas aulas, no Anglo Latino, tinha... então eu continuei continuando [sic] no Anglo Latino tinha apenas até que as turmas que têm umas placas, e ele me deu quatro ou cinco turmas fracas em horários que não era normal: trabalhava vespertino, e ele trabalhava de aulas e reforço... as aulas da Mauá permitiam me manter unicamente na Barão de Mauá até que me permitia viver na Mauá porque com todas as mudanças do curso de Sociologia e História reduziu bastante o número de classe da Mauá. Lembro-me de que Spinelli,, abrindo os brações imensos de italianão, dizia pra mim: “Não fique assustado não, porque vamos recuperar tudo isso aqui!”. Lembro-me disso hoje como tudo... me chamando na sala de professores: “Isso aqui é um abaixo-assinado de seus alunos dizendo que você tá puxando muito na prova! Quer fechar minha escola? Seu salário sai daqui, entendeu?”. Vamos maneirar, maneirar. Realmente o salário básico saía dali. Mauá mandou o Miguel Cury, dizendo que tinha sido professor no PR era... acho que já era 74, 76 o co [sic] era uma instituição do CA da Faculdade de Medicina da USP, assinava CETERP como funcionava, depois cresceu muito e se transferiram para a Tibiriçá, a Faculdade do COC, eu no CA; em corrupção, dinheiro que entrava fácil, saía fácil. Miguel Cury é quem assumiu a direção da escola não sei se tinha formado na Mauá em Pedagogia; quem assumiu foi a Hada Cury,  e ela nos conhecia da... e elas abriram, criaram força; eles que criaram o Terceirão, uma coisa gerada do ensino em Ribeirão Preto, essas escolas privadas que o Einstein tem o COC tem;  aonde você for têm colégios religiosos e eles abriram três turmas de Terceirão. A Hada, não me lembro exatamente se 73 ou 74... e daqueles alunos com classe de 66 alunos só quatro não entraram na faculdade, por  isso que, no ano seguinte, o COC não tinha três salas, tinha oito. Não tinha oito de 1º. e de 2º. tinha uma ou duas de 1º. e de 2º. e de repente tem oito de terceiro tal foi o sucesso do vestibular em Medicina. Muitos alunos na faculdade de Direito da USP, na faculdade de Engenharia da Poli de São Paulo... muitos, muito. Alunos, e o COC explodiu né? E nós estamos no COC não foram convidados, Adas e eu fomos, eu e ele mas não saímos da Mauá que era uma outra coisa e que quero mais uma vez parabenizar o Spinnelão, não o Spinelli que ficou puxando o saco dele... 78 é um momento de crise; 72 é momento de violência do reme [sic] no Brasil; ele traz para trabalhar na Mauá apoio: uns caras cassados pelo regime, entre eles Maurício Sardenberg [sic] e meu querido Otaviano com quem tinha relações pessoais que da mesma forma que com Florestan. E o Spinelli traz muita gente de renomado nome esquerdista de intelectual... Não sei se o Spinelli conhecia esquerdista intelectual era a mas coisa que esquerdista é a mesma coisa que nós conhecemos... os intelectuais franceses como Marcause que são uma coisa, e o esquerdista da prática é outro esquerdista que é o Marighela né? Não sei se o Spinelli conseguia fazer essa distinção e fazer as forças do Chamegô [sic], as forças aqui de Ribeirão Preto mandavam aqui e desmandavam já morreu quem tem onde quiser estar né? Se tiver céu, provavelmente não estará lá, né? Bastava ver o que fizeram com  a Goretti, a Irmã, a Irmã esqueci o nome, a Silvia né? Que apagaram cigarro na vagina e no ânus dela para confessar o inconfessável. Lá estupraram o meu amigo Chico na frente da mulher, ele e ela se suicidaram em Paris. Nada disso de gravidade e o DOPS. Como entrava com roupa e saía sem relógios, sapatos entrar com e sair sem agressão de tortura do careca se houver, era o interrogador que felizmente foi afogado num barco de pesca nos quinto [sic] dos infernos e tortura interrogatório se tá na sala e, do outro lado, pessoas gemendo provavelmente gravadores e gemidos alucinantes para ver você confessar que a tua mãe que, se era líder da guerrilha que você era responsável por tudo aquilo que estava ali no movimento estudante qual seu vínculo de depois de várias passagens lembro que um carcereiro do DOPS dizia: você, meu amigo,  o que se tá fazendo aqui de novo? eu... eu outro, Zico, todo mundo entrando no mesmo corredor, levava um dinheiro para a pessoa que você já conclui, dava 20, 30 reais para trazer sanduíche de hot dog e ficava com o troco e pede troco, né?  Interessante que eu tava numa cela de 4 metros com 62 pessoas; algumas se deitavam e outras ficavam de pé, em uma roda para dar espaço; durante vários dias, diante das doutoras, que outro viveram gravíssimas torturas como essa com o casal professor de História; meus amigos voltando a Ribeirão Preto, né? Me admirava muito mesmo não sei qual era a relação do Dr. Spinelli, como ele gostava de ser chamado, não tinha porque não chamá-lo, a relação que ele tinha com o alto escalão do poder, mas devia ter alguma, não sei qual porque ele estava, vocês imaginam, pro Sardenberg dando aula não era uma aula que qualquer mequetrefe daria, uma que por ser de Política, e ele jamais nos contou porque nós vivíamos alguns dias da semana em Ribeirão Preto, né? De qualquer controle do Dr. Spinelli sobre a aula dele, porque eu também não tinha controle, jamais o Spinelli: “Você tá falando umas coisas que você não pode falar!”. Lembro que o direito o Simão ele te chamava: “Aquela piada você não pode contar.” Ele riu muda a piada. Conta outra. O Spinelli poderia ter estrutura para ouvir na Mauá, mas ele não estava interessado no que você de alto [sic], mas a Mauá, por conta do Spinelli, ela deu um salto de qualidade em Ribeirão Preto que nenhuma outra tinha reunido greimaro de linguística como é o nome? Lobs [sic] trabalhou Jesus [Durigan], pessoas professores de Matemática da USP, da Daca [sic] para dar o curso de especialização, mas até pós essa gente trabalhou na Mauá e de Lopes [Edward],né? Fernando Carvalho era uma equipe altamente qualificada para os padrões de Ribeirão Preto... claro que não tô falando da USP de Ribeirão Preto, mas dos padrões da escola prova dar de Ribeirão Preto que não tinha durante a gestão do Spinelli nenhum curso da qualidade criado na Mauá porque a gente... a escola cresce... tão...  qualidade de aluno era muito grande a aula por turma: quatro aulas de Brasil por turma; hoje, os cursos...  eu trabalhava numa outra que você conhece, eu trabalhava quatro horas e de repente era só uma aula né? O Spinelli tenha preferido acabar com História e Geografia e criar Estudos Sociais por conta das transformações que o MEC inspirado no projeto instituído no Brasil, um projeto que acabava com História e Geografia. Eu trabalhava quatro aulas e de repente era uma aula.

O Spinelli, talvez tenha preferido acabar com o curso de História e Geografia e do Estudos Sociais por conta das transformação que o MEC inspirou no programa Mecruzaid [sic] instituído no Brasil. Um programa de educação que acabava com História e Geografia e no campo médio e no universitário, uma ideia que tinha sido iniciada nos EUA e tinha sido abandonada por insucesso não de ouvir fazer porque, quando trabalhei em 79, Abraão... eu trabalhei nas escolas dando palestras... já não tinha o curso e... Estudos Sociais já tinha retornado o curso de escola de História e Geografia nos EUA, e aqui nós continuávamos teimando com Jarbas Passarinho... nós continuamos teimando em manter Estudos Sociais, que pretendia fazer a fusão da História e Geografia e não fez a fusão de História e Geografia, eu, professor de História, entrava para dar História e o Adas para dar Geografia, e, no fundo, continuava a mesma coisa e na escola o professor de História dava História, e o de Geografia, dava Geografia, e eu digo isso porque escrevemos uma série de livros de Estudos Sociais, vendemos um milhão e 16 mil livros de quinta e sexta séries.  Quem dava aula de História uma parte do livro que cabia História, o professor entrava para dar História, muito embora o Adas e eu tenhamos feito uma [...] naquilo que foi possível na capacitação da época realizar uma fusão das disciplinas e, por isso, professor de História dava História e professor de Geografia dava Geografia, pois o Spinelli, ele acabou com o curso de História e Geografia introduzindo o de Estudos Sociais... acho que foi muito bem sucedido e foi capacidade dele interceder que não tem mais alunos de História e de Geografia, pois o campo estava aberto para Estudos Sociais, ele imediatamente soube virar essa capacidade de enaltecer o velho, e perceber como o homem do mercado escolar, se posso falar assim, iniciativa privada seja educação percebendo é que o mercado estava pra determinado tubarão, era melhor que o mercado para piau, invés de pescar piau, vamos pescar tubarão. Quer perguntar alguma coisa?

 

E.: Quando o Sr. chegou, que cadeira o senhor assinou?

J.D.: Eu era do Anglo... eu era desde o começo... que eu passei a dar quando entrei na faculdade. Eu estudei quando vim do Acre, jovem, 28 anos... com odiaria [sic]... eu vim sem eira nem beira da roa [sic]? Minha vida depois que voltei do seminário, que o ensino na Bolívia não pode ser aceito no Brasil, tive que fazer o primário, a escola superior... estava no fundamental se quer continuar ou se que sair eu estava, nesse momento... estava entrando num momento de reflexão... eu saí eu fui para o Acre, eu fui fazer a oitava série... fazia a quarta série do primário, aí fiz a quinta, a sexta, a sétima série e a oitava, eu mudei para São Paulo e, em São Paulo, a não ser esse meu saber escolar... o curso de datilografia eu tinha sido bom datilógrafo, na época, diploma hoje até hoje guardado [vira] uma lembrança... queria a gente nem sabe para que mais muda de casa e vai e é como teus lobros [sic] tem ois que você não sabe para que e vai transportar tudo... bem eu tentei uma escola estadual, mas, naquela época, na Barra Funda tinha vestibular, tinha vestibular, mas eu tinha sido do seminário: sabia falar latim, falar não é ler, não... vividos anos dentro do seminário, aprendendo, e eu respondendo, eu tinha algum destaque, passei na Barra Funda mas não dei conta, que eu tinha que trabalhar o dia inteiro e estudar à noite. Larguei. Não acompanhava. Com exceção de latim, português e espanhol, naquela época tinha. Meu filho! Eu passei por esses saberes só que há outros saberes aí... você vai perambulando por aí. Espaço escolar, liberdade paga, desempregado, emprego na Praça da Sé, né? Dona Petrolina levantava cedo para ir trabalhar, eu estava procurando emprego onde é o Anglo, era uma escola secundária... entrei, e uma senhora me atendeu, chorei minhas mágoas e selei [comecei] a estudar a oitava série antes de arranjar o emprego, mas eu conversei com Dr. Vitor, você estuda aqui, come aqui e varre as coisas, coisa que o mundo só acredito que existe Deus depois que você vive. Arranjei emprego, as relações me colocaram de auxiliar de escritório; fiz toda a oitava e colegial, quatro anos na escola particular me dando comida, estudo e, de vez em quando, ajuda com um dinheirinho porque, embora trabalhando, eu passava vassoura no restaurante, refeitório da escola dele. E ele me disse [que] eu era um bom aluno de História, eu tinha uma ótima professora, e me encantava porque ela era ótima, né? E Dr. Vitor me falou: assim que você escorar na faculdade qualquer que seja o curso, você vem dar aula para mim... eu entrei em História, eu voltei lá ele estava com um jornal, fui comunicá-lo que entrei na USP, e ele me contratou como professor de História da escola dele para dar aula da quinta e sexta série, tinha largado e ele optou de dar aula com o Dantas, que tinha confiança do que ele contratar um pessoa que ele jamais viu. Exatamente isso, então, por conta dessa relação que estabeleci com o Dr. Vitor, que é um outro homem que guardo na minha memória afetiva, e chorei muito no enterro dele, em São Paulo, tínhamos contatos por conta dele, acho eu enveredei pela História, então a História que trabalhava [na quinta série] se dava História do Brasil, e na sexta, Geral, que era, na verdade, Idade Média na sexta e na sétima, que eu não trabalhava, ela trabalhava com o resto. Quando eu vim para a Mauá, eu vim trabalhar com Brasil, meu querido amigo, de quem eu gostava muito que já faleceu, o figura de Ribeirão Preto, não podia fazer nada ali na escola. Eu nunca ia na sala. Entre eles eu vou citar o Presidente da Câmara de Ribeirão Preto é o pai do vereadorzinho, que foi eleito agora, Marcelino Romano. Eu dei minha primeira aula e prova no final do ano, eu voltava e ele estava no segundo ano, e dizia mais o Valinho... o Macário passou... ele kkk passaram em exame de segunda época e você acha que o Macário Dantas, você quer dar murro em ponta de faca... kkk... você fica puto na , aí ele vai [para o] segundo ano... a primeira aula ele aparecia, e uma vez tive o prazer de pergunta isso, é (sic) prazeroso essas lembranças, é prazerosa essa lembrança, você acha que eu vou reprovar o Presidente da Câmara? A escola depende da aprovação dos cursos de Brasília... kkkk..., olha não acho que isso é nenhum desprezo, hoje, para mim, é... tem esse sentido entendeu? A Mauá não está aí hoje não sei se vigorosa, vocês são meus amigos, trabalham na Mauá, se ela não tivesse que nenhuma instituição de ensino, consegue ser o que não é, ou que é, se não tiver professores qualificados, não estou puxando o saco, conheço outros qualificados, a da Barão, não sei que curso de pós, por conta de uma semente que tá lá atrás, seja do Spinellão, seja do Spinellinho, seja do Nicolau. Que seja os concessores dele, que eu não conheço bem, que tão levando a Barão para frente e, provavelmente, graças... graças aos professores que lá conseguiram reunir e manter porque não é fácil manter professor qualificado dando aula de História do Brasil, para todas as turmas para História e Geografia, uma disciplina  que dava, e depois, com o fim da História, Passarinho, Mauá acabou História e Geografia acabou (sic) mesmo, e se eu não me engano, e acabou a ter Estudos Sociais, e eu continuei dando História e Geografia. Parece q era assim.

 

E.: Como eram suas aulas?

J.D.: Eu sou um professor de cursinho, né? Ser professor de cursinho muitos anos... comecei em 65 baú [sic], em 65 entrei na faculdade, fui para São Paulo, no Anglo Latino, já tinha, né? Porque dava aula para quinta e sexta série... então ser de cursinho não é só um ministrado da aula, porque a aula é de fazer o menino, o adolescente, querer ter aquela aula kkk ai que bom eu dizia... que ser professor de cursinho não é o PRF das teorias das longas do cursinho, você ousar fazer alguma discussão um grupo 2 10 [sic] na sala de aula uma só aaaaaaaaaula aí tá matando aula, era assim no cursinho, não precisa hoje, aqui no Sabin, que eu dei algumas aulas que eu dei algumas aulas há pouco... tem ainda... era qualquer discussão de um tema às vezes que você considera importante e de repente você vê uma sala de 60 para 12 que são os que querem, os que querem ouvir além do que o vestibular é sé a escola? Escola em Ribeirão Preto na cooperativa achando que tinha a escola, não é bem assim não há uma padronização muito poderosa do ensino da escola média, que padronização burra... padronização ignorante padrão, que o sucesso se chega ensinando as coisas em doses homeopáticas, você e eu fizemos... vocês ainda fazem na UNE, seguindo a profundidade que  a disciplina de vocês tratam e merecem, é isso..., a aula que você perguntou, né? A aula é mais que eu... uma aula, eu diria, é menos do que uma aula... ela precisa ser fechada de jocosidade, de piadinhas, mesmo interromper a aula para contar uma piada na aula... ou contar uma piada como muitas vezes quis, hoje eu tenho uma piada para contar, mas nem todas as moderes [sic] SAE eu tô falando de mais de 20 anos atrás... algumas moças não ficavam escandalizadas, as piadas sujas que eu contava, né? Esses dias eu estou numa oficina, fui levar meu carro, oi Dantas, eu disse, pois ele me contou uma piada muito maravilhosa, que contou um Dantas, que contou há 40 anos atrás [sic], né? Aí nos abraçamos, e ele dizia: “Dantas, eu jamais esqueci aquela aula, que não era piada alheia... ah, o que você estava atrapalhando sempre, já pensada por outros que tem a ver com aquele cenário, que vista desenhando... eu também [fui] muito esse professor na Mauá. E eu acho que eu fiz algum, sem falsa modéstia, o resto Calmon... sucesso eu tive, foi esse que me lembrou para o coordenação  para o cursinho, o dobro de todos, a remuneração do coordenador eu e o Adas, porque foi motivo, por muito tempo, de muita briga por nos considerar “puxa-saco” dos Cury, quero dizer que os Cury também são espertos empresários, baú [sic] deixaram nosso salário crescer na mesma proporção que estavam os outros, o dia tanto os salário do Adas e do meu não porque os dos outros cresceu [sic], os nossos não cresceram, sob nosso consentimento, nós já tínhamos nos tornados dependentes do COC, e não dependentes da Mauá, e tem a questão da desp dpi professor, você tem a família e nós, da classe média, nos habituamos a ter uma padrão que é difícil em perder e aquele padrão, morador da Lagoinha, bairro de classe média, um dos poucos novos de Ribeirão Preto, onde eu morava em uma casa boa, com piscina... pra quem morava num apartamento espremidinho na Aclimação; na Lagoinha, era um padrão, um esforço, nos habituamos a viver um padrão o que dificulta qualquer ´rpf a ter foca pra reagir pra lutar, né? Contra... eu tive uma cena por causa disso, mas a necessidade de aumentar os salários, e um dia um professor de Biologia, não sei por qual razão, me chamou de “puxa-saco” dos Cury. É, na minha, joguei na cara dele também foi um absurdo, eu tinha uma vida dentro do COC, eu lutava pra que o professor que ganhava metade de mim, ganhar o meu salário, eu tinha de si mesmo, completamente porque eu aproveitava de ser o professor que o COC precisava e o Adas também. mas eles conseguiram por conta desse padrão, que você vai conquistando e engolindo os sapos até o ponto de meu salário era como disse e o meu e do Ada caíram não sofreu os memos aumentos depois de 10, 15 anos de escola, e essa, e dos outros acaba equiparando a um professor de Brasil, e minha história era um misto de atividade didática da disciplina, com muito anos de bagagem de cursinho, muitos desde o Cailou vestibulares, isso em 67, 66, que me deu uma capacidade de fazer em aula de História, mais que uma aula de História, a minha aula era uma que..., né? Se não fosse muito, provavelmente não teria sido o professor que fui em Ribeirão Preto, requisitado como fui em Ribeirão Preto; não sou mais o professor requisitado, porque, por incrível que pareça, tenho procurado aula no Sabin, faz tempo, meus alunos onde sabe o que consigo fazer, mas eu dele teria coragem de me dizer uma verdade... “Professor, o Sr. já tem 70 anos!”. Isso, uma hora, é como meu filho disse, “Vai sossegar, vai andar, vai passear, vai para não sei onde.”. Aposentados assim. Minha amiga, Dulce, tá chegando lá perto, ela tá querendo me desaposentar. Eu preciso trabalhar, enquanto estiver vivo, você vai me dizer isso, vai te faltar uma coisa, de que falta um aluno, de que falta alguma coisa, e que nenhum computador, nenhum texto que você esteja escrevendo, eu leio, por ano, mais de 15 livros, tal tempo que eu tenho tido, mas embora isso me cause muito prazer, mais coisas fabulosas, maravilhosas, um monte de coisas nossas, as construções das antigas catedrais, maravilhas de vitrais medievais, todos maravilhosos, mas é quase nada diante da necessidade de quem sempre trabalhou para sobreviver, faz falta o trabalho... a Mauá é um espaço onde puder exercitar o Brasil e o saber, e os saberes, né? Alguém pergunta, mesmo que você não sabe, e você saber dizer que “Não sei...”, saber dizer que você vai procurar, saber até em cursinho, né? Um dia, na escola Moura Lacerda, um aluno que tinha feito alguns anos de escola, no curso de Jaboticabal, UNESP, estava falando da propriedade rural no Brasil, os males, né? É a melhor coisa do Brasil, que ele tem um filho na faculdade, o que você é uma pergunta, é uma questão que não vai interessar à classe, mas você, como professor, é levado a essa armadilha, é uma armadilha, esclareceu um discussão na classe, ele levantou e disse: “Você não sabe nada de História. Eu, aqui, vou desaprender o que aprendi.” Sai da sala e foi embora, ficou várias aulas sem aparecer, no dia da prova ele apareceu. Ele era um bom aluno, ele foi na sala dos professores me procurar, quis se desculpar: “Você não se desculpa, se a faculdade, a direção da faculdade não tomou a mínima providência com a sua falta de respeito, que você teve...”. Abriu a porta, “E você vai deixar ele passar?”, porque ele desrespeita tudo para mim, ele fez prova, aí eu disse pra ele: “Você tem todas as faltas possíveis, quem vai resolver isso não sou eu, vai ser a escola, eles mandam para o professor, e eles resolvem.”. Ele passou professor de História.

 

E.: E como foi lidar com conflitos políticos na Barão de Mauá?

J.D.: Sabe, eu acho que não teve conflito na Mauá, na sala de aula. O que teve era o conteúdo político, e os intervalos da Barão de Mauá. Os alunos da Mauá, que se interessavam por conteúdos políticos, que na sala não cabia tratar de conflitos políticos. Poderia causar o desemprego do professor Dantas, ou, o chamamento pelo Spinelli, né? Não era o professor do renome do Mauricio ou o Otaviano, e depois, então, eu optei, e isso é por opção mesmo, tratar essas questões fora da sala de aula. Na Mauá, e não fora, só no intervalo, que é pequeno, eu pude tratar em outros espaços da cidade, e um dos espaços por tratar isso muito bem foi dentro do PT; fui o fundador embora hoje não esteja mais no PT, mas esse espaço era um que eu podia trabalhar, homens e meninas que se integravam ao PT, se integraram por conta dessas nossas relações, e muitos jovens que não se integraram ao PT, e se integraram ao PC do B, também se integraram por conta dessas relações, ainda há, no PC do B, jovens da Mauá que permanecem  distantes toda a guinada da direita permanecem... e ligados ao PC do B, o que eu não consegui fazer dentro do PT, e foi assim que eu consegui é... estabelecer essa relação política, o que vocês podem entender é que eu tinha passado por uma situação de sair da sala de aula, e um camburão estar me esperando fora da sala de aula, cheguei a cogitar se o Spinelli teria o poder e a visão de mundo, né? Que me levaram para cadeia várias vezes três meses e quatro meses, aí eu volto mal das pernas, as pessoas na chuva, estou aqui para dar aula e a aula está aí, né? Uma faculdade particular nascendo, em formação, não sei se esse espaço e essa análise que tô [sic] dando é mais pensada, discutida, a análise que fiz. O não passado, não sei se tive muito uma coisa assim, que a gente poderia discutir muito superficialmente em sala de aula, mas questões que tivesse (sic) na ditadura... isso foi muito pouco viável, tanto na Barão, quanto no COC, inclusive no COC pior ainda, porque o caráter da escola COC é um caráter diverso da escola Mauá. Pode tá lá, tá? Era professor de cursinho do Terceirão, e minhas relações políticas continuaram, eu tinha uma relação antiga com o Partido Comunista, era filiado ao PC do B do Prestes; por ocasião do Preste, eu tive muita sorte porque nossos nomes estavam na fundação cultural, foram todos tirados antes da invasão, não sofremos as conseqüências por conta disso, foram poucas as pessoas que os miooitres [sic] conseguiram pegar na associação, tinha muitas maneiras de você trabalhar suas questões políticas fora da sala de aula, seja no COC, seja na Barão de Mauá. Tivesse que trabalhar essas questões na universidade, tinha passado por isso, também tem trabalhando... tenho pós-doc. e você tá fazendo a Crist do memonte [sic] o que você viveu, que você não pode se furtar, mas hoje, se sou questionado, não posso deixar de falar como na universidade pública, também não. A universidade pública vai divergir quem você como professor das suas, como professor por conta, em parte, por conta de suas posições políticas dentro da sala de aula, né? Agora numa privada, hoje, tem espaço pra você.

 

E.: Como eram a convivência com os professores? Tinha (sic) os reacionários e os progressistas?

Haviam [sic]. Havia, há, né? E há. Me permite, e eram muitos na Mauá. Como são muitos no Moura Lacerda hoje, principalmente no Direito, e os progressistas nem são tão progressistas assim, se revelam rapidinho, né? Seja falando mal da condição da mulher, seja falando mal da condição do outro, do diferente, e você já dá pra perceber, né? A mulher sapatão que tinha na Mauá, né? Era uma mulher isolada, e tinha o gay, que tinha lá, era o cara que vinha de Araraquara; na escola, trabalhamos junto também. O professor da Mauá, ele é o professor pra tomar um cafezinho e conversar amenidades, mas Adas, o Osvaldo, o Denizário [Belizário], e outros, o Jesus, era a turma, a “tchurma” que não queria se misturar, ou não se misturava porque não dava liga; com essa eu quero dizer que já tive amizade, neto do dono do Mackenzie, sobrinho do Goldsilva, chamava-se Neto, até o dia que ele foi surpreendido no HC, mexendo na vulva de uma paciente, deu remédio para [a paciente] dormir, e ficou mexendo na vulva da paciente... isso é o direitista perigoso, quer ser meu amigo, ele foi a minha casa, disse que não aconteceu nada disso, essa amizade acabou; eu aceito direitista, mas não canalha, não é isso, mas eu não ao posso ser canalha; então a relação não tô falando dos canalhas da Mauá, porque nossas relações eram superficiais. Relações profundas nós tínhamos com o grupo de São Paulo, que era o que perdeu, que fez a Mauá sem tirar o mérito dos qualificados, dos que nós não tínhamos relações, pra não dizer que não falei de flores. E a outros, mas professores terríveis, porque chegar no Spinelli, você falou isso na sala dos professores e quem ouviu sabe o que ouviu, né? Ele hoje é professor na Mauá, mas assim merece, mas pro Spinelli saber, é porque nós sabíamos que não podiam os fazer religar, muitos que estavam ali tinham passado pelos cárceres da ditadura, que se todos, alguns talvez, outros menos, Maurício perdeu o concurso em Araraquara, dedado por uma mulher de esquerda, mais importante, mulher de esquerda foi a mulher que vetou a entrada do Mauricio em Araraquara, para permitir um cara da direita entrar, porque o Maurício ia competir com ela na política; louca, não é verdade? Então a vida não é, no meu entender, uniforme, ela tem essas cosias [de] que você gosta, que você não gosta, mas que você lembra com prazer, que você lembra com desprazer, é bom lembrar, e é bom também não lembrar, né? Aquilo que eu disse, o afetivo de bem e do mal, as escolhas são nossas... que mais? Acho que o Spinelli era um empresário italiano, tipo mafioso, se puder sabe o que fazer, tipo mafioso, um gato, dá o tapa e tira a mão, não fui eu. Ele sabia, contraditoriamente, conviver mau com o grupo de São Paulo, e conviver com a maioria morando em Ribeirão Preto, que dava sustentação política local necessária, e assim esperto, por trazer pra Mauá não interessa aqui um grupo que dava outro, que ele contradiz, era contra, ideologicamente contra, com toda certeza, absoluta certeza, não tiro nenhum e embora não o conhecesse  bem mal, nunca entrei na casa deles, portanto ele sabia manter uma relação superficial, profunda conosco, e sabia manter uma relação profunda com o grupo local, superficial não tem nada mais do que contraditório o que herdou o Spinellinho, ele era um homem que, em certo momentos, entrava em nossas farras, com as professoras, as sem maridos, das de maridos, mas que gostavam das nossas piadas, das nossas cervejas, não tô falando de traição da mulher casada não, elas são a não ser virtual, que expressão mais correta, na mesa meio doidão, isso não traição de tudo isso, olheiros, amizades locais, manter a relação distante, e perto ao mesmo tempo, longe e perto ao mesmo tempo, então essa contradição é que é a Barão de Mauá que assegurou essa convivência na Mauá a sabedoria do velho que também a gente teve uma tão proximidade ou Spinellão, com amor e consideração, ao mesmo tempo, aí já em Ribeirão Preto, sei lá o que, né? Então Spinelli... a Mauá deve a sua existência ao Spinelli, aos professores, evidentemente... ele conseguiu ter como sócio Fávaro, Fávaro, raposa do dinheiro, se precisa ser craque pelo saber e conseguiu, e impedir que... que um grupo de esquerda, de um dono de escola de direita, o máximo que ele se dizia progressista se é que eu posso dizer isso, fazer isso não, fazer que esse... Esses dois grupos dessem é... condição para a Mauá existir e progredir. Num dia, o segundo grupo de São Paulo deixou de ser de São Paulo, porque não interessava mais à Mauá, ela já estava num outro momento, o grupo de São Paulo também já estava em outro momento; cada um foi se encaixando nas escolas públicas do Brasil, Mauá e nem a Mauá precisava deles, a não ser das aulas, e Adas e eu tínhamos nos tornado ribeirão-pretanos, nós tínhamos nos mudado para Ribeirão Preto, e ao fazermos essa opção, nos tornamos ribeirão-pretanos, e funcionários da Mauá, ou do COC, que no fundo, é a mesma coisa.

 

E.: E o seu Favaro? Tinha a mesma relação  com ele?

J. D.: Não. Nunca. Eu só conheci o Fávaro... passava o dia inteiro sentado naquela cadeira, e a gente se cumprimentava, eu nunca dei a mão ao Fávaro, e ele também nunca, a não ser encontrando na escadinha, me cumprimentar baixando a cabeça, e balbuciando alguma coisa que eu não sei se é olá, olé, bom dia, boa tarde, ou boa noite. Nunca.

 

E.: O Sr foi convocado pra interrogatório nesse período?

J. D.: Não. Nunca fui.

 

E.: E ouviu os outros comentários de quem tinha sido?

J. D.: Não acho que nenhum professor foi chamado para interrogatório. Se foi, eu não sei. Se não foi, é por causa das costas do Spinelli, com o coronel não sei o quê, era uma costa larga, uma costa...né? O Spinelli, talvez esteja repetindo o que vou dizer, sabia costurar a relação da faculdade com seus professores de fora, e era questão de “Eu resolvo isso. Eu, Spinelli, resolvo isso.”. E a questão desses professores com a política de Ribeirão Preto, se havia, ele tratava à parte, mas ele nunca me chamou pra dizer “Cuidado! Alguém tá de olho em você.”. Não. E que eu sabia, quem me contou isso, o Belizário nunca me contou isso, ele é um homem inteligente de esquerda, no molde né? E péssimo professor em sala de aula. Para o aluno da Mauá. Provavelmente não seria para um aluno de escola pública. Pela alta competência filosófica de Fernando de Carvalho, na sala de aula, era melhor fumar um cigarrinho de palha até dar o sinal num espaço individualizado, o que depois tirar do Fernando de Carvalho e do Belizário, porque eu conheci ele [sic] pessoalmente, na casa dele, com longas conversas de horas e horas, de sábados inteiros conversando sobre o Brasil, né? De saberes que jamais imaginei que ele possuía. Para o Spinelli, que ele era o conselheiro da biblioteca, que isso foi mandando pra Bebedouro, para a biblioteca, para isso tem que ter sabedoria, para não dispensar o Belizário, não foi Spinellão, foi depois, quando o Spinellinho não estava mais. Falta de compreender o que a Barão de Mauá mostra, pós-           -Spinelli, Spinellão não era mais a Mauá. Quando o Belizário foi mandado embora, e acusado de incompetência, pela nova direção da Mauá, porque não tinha Spinellinho. E com ele, não é por bondade, não por pena, que o Belizário que ganhava um salário baixíssimo para uma quantidade mínima de aula, sustentado pela Elisa, professora de Português, da rede estadual, porque todo dinheiro que ele tinha, ele gastava com vinho e com livro. Spinellão indicou Belizário para acompanhar alunos, mesmo fazendo mal, mas era o que, fazendo isso, ou não, com competência na biblioteca, é manter um mito que era o proprietário da Mauá, grandeza da Mauá... era um professor tido como de alta competência, né? Pelo corpo especializado, principalmente pelo Sardenberg. Spinelli viu e achou lugar que Belizário, aquele respaldo da biblioteca, que não é o novo daquela casa embaixo, contraditoriamente, Spinellão sabia olhar que não dava liga, mas nada liga... a não ser assegurar a Mauá.

 

E.: Como foi sua saída?

J. D.: Bem, durante a ditadura, passaram [sic] vários anos no COC, e a Mauá me trouxe com aumento salarial. Nem aqueles anos que eles foram da ditadura... a Mauá dava lá galopante na ordem de 12%, 18%, inflação de 200%. Delfim, antes um dia, a Célia, pedagoga, e Eduardo, da Pedagogia e eu conversando sobre isso, quando vem a notícia, um aumento salarial na Mauá. Fui fazê-lo, porque já estava no COC, não estivesse, não ia fazer isso não dependia da Mauá, e queira saber processo na última instância trabalhista, é julgado por juízes diferentes, o meu pedido era cópia do pedido do Eduardo e da Vanda. Eduardo era parente de Spinelli, eu herdei, em última instância, a Aparecida, não sei se ainda tá na Mauá, ficava naquela salinha, ela que foi testemunha contra, a favor da escola e contador foi o que ela Mauá e Ro e só e a empresa Brasil, sabe que no dia do processo o advogado de Brasil mandou uma carta falando que não podia ir, que o cara não tinha nenhum processo. Não tinha ido para um processo, eu perdi minha porcentagem, no mesmo dia, eles ganharam eles receberam indenização, tanto que a quadra de esportes da Mauá foi passada pro Cravinhos, ele recebeu a quadra de esportes da Mauá, vendeu, pagou a dívida lá que a quadra tá, que nessa altura já tinha se separado, e ido para o Rio de Janeiro, vendido tudo aqui e ido aqui, e eu recebi, eu acho, que foi 500 reais ao advogado me cobrou 2230 cruzeiros, a mesma proporção que eles ganharam, aí você se colocou contra a Mauá, passou tempo, muito tempo, eles me convidaram pra...? E eu fui, não era mais o lá o linho que tinha sido meu aluno na Mauá kkkk era um pouco kkkk esse você também não vai kkk, entendeu? Então voltei pra Mauá, 86 era, fiz o concurso público na faculdade, e no dia da posse, o [?] disse “Eu não vou reconhecer seu doutorado “. Kkk Cada coisa de ditador, o cara não perde vício, o PRF do doutorado... eu era do regime antigo da USP que você era obrigado a fazer pós e podia fazer pós-doc direto, eu não faria mestrado, eu já estava trabalhando em Ribeirão Preto, e estava trabalhando em campo e veio comunicado, “Você tem que entregar semana que vem a tese, semana que vem porque vence o prazo das teses antigas.” O regime antigo tive eu... não estava aí eles montaram uma banca, e evidente que eu ia ser reprovado, a pesquisa com os dados zeros todos comentei tudo no que qualquer era para fazer isso, aí me deram um prazo 6 meses, eu juntei as coisas tinha conhecido o presidente, o da banca, mas quem via a tese disse não a banca vai ter reprovar aí... tinha aquela, quadra do magro que dava em Araraquara, q fui convidado para trabalhar no curso de História Antiga. Eu ouvi dizer que o professor ainda estava na Mauá. No COC, isso foi 76, 74, na Mauá. Um amigo do conselho estadual de educação, ele era presidente do conselho, ele pode dar a tese para uma instituição municipal, como a de Franca, que tem fundação, aí descobri que nesse havia toneladas, inclusive o Jesus, que morreu... Jesus foi mandado para uma capital perto de Rio Preto, e eu, para São José do Rio Preto, entrei com processo no conselho, o conselho nomeou uma banca de Araraquara, Conceição, e mais as ações dentro da faculdade, as coisas mais poderosas que a gente pode imaginar dentro da pública. Na privada a guerra é outra, a guerra é outra AL [?] ura pelo emprego na pública não é o privado, as amizades da pública não são as que há na privada, não que lá na pública não tem rasteira, e aqui tem, essa gente, minha querida Conceição, a Silvia Carvalho me mandaram para Ribeirão Preto, e nomearam dois professores da USP, e o Manuel gasrica [?] História nessa História, eu rinha engendrado algumas coisas no trabalho, ou defendia, ou ia para o buraco, começar tudo de novo..., eu devia ter feito isso, eu devia ter feito, eu nunca levei tanto fumo das minhas amigas, e amigos, com exceção da Silvia, que foi quem me defendeu, o cara que foi nomeado o presidente da banca não sabia nem o que estava escrito na introdução, sabe que abriu a fala dele dizendo “Eu nem sei do que se  trata isso, eu fui nomeado pra banca...”. Que por acaso é o cara que, no meu casamento, eu convidei o cara pra ser padrinho no civil, pôs uma moeda no bolso, e me deu uma moeda de 10 centavos, e me deu como lembrança do casamento esse rao [sic] o cara que era meu amigo, era professor da minha banca, filho da puta desse ehiine [sic]? Ele nem sabia o que tava lendo, e o... ? que eu sou da área de Geografia também tinha feito uns cursos com o Petroni, a gente  tinha olhares, conversas eventuais, foi que assumiu a defesa foi o Dantas, que fez a defesa, ele não tinha o que falar, é isso, é isso, é isso, a me dizer que isso é uma leme eu ouvia anelão quase que calado, o que aquele era um punhado de tabelas incompletas, que eu fiz, e que no final me aprovaram, lá, os amigos de universidade pública, alto o cara aí é pessoal, não é? Porque algumas coisas piores que as minhas conheço, que eu li na biblioteca da Mauá, eu que fiz, quem fez cada uma cabeluda! Mas enfim, o trem vai passando, você vai se envolvendo, trabalhei 20 anos no Acre, e fui um monte de vezes às tribos, aos seringais, entrava em três dias de calor, subia o mangue no seringal, a minha livre docência, queria fazer tô até agora nas minhas memórias afetivas, de tudo que eu transcrevi na selva do Acre, de graça, vozes de políticos, né? Ou se apresenta, ou corre risco de perder, então não joguei fora, tô usando entrevistas gravei, paguei para alunos fazer a transcrição, tenho tudo transcrito, agora essa memória afetiva tá me levando ao material que eu colhi a vida toda.

 

E.: Eu queira agradecer ao Sr., a entrevista foi ótima, nós queremos deixar um convite para um segundo encontro, por motivos..., se o Sr. aceitaria para o segundo semestre.

J. D.:  Me avisa um pouco antes, mas foi um prazer.

 

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