sábado, 19 de outubro de 2013

Das “ricas”

Das “ricas”

Postado em 10 de Fevereiro de 2012 às 17:02 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza



Uma série de fatores se somou à eclosão da Revolução Francesa, dente eles a fofoca. Baseadas em alguns aspectos reais, o boato acrescenta ou mesmo reinventa o ocorrido ou o dito. Não por acaso, o diz-que-diz-que antecedeu a Revolução Francesa, denunciou as festas, os bailes, as orgias e a opulência da nobreza e de seus cavaleiros e cavalheiros. 
maria antonieta foi decapitada na revolucao francesa maria antonieta foi decapitada na revolucao francesa
Como não poderia deixar de ser, na longa história da discriminação e dominação das mulheres, um dos alvos prediletos do falatório revolucionário foi a Rainha com seus hábitos e costumes. Deste ponto de vista, guilhotinar a soberana estrangeira com todos os seus símbolos de distinção face aos franceses era uma questão de honra para muitos homens que não pouparam esforços para que Revolução Francesa não alterasse as relações de gênero – que o diga Olympe de Gouges.
Assim, a fagulha que faltava para sublevar o povo miserável, doente e faminto contra a monarquia foi o estilo de vida esnobe face aos “sacrifícios” vividos pelos burgueses para produzir, comerciar e enriquecer e, como não poderia deixar de ser anunciado, gerar trabalho/emprego para os seres humanos dos andares abaixo. Põe abaixo nisso!
Passados mais de dois séculos, a nobreza aprendeu que suas trocas simbólicas – que ainda perduram – não poderiam ser vistas por todos, quer fossem capitalistas ou proletariados, súditos ou cidadãos. E, neste ponto, elaborou toda uma ritualística de legitimação em que usar roupas de magazines é apenas um dos intrincados detalhes. Esta ritualística é tão importante nos tempos da “ditadura mercantil-cidadã” contemporânea que até a primeira dama dos EEUU faz o mesmo. Em nome da manutenção da posição na cobertura do edifício social a elite das elites controla, em público, o que pode ser visto e notado por todos – diria mesmo, até publicado. Não à toa surgiram @s model@s profissionais pagos para exibir o que apenas alguns consomem.




as "mulheres ricas" foram decapitadas pelo capitalismoas "mulheres ricas" foram decapitadas pelo capitalismo


A festa das “Mulheres ricas”, no Brasil, evidencia que a lição não foi aprendida – quer no sentido supracitado, quer no sentido feminista. Não por acaso, uma das protagonistas ridicularizou as conquistas de tantas ilustres mulheres que a antecederam numa frase ligeira. Em resumo, embora componham certa elite econômica não são portadoras de outros símbolos como uma educação capaz de dar conta dos significados do mundo contemporâneo e os desafios da mulher no século XXI em face de sua história de opressão, dominação e exploração. Pelo contrário, compactuam com esta história ao desmerecer a atividade cidadã das mulheres que as antecederam e que, graças a estas, as mesmas “mulheres ricas” podem hoje escolher entre a arte de produzir jóias, arquitetar, pilotar ou “esnobar”.
Mas, o que realmente choca é o fato de que o programa banaliza e mesmo “critica” tantas teorias que asseveram que “uma vez resolvidas as questões de subsistência” a tendência seria a busca de questões “´espirituais´” devido a uma certa “hierarquia das necessidades”. Não, a futilidade venceu! O capitalismo decapitou suas senhoras e as transformou em vitimas da futilidade – por “escolha própria”. 
Em outros termos, se, no passado, as mulheres tinham na vestimenta uma das poucas formas de expressar suas emoções em público, as que hora podem muito mais que isto abriram mão do direito conquistado pelas feministas em nome do poder que lhes é concedido: o de repetir a exploração e a dominação do macho com as classes dos andares de baixo.

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