O risco mora ao lado?!
Postado em 01 de Março de 2012 às 16:03 na categoria Caleidoscópio
Wlaumir Doniseti de Souza
A democracia tem algumas parceiras históricas sem as quais não seriamos a sociedade que tem laborado para existir desde o Iluminismo. Dentre estes parceiros os mais propalados são a liberdade – em suas múltiplas facetas –, a igualdade e a racionalidade. Para além destes há consortes menos alardeados, sem os quais não seriamos o ocidente que somos: secularidade e laicidade.
A democracia tem algumas parceiras históricas sem as quais não seriamos a sociedade que tem laborado para existir desde o Iluminismo. Dentre estes parceiros os mais propalados são a liberdade – em suas múltiplas facetas –, a igualdade e a racionalidade. Para além destes há consortes menos alardeados, sem os quais não seriamos o ocidente que somos: secularidade e laicidade.
Graças (nenhum trocadilho com a religião) a tais conceitos e posturas laicizantes e secularizantes é que podemos ir a médicos sem correr o risco de sermos vistos como infiéis; ou falarmos sobre nossos desejos afetivos, emocionais, intelectuais e sexuais sem acabar na fogueira; que as mulheres e gays puderam avançar na conquista e reconhecimento de seus direitos sem serem acusadas (por todos, claro) de satanismo ou bruxaria ou bestialidade. A lista é quase infinda e gera um consenso, não há igualdade de gênero possível onde a religião é um bastião inquestionável.
A disputa por espaço (ou seria controle das mentes) da secularização e da laicidade com a religião não está superada em pleno século XXI (da era cristã, olha a religião, mais uma vez) apesar de, no século XIX e XX ter encontrado pessoas capazes de embaralhar as cartas em favor do pensamento crítico.
Não por acaso S. Freud – misógino (?) – ao abordar a sexualidade humana foi publica e duramente criticado e recriminado. Freud tocava em uma ferida fundamental do pensamento judaico e cristão – o papel do sexo e da sexualidade. Todavia, foi incapaz de ir além e libertar a mulher de uma posição desfavorável, apesar de contribuir com o pensamento laico e secularizante.
É neste amplo contexto que vemos o caso da “Psicóloga” Marisa Lobo. Diante da “estratificação social” legitimar-se, em boa parte, pelo diploma universitário e, mais, tornar determinadas formas de pensar válidos, busca-se o diploma universitário como trampolim social, sem permitir a influência dos princípios racionais da Ciência, quer secular ou laica. Mais que isto, como os diplomas são requisitos para determinados concursos públicos cumpre-se o ritual, mas sem alterar qualquer forma de pensar e sentir atrelado ao religioso.
O desafio não é pequeno. Não por acaso que estes grupos falam mais de Deus em suas entrevistas e atividades “profissionais” do que em ciência. Seus pensamentos e posturas não seriam aprovados por seus pares acadêmicos diante da inverificabilidade do que asseveram. Todavia, em boa medida, distribuem e consolidam preconceitos sem perceber, no caso das mulheres, que pregam contra si mesmas.
Como pensamento autônomo no Brasil é um privilégio de poucos, bem poucos mesmo, colhe-se o que se plantou em nossas redes de ensino: um pensamento ligeiro, nada crítico ou reflexivo para além do acho. E, mais, chancelado por igrejas que controlam com “voto de cabresto” boa parte de seus fiéis. Ou aprimoramos nossos modelos educacionais ou a ignorância vencerá como tem demonstrado o fato de psicólogos que agem em detrimento de sua ciência. A equação não é fácil quando assistimos os mais diferentes políticos partidários se ancorando em igrejas e templos para se sufragarem.
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