O útero enquanto razão de Estado
Postado em 24 de Agosto de 2012 às 15:08 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza
Ao longo da história da humanidade, uma das permanências, no que diz respeito à mulher, foi o dever de gerar vida. Até os dias atuais, essa é uma questão que suscita debates e discussões acaloradas, além da intervenção do Estado, em um aspecto privado da vida. Os argumentos dos que protegem a geração da vida como dever e dos que defendem o direito de escolha da mulher são os mais variados.
Propala-se a vida como bem supremo e de valor incalculável. Todavia, no cotidiano, assiste-se e participa-se da manutenção da propriedade em detrimento da vida. As contradições não são poucas e, para enfrentá-las, mulheres e feministas têm tido um caminho árduo na argumentação e defesa de seus argumentos, sobretudo em países “periféricos” do sistema mundo, visto que, nesses territórios, os interesses de Estado se sobrepõe patriarcalmente aos interesses das mulheres.
Ao longo da história da humanidade, uma das permanências, no que diz respeito à mulher, foi o dever de gerar vida. Até os dias atuais, essa é uma questão que suscita debates e discussões acaloradas, além da intervenção do Estado, em um aspecto privado da vida. Os argumentos dos que protegem a geração da vida como dever e dos que defendem o direito de escolha da mulher são os mais variados.
Propala-se a vida como bem supremo e de valor incalculável. Todavia, no cotidiano, assiste-se e participa-se da manutenção da propriedade em detrimento da vida. As contradições não são poucas e, para enfrentá-las, mulheres e feministas têm tido um caminho árduo na argumentação e defesa de seus argumentos, sobretudo em países “periféricos” do sistema mundo, visto que, nesses territórios, os interesses de Estado se sobrepõe patriarcalmente aos interesses das mulheres.
Assim, o século XX viu, e o XXI parece dar continuidade, a maior parte dos países ricos regulamentar o direito da mulher escolher sobre a concepção, em diferentes momentos da mesma, da prevenção ao aborto. Interpretar esta questão não é tarefa fácil, e dizer o que é preciso demanda um “delírio literário”.
Os países ricos não apenas reconheceram uma das máximas feministas “meu corpo, meu direito, minha escolha”. Foram além, ou seria aquém? A legalização do aborto foi um anátema contra a mão-de-obra barata e farta. Simples e terrivelmente econômica a razão. No momento histórico de enriquecimento e de paz destes países, em que não mais fazia sentido ampliar a população, visto que era possível transferir para os países mais pobres as etapas de produção que demandavam mão-de-obra farta e barata, sem perder o controle do sistema produtivo, a lei do aborto passou a ser uma necessidade sistêmica.
No verso dessa tela, o anátema de contrapartida: à maior parte dos países pobres, foi a inviabilização da legalização do aborto para que não se controlasse a expansão da população e, deste modo, fossem mantidos braços suficientes, em patamares satisfatórios, na disputa de salários baixos no mercado internacional. Assim, para esses Estados, a prevenção à gravidez é legítima e basta por si mesma.
Todavia, essa “trama” não poderia ser dita em voz alta, afinal, a defesa de vida deve ser alardeada como a mais importante questão humana, e não como propriedade e como mecanismo de produção de lucro. Dito isto, lubrifica-se a engrenagem com argumentos sobrenaturais para que todos possam dormir tranquilos, enquanto mulheres pobres morrem em abortos clandestinos, ao passo que as nascidas na elite refugiam-se em viagens de turismo com um único fim — o fim.
Apenas como ilustração desta questão, mas em outro tema histórico, basta lembrar as Cruzadas da Europa para Jerusalém. Enquanto para o ser humano comum a demanda era principalmente religiosa, para a elite do sistema a demanda era econômica, num controle de rotas e entrepostos que hoje poderiam ser comparados ao do petróleo.
Pálida humanidade.
Dizer o que é preciso demanda ouvir as mulheres.
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