Salvo melhor juízo
Postado em 28 de Dezembro de 2011 às 14:12 na categoria Caleidoscópio
Wlaumir Doniseti de Souza
Faz parte da História do Brasil recente a República Velha, a Nova República, entre outras denominações. Elemento interessante é que não contamos com nomeações que valorizem o termo Democracia – como, por exemplo, Nova Democracia. Isto não é mero acaso.
Faz parte da História do Brasil recente a República Velha, a Nova República, entre outras denominações. Elemento interessante é que não contamos com nomeações que valorizem o termo Democracia – como, por exemplo, Nova Democracia. Isto não é mero acaso.
Como fator decisivo, nesta República que também diz atender por democrática, para manter a ordem fez-se necessário organizar uma longa engenharia institucional que encontra sua forma mais lapidar no direito, na lei. Esta ordem legitima de direito, mais republicana que democrática, foi planejada de maneira a manter os andares superiores, quer das classes sociais ou de carreiras estratégicas fundamentais para a manutenção desta ordem, em situação confortável nos mais diferentes sentidos: passando pela lei de falência, a questão dos recursos processuais quase infinitos; a privilégios legais de determinados cargos ou funções de Estado, sem falar no salário.
Nesta pirâmide da ordem, a toga e seu cortejo ocupam um espaço central. O debate do que seria direito e o que compõe privilégio nesta área poderia gerar terabyte de informações. E, poderia passar totalmente despercebido pelo cidadão comum se não fosse o caso atual do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O CNJ foi organizado no ano de 2004 – muito tarde diante da CPI do judiciário de 1999. O simples fato de institucionalizá-lo já era uma demonstração de que nos andares superiores do Estado e da nação os problemas não eram nada pequenos para se manter a ordem. Se havia suspeitas, a gritaria atual contra os procedimentos da Ministra Eliana Calmon evidencia que a problemática pode ser bem maior do que se poderia conjecturar.
Possivelmente, o maior crime de Eliana Calmon é tentar fazer funcionar uma instituição que poderia ser honorífica. Traz a tona uma problemática, a de que quase metade dos juízes de SP não apresentou suas declarações de renda entre outros detalhes como fortunas pagas para subsidiar moradia. Como se isto não fosse pouco, temos ainda o fato de que alguns preferem desqualificar – do ponto de vista machista – a Ministra com argumentos nada profissionais. Isto se faz ao utilizar expressões como atitudes “emocionais” ou busca de “calma” nos procedimentos. Ou seja, nas entrelinhas históricas do poder do macho leia-se: “ela não tem as qualidades necessárias (as masculinas de racionalidade) para o posto que ocupa”.
Num trocadilho, poder-se-ia inferir: a calma levará a um acordo; o emocional a mais um impulso por uma república mais democrática onde os privilégios não são tolerados, sobretudo quando estes são instaurados no uso inadequado de direitos. Não à toa que a liberdade na Revolução Francesa foi representada por uma mulher com um dos seios de fora.
Feliz Ano Novo!
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