A cada nova eleição é renovada a esperança de tempos
melhores. De uma economia estável e próspera sem inflação e juros baixos, de
uma sociedade mais participativa, de um congresso mais ético e representativo
da vontade nacional, entre tantas outras questões da fé política, como o fim da
corrupção de um mandato para outro.
Quando se elegeu Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique
Cardoso, Luís Inácio Lula da Sivla, Dilma Rousseff e agora Jair Messias
Bolsonaro todas estas questões de fé política estavam presentes. E, cada vez com
maior vigor a busca de um representante que tivesse um governo onde não
houvesse corrupção. Recordando que este ciclo democrático iniciou-se sob o lema
das cores da bandeira na busca do fim dos marajás. Seria o fim da Nova República?
A busca do povo por um governo e um Estado honestos é
legitima e, mais que isto, demonstra que a crise sucessiva, e até aqui infinda,
que se vive neste País tem esgarçado cada vez mais o tecido social que
viabiliza a solidariedade social. E, contradiz, o complexifica o dito popular
de que o governo é a cara do povo. Ao menos na busca da honestidade parece
divergir nos anseios.
Todavia, se no passado a dependência de instituições para
organizar movimentos era premente o que equivalia a dizer que se veria mais do
mesmo na política. Agora, com as redes sociais altamente popularizadas no
Brasil, elas se tornaram um veículo que podem fazer eclodir insatisfação
generalizada por movimentos de ação direta cada vez mais reais no cotidiano. O
que remete ao fato de que ao sistema econômico capitalista que se alimente de
crises somou-se a crise constante na política.
Em boa medida isto se faz pelo desgaste das instituições que
deveriam representar o povo ou interpretar sua vontade: os três poderes.
Interessante notar que a insatisfação que seria dirigida principalmente aos
políticos por não representarem a nação tem se movimentado contra o judiciário
e , agora, também, os professores pelo discurso mesmo da política partidária.
E isto faz parte do processo histórico de transformação do
projeto burguês que teve na origem a cumplice da ciência e da filosofia. A
ciência com seu saber prático, metódico, testado e validado desbravou o mundo
para o avanço do lucro burguês e desmistificou o poder da religião e da
metafísica que legitimavam as monarquias, eram as raízes da razão instrumental.
A Filosofia, por sua parte, elaborou todo o discurso para legitimar a
propriedade privada e a representação social via eleições (de burgueses) e da
tripartição dos poderes democráticos e republicanos.
Assim, se o projeto burguês se contrapunha ao monárquico,
logo o projeto burguês faria emergir o seu contraditório. E isto se deu para
além do povo, isto ocorreu sobretudo no século XX com a popularização da
ciência que saiu do privilégio burguês e se espraiou pelo subproduto do capitalismo,
as classes medianas, de onde a conscientização constante deste grupo que os
interesses burgueses não eram os seus.
Boa parte destas classes medianas dedicam-se aos ramos da
ciência que permanecem cumplice, e por isto mesmo mais bem remuneradas, com o
projeto burguês de ampliação do lucro a qualquer custo social. As áreas técnicas e teconológicas líderes por
excelência da manutenção e avanço da razão instrumental.
Contudo, as humanas, que outrora legitimaram o projeto
burguês de democracia republicana, ampliou seus horizontes para perspectivas
não gratas a burguesia. As questões sociais. Isto foi uma ruptura na
interpretação da realidade que se aprofunda com as teorias críticas do sistema.
Uma traição ao burguês que teve como principal aliado de seu projeto político e
produtivo a ciência e a filosofia.
Isto posto, a burguesia reage àquela que seria sua matriz de
pensamento e busca pôr freios a esta produção de saber e celebra seu casamento
com a religião. É o coroamento do pensamento conservador. Mas, para cada tempo
sua religião predominante é construída aos moldes dos interesses a legitimar.
No nosso caso é o lucro o deus a ser contemplado encontra melhor espaço na
teologia da prosperidade mais ampla entre evangélicos.
Passo a passo em meio a redes sociais que são o paraíso do
senso comum vê-se a ciência e professores serem questionados por piadas e
trocadilhos aparentemente pueris, mas que tem como pano de fundo deslegitimar a
ciência humana em nome da religião. Uma melhor parceira para o projeto burguês,
pois que desenvolve servos em meio ao que seria cidadão.
Assim, edifica-se uma contradição mais profunda no projeto
burguês. A necessidade da aparente irracionalidade e do caos em seu devir aos
olhos do povo. O espaço propício a revolta do senso comum diante do fracasso do
projeto neoliberal em andamento.
É neste contexto que se inscreve o lema de Jari Bolsonaro –
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos; e o projeto “Escola sem partido”. É
um lema que apaga as individualidades cada vez mais valorizadas pelas ciências
humanas e professores, e negada pela
religião ao (in)por modelos para todos numa negação da contradição entre
maioria e minorias.
O caldo está pronto. Veremos a que nos levará em meio ao
senso comum e da religião em detrimento das ciências neste governo que se
iniciará.