sexta-feira, 8 de março de 2019

Dia das Mulheres e violência: o problema da “violenta emoção” de Moro


Mulheres, homossexuais e negros são os alvos preferencias do preconceito e discriminação no Brasil. O País é um dos que mais matam estes seres humanos. No caso dos negros e pardos um verdadeiro genocídio feito em nome da ordem. No dos homossexuais é um fragrante da homofobia que faz com que os casos não sejam investigados e os responsáveis punidos. Para as mulheres ascendeu uma luz no final do túnel com a lei 13.104/2015 que tipificou o feminicídio.
Após longa demanda feminista pela igualdade o feminicídio passou a compor as normas do Estado que reconheceu a necessidade de punição específica para o homicídio cometido por questões de gênero. 
Não foi uma demanda fácil visto que o patriarcado ainda mantém forte suas raízes de controle social sobre os femininos nas mentalidades e na práticas cotidianas. Para se ter uma ideia disto, basta lembrar que a eleição de 2018, à Presidência da República, tinha como um de seus slogans, do candidato sufragado, a batalha contra a igualdade de gênero ao denominar pejorativamente os estudos e pesquisas da área de ideologia.
Assim, a mudança cultural que se esperava com a lei do feminicídio ainda não ocorreu e estamos no quinto lugar como o país que mais executa mulheres. Uma vergonha!
E, neste quesito, o Ministro da Justiça Sérgio Moro faz um desserviço a nação feminina ao propor que “violenta emoção” seja um atenuante e até absolvição  daquilo que ainda consideramos crime oficialmente. Ao mesmo tempo presta serviço a interpretação patriarcal da realidade sancionada no presidente eleito. Para isto basta lembrar algumas frases célebres de Bolsonaro sobre a mulher: “Mulheres têm de ganhar menos porque engravidam.” e “Não empregaria mulheres com o mesmo salário dos homens”. É um projeto que está em curso e a exclusão da mulher faz parte como elemento a ser mais explorado.
Isto impactará negativamente, possivelmente, nos julgamentos de feminicídio visto que boa parte do patriarcado permanece vigente nas ideias, práticas sociais, judiciais e policiais.
É uma forma de se reestabelecer o antigo jargão jurídico do crime passional  (além da velha legítima defesa da honra derrubado pela lei do feminicídio) para as interpretações mais rasas da lei em nome da velha ordem sufragada na eleição presidencial.

Paras se ter uma visualização do que poderá ser novamente legitimado, a cada 36 horas uma mulher é vítima de feminicídio no Estado de São Paulo, ou seja, morreu por ser mulher e muitas vezes em sua própria casa e por pessoas que conhece.
Em 2018, a condição de “menosprezo ou discriminação da condição de mulher” registrou em boletins de ocorrência, no Estado de São Paulo, 148 assassinatos. Ou seja, 12% maior que o ano de 2017. E, no ano que estamos, diante da legimitimação na nova ordem, os números só fazem crescer.
Com a Lei do Feminicídio - 13.104/2015 – viabilizou uma brecha na invisibilidade dos crimes contra a mulher, uma vez que passaram a ser catalogados. E, como não poderia de deixar de ser diante da realidade  machista do Brasil, só fazem crescer em registros oficiais o que demonstra 1) o conhecimento crescente do aporte legal, 2) o empoderamento da mulher, 3) as vítimas se libertando da síndrome de Estocolmo.
Os registros de feminicídios no Brasil são de 445 no ano de 2015; 763 no ano de 2016 e 1135 no ano de 2018. O que não quer dizer que impunidade tenha acabado. Pelo contrário é regra diante da ausência de educação formal e sistemática dos agentes do Estado diante desta questão. Salvo o papel meritório das poucas Delegacias das Mulheres que são sistematicamente abandonadas a própria sorte.
Como se não bastasse a violência física, na questão patrimonial não é muito diferente. As mulheres ainda recebem salários menores que os homens em igual função e com igual capacitação profissional. Uma vergonha para qual o atual governo parece não se opor ao não apresentar propostas de superação, pelo contrário, fazer-se cercas por pessoas infensas as demandas feministas quando não opostas a estas.