O anti-intelctualismo em geral
está associado a governos que tendem ao autoritarismo e/ou a legitimação pela
ótica religiosa, entre outras possibilidades, como o fascismo e o populismo.
Não poucos negam seu papel econômico na sociedade, recusando toda a sua
contribuição para construção das competências profissionais das novas gerações
por acusar o viés doutriinário. Coloca sob suspeita o trabalho de professores,
pesquisadores e acadêmicos, criando um
sentimento de hostilidade a estes e ao seu trabalho. É o que ocorre com o
Brasil nos últimos anos com o apoio de Bolsonaro e mesmo por ele patrocinado ao
dizer que há doutrinação nas escolas e defender o projeto “Escola sem partido”
nas mídias sociais.
A demonização de escolas e
sobretudo universidades – com destaque para as públicas, e não apenas estas –
deve-se, em boa medida, por ser uma das políticas mais meritórias do Governo
Federal do Partido dos Trabalhadores. A expansão das Universidades e Institutos
Federais possibilitou o acesso de
cidadãos das camadas mais pobres da sociedade ao ensino de qualidade e o
aprendizado do modo científico de pensar e produzir conhecimento. Negar as
qualidades deste projeto passou a ser uma necessidade para a vitória nas urnas.
Dizer que os professores – das públicas ou privadas em diferentes níveis de
ensino – faziam doutrinação, passou a ser o equivalente da negação do avanço
social contrário a dependência intelectual das nações desenvolvidas.
Ao mesmo tempo, o
anti-intelctualismo demonstra o compromisso com as camadas mais altas das
frações de classe do capitalismo internacional ao inviabilizar uma formação
emancipadora, crítica e contrária a dependência e ao patriarcalismo, que marcam
o Brasil ao longo dos séculos. Inviabilizar o avanço das universidades equivale
a deixar o país em níveis mais baixos para a exploração do capital
internacional. Assim, na OCDE nossos salários seriam mais baixos devido a pouca
ou má qualificação do cidadão pensado enquanto mão de obra não crítica e não
criativa.
Por outro lado, deter o
intelectualismo crítico das universidades e escolas não é suficiente. Ela precisa
da outra face da moeda que se espraia pela sociedade. A religião e seu par, a
violência constrangedora possibilitada por um estado militarizado como espetáculo
de cidadania subserviente. Note que ainda não estamos em uma ditadura. Mas, em
processo de constituição de um governo e Estado autoritários.
Assim, não basta demonizar e
ridicularizar os professores e seus pares e seus saberes – com destaque para a
teoria de gênero. É preciso ir além e atingir outro elemento fundamental, a
arte como elemento que fomenta o pensamento criativo, crítico e autônomo. Isto foi
viabilizado pela crítica constante a Lei Rouanet que entre outros elementos
pode possibilitar ingressos acessíveis às classes sociais mais baixas. Negar a
Lei Rouantet é necessário a um Estado que quer o controle sobre o espetáculo.
No lugar da arte livre se coloca
o espetáculo da religião e dos militares. Nos dois casos o corpo é controlado e
submetido a rígida disciplina onde o condutor central – comando militar ou
padre/pastor cristãos – dão a métrica do que pensar e como agir qual fiscal do
corpo que trabalha . Ver cultos se alastrando pelo Congresso com cantos e
danças e palmas e outros folguedos é o substitutivo raso da produção de “alta
cultura” que se espraiará por uma sociedade abandonada das políticas públicas e
melhor remuneração. Clamar Deus será a válvula de escape de um povo
desempregado ou subempregado devido a pouca educação formal diante da Revolução
Industrial 4.0.
Por outro lado, ir às encenações militares
de patriotismo que deseja o privilégio de não entrar na reforma da previdência,
ao lado de políticos e judiciário. passa a ser um jogo de cena fundamento como
substitutivo da arte livre e crítica. Ver desfiles militares e condecorações ao
lado de bandas e fanfarras é o espetáculo que aplaca os desejos dos
anti-intectuais saudosistas da cebola da Egito onde a presença do presidente
eleito será rotina.