sábado, 19 de janeiro de 2019

Anti-intelectualismo e espetáculo no Governo Bolsonaro


O anti-intelctualismo em geral está associado a governos que tendem ao autoritarismo e/ou a legitimação pela ótica religiosa, entre outras possibilidades, como o fascismo e o populismo. Não poucos negam seu papel econômico na sociedade, recusando toda a sua contribuição para construção das competências profissionais das novas gerações por acusar o viés doutriinário. Coloca sob suspeita o trabalho de professores, pesquisadores e acadêmicos,  criando um sentimento de hostilidade a estes e ao seu trabalho. É o que ocorre com o Brasil nos últimos anos com o apoio de Bolsonaro e mesmo por ele patrocinado ao dizer que há doutrinação nas escolas e defender o projeto “Escola sem partido” nas mídias sociais.
A demonização de escolas e sobretudo universidades – com destaque para as públicas, e não apenas estas – deve-se, em boa medida, por ser uma das políticas mais meritórias do Governo Federal do Partido dos Trabalhadores. A expansão das Universidades e Institutos Federais  possibilitou o acesso de cidadãos das camadas mais pobres da sociedade ao ensino de qualidade e o aprendizado do modo científico de pensar e produzir conhecimento. Negar as qualidades deste projeto passou a ser uma necessidade para a vitória nas urnas. Dizer que os professores – das públicas ou privadas em diferentes níveis de ensino – faziam doutrinação, passou a ser o equivalente da negação do avanço social contrário a dependência intelectual das nações desenvolvidas.
Ao mesmo tempo, o anti-intelctualismo demonstra o compromisso com as camadas mais altas das frações de classe do capitalismo internacional ao inviabilizar uma formação emancipadora, crítica e contrária a dependência e ao patriarcalismo, que marcam o Brasil ao longo dos séculos. Inviabilizar o avanço das universidades equivale a deixar o país em níveis mais baixos para a exploração do capital internacional. Assim, na OCDE nossos salários seriam mais baixos devido a pouca ou má qualificação do cidadão pensado enquanto mão de obra não crítica e não criativa.
Por outro lado, deter o intelectualismo crítico das universidades e escolas não é suficiente. Ela precisa da outra face da moeda que se espraia pela sociedade. A religião e seu par, a violência constrangedora possibilitada por um estado militarizado como espetáculo de cidadania subserviente. Note que ainda não estamos em uma ditadura. Mas, em processo de constituição de um governo e Estado autoritários.

Assim, não basta demonizar e ridicularizar os professores e seus pares e seus saberes – com destaque para a teoria de gênero. É preciso ir além e atingir outro elemento fundamental, a arte como elemento que fomenta o pensamento criativo, crítico e autônomo. Isto foi viabilizado pela crítica constante a Lei Rouanet que entre outros elementos pode possibilitar ingressos acessíveis às classes sociais mais baixas. Negar a Lei Rouantet é necessário a um Estado que quer o controle sobre o espetáculo.
No lugar da arte livre se coloca o espetáculo da religião e dos militares. Nos dois casos o corpo é controlado e submetido a rígida disciplina onde o condutor central – comando militar ou padre/pastor cristãos – dão a métrica do que pensar e como agir qual fiscal do corpo que trabalha . Ver cultos se alastrando pelo Congresso com cantos e danças e palmas e outros folguedos é o substitutivo raso da produção de “alta cultura” que se espraiará por uma sociedade abandonada das políticas públicas e melhor remuneração. Clamar Deus será a válvula de escape de um povo desempregado ou subempregado devido a pouca educação formal diante da Revolução Industrial 4.0.
Por outro lado, ir às encenações militares de patriotismo que deseja o privilégio de não entrar na reforma da previdência, ao lado de políticos e judiciário. passa a ser um jogo de cena fundamento como substitutivo da arte livre e crítica. Ver desfiles militares e condecorações ao lado de bandas e fanfarras é o espetáculo que aplaca os desejos dos anti-intectuais saudosistas da cebola da Egito onde a presença do presidente eleito será rotina.