sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

“É dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado.”: Bolsonaro - 2020

 

A música/oração cristã (católica? de São Francisco de Assis) muito bem sintetiza a cultura política patrimonialista do Brasil e a valida em contornos espirituais. Legitima a ordem ao mesmo tempo que subalterniza as frações de classe abandonadas pelo capitalismo. É dando obediência, submissão e cumplicidade ao patrimonialismo que se recebe cesta básica, emprego e acesso aos recursos do Estado.

Tanto PSDB, PT e agora Bolsonaro não abandonaram esta técnica de poder para manter a ordem política, econômica, social e cultural da Terra Brasilis.

Bolsonaro, visto por muitos como palhaço, ignorante, limitado e doentio, conseguiu fazer com que seus opositores cometessem o maior ato de ingenuidade nas lides políticas. A de considerar seu opositor “inofensivo ou subjugado ou vencido antes do combate”.

O palhaço ou o bobo da corte é aquele que diz anedoticamente o que está no campo da realidade, e que dito de forma nua e crua seria ofensiva ou criminosa, pra não dizer pecado. Não por acaso os ditos e feitos  mais medonhos de Bolsonaro foi encaixado, ingenuamente, como palhaçada. Como se não bastasse esse equívoco na consideração do opositor, ainda o chamam de doente. Sendo doente, aprofunda-se a consideração acima e retira dele a responsabilidade pelo que diz e faz. Sendo doente não cabe responsabilidade ou condenação, mas, antes, apoio terapêutico. Visto como coitado, o mito venceu.



Neste imbróglio da oposição que afirma a “ingenuidade ignorante” de um Bolsonaro, se vê crescer seu poder no segundo biênio de seu mandato. E, até aqui, parece que não será o último, diante do apoio que o mito, que tuto diz e fala inocentemente, ainda tem no eleitorado.

Uma das articulações de Bolsonaro que foi de mestre, e o cacifa para a eleição presidencial de 2022, está posto, em princípio e em tese, na eleição do Presidente do Senado e da Câmara dos Deputados que acena com a possiblidade de ampliar o seu poder sobre o Congresso e as oligarquias políticas e seus caciques.

Usando o lema do “É dando que se recebe. É perdoando que se é  perdoado” conseguiu aliar-se ao Centrão, que foi tão criticado durante a Campanha e parte do primeiro biênio do governo Bolsonaro. Este sabe que não se governa no Brasil diante de três problemas: a oposição do centrão; a investigação e condenação de corrupção; e a não cooptação de votos por meio de verbas, cargos e outras formas mais.

Neste campo do poder e resolvido a governar o aceno para a governabilidade foi dada no dia 7 de outubro de 2020. Em evento público disse: - “Acabei com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo”. Não por acaso que neste evento, no Palácio do Planalto, o Presidente foi aplaudido pelos presentes. O projeto de congraçamento estava mais que lançado, oficializado. O lançamento do projeto se deu com a exclusão de Sérgio Moro do Governo de Bolsonaro, em 24 de abril de 2020.

Com esta frase - “Acabei com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo” - o Presidente chancelava a passagem histórica e histriônica de Romero Jucá “do grande acordo nacional com o Supremo, com tudo”, em 2016. “Com tudo”  inclui os oponentes. Acabar, ou inviabilizar, com a Lava-Jato, ato feito por Bolsonaro, aliançava direita, esquerda e centro. E punha fim a Sangria desejada pelo PSDB no momento em que o mesmo partido poderia entrar na mira da Lava-Jato.

Não por acaso que 1)a pá de cal na Lava-Jato foi realizada logo após a eleição dos Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, no início de fevereiro  de 2021. O congraçamento foi pautado pelo Centrão, entre liberação de verbas, cargos e outras coisas mais. Quais outras coisas mais, entre elas pode-se citar Ministérios, novos ou já existentes. 2) O fiel da balança legislativa, o Senado, teve seu Presidente eleito com votos de todos os espectros políticos.

O Congraçamente está em curso. Resta saber se incluirá a “inocência de Lula” a ser decidida em breve. E, afinal e ao cabo, os maiores condenados serão Sérgio Moro e seu cúmplice(?) Dallagnol por terem servido, a seu tempo, aos interesses imediatos das oligarquias políticas. Mas, descartados por se oporem a Ordem e  Progresso patrimonialista do Brasil? Visto que os interesses imediatos das oligarquias políticas, são descartáveis, assim com seus atores, o que não se diz dos de longa duração, qual seja, “É dando que se recebe”.

Assim, Bolsonaro vai se viabilizando para seguir mais quatro anos além dos quase dois que ainda restam.

O povo? A classe média? Ora o povo! Que assista bestializado entendendo apenas do pão e circo. Circo, aliás, substituído por igrejas. E, o pão, por socorros emergenciais. Numa polarização fictícia que só faz ampliar a fome e o ranger de dentes dos mais pobres.  Ora a classe média! Começa a perceber que em meio a um governo liberal está iniciando a naufragar e que vivia bem melhor nos governos “socialistas” do PT e do PSDB, sobretudo no primeiro. Mas, a ausência de identidade de classe faz fingir a si e aos demais da mesma classe média para não de dizer pobre e em maior empobrecimento.

Leitor. Este texto é apenas mais uma hipótese para se pensar além da polarização.