domingo, 21 de novembro de 2021

Nostalgia

 

Nostalgia

(Wlaumir Souza)

No museu, o relicário

Religando o esquecido à coisa alguma

A ilusão ao murmurinho

- Ploft

A jabuticaba caiu

Ao ver a jaca sorrir

Assim reinventada em magias

Entendeu que o passado

Só existe no presente

Enquanto linguagem que se reinventa

Enquanto humanidade que se fragmenta

Segue relembrando e rememorando e reiventando

Os segundos

Se transmutaram em horas

Os dias

Em anos de furta-cor

Eita força vital

Da memória consciente ou inconsciente

A gritar em céu aberto

De tanta nostalgia

Do que continua sendo em linguagem



 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Janela

 Janela

(Wlaumir Souza)

Triste profundeza do poder entediado

De si mesmo ao largo do encontro!

 

Ao largo

Encontro

Entediado de si mesmo

O poder

Triste profundeza

 

Do poder entediado de si mesmo

Ao largo do encontro

 

Do poder

De si mesmo

Entediado

Encontro ao largo

 

De si mesmo ao largo do encontro!

Encontro

Ao largo

De si mesmo

 

Encontro!



segunda-feira, 1 de novembro de 2021

MORTE

 

MORTE

(Wlaumir Souza)

Preso na vida

Em jaula detida

Aguarda o dia

Cesse essa condenação

Deus pronunciando o nome

Tudo silencie

Numa Via Láctea infinda

Ainda não descrita

Perscrutando os desígnios do Inaudito

Tua existência será cintilância

De uma sinfonia Cósmica

Do Big Bang existencial eternal



segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Liberdade

Liberdade

(Wlaumir Souza)

Embalada para presente

Alçou-se num futuro

Que nunca amanheceu

 

Acondicionada entre laços e enlaces

Despediu-se qual estranha

Observada a todo instante

 


Quisera abraçar-te

Entregar-me a ti

Como amantes

Despreocupados e despudorados

 

Sei teu nome teu

Teu sentido

Desconheço tua existência

 

Plena ou calada

Sentida ou apartada

Um dia entrego-me a ti

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Segredo

 

Segredo

(Wlaumir Souza)

Silêncio...

Silêncio.

A chave do segredo

É a mais potente verdade

Do íntimo desejo

Dissoluto traidor do silêncio

Sobre ele recai

Silêncio...



A condenação de nada ser

Para além da existência de si mesmo

Fora da história amiga

Será improbo ausência

Silêncio.

domingo, 19 de setembro de 2021

Príncipe das Águas...

 Príncipe das Águas...


(Wlaumir Souza)


Destino

Cel. Bandido

Deste-me o que ver

Não o que ter

 

Pretensioso acaso planejado

Os gregos foram teus escravos

Do drama com fortuna de livramento

Vejo-me no enredo

 


Arremedo

Na tragédia

Remendo

Âncora que me liberta

 

Destino

A poeira da história vos encobre

Liberdade

Brande com a ilusão

- O destino? Foi sepultado!

domingo, 12 de setembro de 2021

Memento

 Memento

(Wlaumir Souza)

No contrato da vida

Na última linha

Em letras em caixa alta e negrito e itálico e grifado

Está previsto o fenecimento

 

Muitos temem a morte

E se esquecem do morrer

Morrer com leveza

È privilégio de poucas

Com dignidade é quase a confirmação

De que existem milagres

 


O morrer em dor

O morrer dormindo

O morrer ao relento

O morrer em casa

O morrer hospitalar

O morrer síncope

O morrer se desdobra na existência humana

Em seus infinitos cultivos de poentes e de inexistências

 

Mais que o morrer

O que é reverberado

É o morto

Mais que temor à morte

Além do tremor do morrer

O morto nos espanta

Enquanto a tantos outros admira

 

Para onde foi o que vivia

Para onde segue sua existência

Para onde vai sua memória

Para onde ruma os seus ditos

Com quem fica sua eternidade

O que nos ensina a finitude

 

A morte

O Morrer

O morto

Nas lembranças da coletividade a eternidade

Na última lembrança

De um sobrevivente ao contrato da vida

O morrer e o morto e a morte assombram

O sem fim das existências contidas no tempo de agora

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Exposição

Exposição

Wlaumir Souza)

Quem expõe

Se expõe

Nos ditos

Nos discursos

Nos escritos

Nos gestos

Nos suspiros e respirações

Nos olhares e silêncios

 

Se expõe

Quem expõe

Nos valores e preconceitos

Nos desejos e nos sonhos e nos fantasmas

Nos gozos e nos chistes e esquecimentos

 

Quem expõe

Se expõe

Na vitrine das retinas

Nos auscultar dos ouvidos em múltiplos sentidos

Nos vívidos e vividos significantes

No show da exposição

De desnudar-se em público

Em múltiplas linguagens caleidoscópicas

Sem o sentir ou saber

 

 


 

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Onírico

 

Onírico

(Wlaumir Souza)

As criaturas dos meus sonhos

Se levantaram todas

Acordaram ao lado da minha cama

Propunham dar vazão ao desejo

Que os fantasmas e os sonhos se materializassem

Num único e perfeito gozo

As criaturas dos meus sonhos

Tornaram-se reais

Para além do imaginário torneadas de pétalas

Que construía sonhos

De Príncipes fardados em cavalos alados

Eram de carne e osso

Tangíveis na vida cotidiana

De um pobre ser humano

Reinventando-se



domingo, 4 de julho de 2021

Irresponsabilidade

 

Irresponsabilidade

(Wlaumir Souza)

Eles se olharam

Se viram e se enxergaram

Trocaram sorrisos

Ele disse palavras doces

Frases encantadoras

Ela suspirou

Desperta de sua procura incessante

Ecoou os sonhos de uma existência

Aspirados nos giros da vida

Saltou sem olhar as alturas

Mergulhou como se o universo

Não fosse o bastante sem ele

Logos depois ele agitou as calças

Partiu sem olhar para trás

Eram de sentimentos rasos

O oceano que declamara

Ela mergulhou sem salva-vidas

Caiu em pedaços numa piscina furada

Repleta de fantasmas

Da irresponsabilidade afetiva

Que a perseguia

Naquela breve passagem

Pela face da terra

Até aquele átimo de sofreguidão



segunda-feira, 21 de junho de 2021

Juninas

 

Juninas

(Wlaumir Souza)

Noites de sonhos estrelados

As mulheres querem casamento

Os rapazes desejam festar

Os pais e avós comemoram a fartura das colheitas

Comilança e música e dança

Tudo perfeito na simplicidade dos campos

Abençoado pelos Santos do mês

Santos Antônio e Pedro e João

Os compadres se reencontram

As prosas são longas e os causos sem fim

Ficam todos aquecidos pela fogueira e pelo quentão

Viva a tradição

Que partiu do campo e se entronizou na cidade

Revivida e reinventada

Segue tornando o amor e natureza e a fartura  ancestrais

Demonstrações da fé e da esperança

Sem origem certa e sem fim à vista

O sol segue fertilizando

A lua persiste procriando

E as moças e o moços casando

Obra dos Santos fertilizantes

Da natureza e da humanidade

 



 

Juninas

 Juninas


(Wlaumir Souza)


Noites de sonhos estrelados

As mulheres querem casamento

Os rapazes desejam festar

Os pais e avós comemoram a fartura das colheitas

Comilança e música e dança

Tudo perfeito na simplicidade dos campos

Abençoado pelos Santos do mês

Santos Antônio e Pedro e João

Os compadres se reencontram

As prosas são longas e os causos sem fim

Ficam todos aquecidos pela fogueira e pelo quentão

Viva a tradição

Que partiu do campo e se entronizou na cidade

Revivida e reinventada

Segue tornando o amor e natureza e a fartura  ancestrais

Demonstrações da fé e da esperança

Sem origem certa e sem fim à vista

O sol segue fertilizando

A lua persiste procriando

E as moças e o moços casando

Obra dos Santos fertilizantes

Da natureza e da humanidade

 


 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

 

ORGASMO

(Wlaumir Souza)



Geme de prazer

Transpira alegrias

Quer gritar

Se esbaldar sem culpa

Acabar com o calendário

Os horários de compromisso também

Desfilar no carnaval

Em carne viva

Este o desejo

Que foi sequestrado

Roubado pelo capital

Em nome do trabalho extenuante e excedente

Furtado pela publicidade e pela precariedade

Das horas que são dinheiro

Disciplinado pela ordem produtiva

Calado pela religião

Assassinado pelo calmante e antidepressivo

Segue na espreita

Aguarda uma vaga da vida

Nem que seja na vida

A base de químicos

Que prometem de forma incompleta

O que poderia ser delírio divino no humano




sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

“É dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado.”: Bolsonaro - 2020

 

A música/oração cristã (católica? de São Francisco de Assis) muito bem sintetiza a cultura política patrimonialista do Brasil e a valida em contornos espirituais. Legitima a ordem ao mesmo tempo que subalterniza as frações de classe abandonadas pelo capitalismo. É dando obediência, submissão e cumplicidade ao patrimonialismo que se recebe cesta básica, emprego e acesso aos recursos do Estado.

Tanto PSDB, PT e agora Bolsonaro não abandonaram esta técnica de poder para manter a ordem política, econômica, social e cultural da Terra Brasilis.

Bolsonaro, visto por muitos como palhaço, ignorante, limitado e doentio, conseguiu fazer com que seus opositores cometessem o maior ato de ingenuidade nas lides políticas. A de considerar seu opositor “inofensivo ou subjugado ou vencido antes do combate”.

O palhaço ou o bobo da corte é aquele que diz anedoticamente o que está no campo da realidade, e que dito de forma nua e crua seria ofensiva ou criminosa, pra não dizer pecado. Não por acaso os ditos e feitos  mais medonhos de Bolsonaro foi encaixado, ingenuamente, como palhaçada. Como se não bastasse esse equívoco na consideração do opositor, ainda o chamam de doente. Sendo doente, aprofunda-se a consideração acima e retira dele a responsabilidade pelo que diz e faz. Sendo doente não cabe responsabilidade ou condenação, mas, antes, apoio terapêutico. Visto como coitado, o mito venceu.



Neste imbróglio da oposição que afirma a “ingenuidade ignorante” de um Bolsonaro, se vê crescer seu poder no segundo biênio de seu mandato. E, até aqui, parece que não será o último, diante do apoio que o mito, que tuto diz e fala inocentemente, ainda tem no eleitorado.

Uma das articulações de Bolsonaro que foi de mestre, e o cacifa para a eleição presidencial de 2022, está posto, em princípio e em tese, na eleição do Presidente do Senado e da Câmara dos Deputados que acena com a possiblidade de ampliar o seu poder sobre o Congresso e as oligarquias políticas e seus caciques.

Usando o lema do “É dando que se recebe. É perdoando que se é  perdoado” conseguiu aliar-se ao Centrão, que foi tão criticado durante a Campanha e parte do primeiro biênio do governo Bolsonaro. Este sabe que não se governa no Brasil diante de três problemas: a oposição do centrão; a investigação e condenação de corrupção; e a não cooptação de votos por meio de verbas, cargos e outras formas mais.

Neste campo do poder e resolvido a governar o aceno para a governabilidade foi dada no dia 7 de outubro de 2020. Em evento público disse: - “Acabei com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo”. Não por acaso que neste evento, no Palácio do Planalto, o Presidente foi aplaudido pelos presentes. O projeto de congraçamento estava mais que lançado, oficializado. O lançamento do projeto se deu com a exclusão de Sérgio Moro do Governo de Bolsonaro, em 24 de abril de 2020.

Com esta frase - “Acabei com a Lava-Jato porque não tem mais corrupção no governo” - o Presidente chancelava a passagem histórica e histriônica de Romero Jucá “do grande acordo nacional com o Supremo, com tudo”, em 2016. “Com tudo”  inclui os oponentes. Acabar, ou inviabilizar, com a Lava-Jato, ato feito por Bolsonaro, aliançava direita, esquerda e centro. E punha fim a Sangria desejada pelo PSDB no momento em que o mesmo partido poderia entrar na mira da Lava-Jato.

Não por acaso que 1)a pá de cal na Lava-Jato foi realizada logo após a eleição dos Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, no início de fevereiro  de 2021. O congraçamento foi pautado pelo Centrão, entre liberação de verbas, cargos e outras coisas mais. Quais outras coisas mais, entre elas pode-se citar Ministérios, novos ou já existentes. 2) O fiel da balança legislativa, o Senado, teve seu Presidente eleito com votos de todos os espectros políticos.

O Congraçamente está em curso. Resta saber se incluirá a “inocência de Lula” a ser decidida em breve. E, afinal e ao cabo, os maiores condenados serão Sérgio Moro e seu cúmplice(?) Dallagnol por terem servido, a seu tempo, aos interesses imediatos das oligarquias políticas. Mas, descartados por se oporem a Ordem e  Progresso patrimonialista do Brasil? Visto que os interesses imediatos das oligarquias políticas, são descartáveis, assim com seus atores, o que não se diz dos de longa duração, qual seja, “É dando que se recebe”.

Assim, Bolsonaro vai se viabilizando para seguir mais quatro anos além dos quase dois que ainda restam.

O povo? A classe média? Ora o povo! Que assista bestializado entendendo apenas do pão e circo. Circo, aliás, substituído por igrejas. E, o pão, por socorros emergenciais. Numa polarização fictícia que só faz ampliar a fome e o ranger de dentes dos mais pobres.  Ora a classe média! Começa a perceber que em meio a um governo liberal está iniciando a naufragar e que vivia bem melhor nos governos “socialistas” do PT e do PSDB, sobretudo no primeiro. Mas, a ausência de identidade de classe faz fingir a si e aos demais da mesma classe média para não de dizer pobre e em maior empobrecimento.

Leitor. Este texto é apenas mais uma hipótese para se pensar além da polarização.