Filme “Jurassic word”: uma análise do ponto de referência étnico-racial
(Wlaumir Souza)
Cresci
vendo, nos filmes, a morte sistemática de pretos e pardos ( que juntos formam
os negros). Não me lembro de produções que os negros terminassem felizes e
vitoriosos com os abraços do par amoroso. Pelo contrário, tendiam a morrer –
assassinados das mais diferentes formas – bem antes do final do filme.
As mensagens eram claras: 1- Os brancos são os
heróis, 2 – Os brancos têm famílias felizes no início e no final da história, 3
– Os negros não sobrevivem por muito tempo, 4 – Negros não são heróis ou
vencedores, 4- Negros não têm final feliz em família.
Não poucas vezes, na sala de casa, falávamos –
Vamos ver até quando o negro do filme sobrevive. Sabíamos de antemão que a vida
do negro não seria relevante para toda a história.
Este
tipo de produção fílmica legitimava, “discretamente”, uma séria de estereótipos
e preconceitos que nas ruas se traduziam em discriminação, racismo, e os traços
de nazismo e fascismo “aceitáveis” pela sociedade branca, heterossexual e
cristã.
Jurasssic
Word vem com um vento de esperança incompleto, contra esta tendência que ainda
sobrevive em uma série de produções – do filme à novela, das tirinhas de gibi
aos livros. Traz uma nova representação dos negros. Eles sobrevivem até o final
da tramas. Mas, ainda não têm uma família feliz para compor ou para a qual
retornar.
É um
início. Mas, ainda falta muito para uma representação adequada do universo
negro.
Seria
de se esperar mais de um filme que aborda a questão de um planeta em sua
diversidade de vidas e existências. Mas, é um bom começo, ainda que tardio, de
uma nova era de produção fílmica. Pois, apesar de tudo, os negros são
retratados com competências e habilidades admiráveis.
Transportando para o plano da “realidade” as tramas onde os
negros morriam antes do final justificavam uma sociedade que não via negros
velhos pelas ruas, elevando ao absurdo do social, justificava a carnificina que
se faz no cotidiano pelas forças repressoras do Estado.
Mas,
ainda fica um vazio. Se os negros não têm famílias para retornar, amores para
viver, ainda se justifica a solidão negra, sobretudo da mulher negra. Não à toa
que o militar negro que sobrevive ao ataque dos dinossauros teve amores, e a
mulher negra lésbica é silenciada sobre esta história dos amores.
Diga-me
o que vês na arte que te direi qual o real que consegues ler e interpretar.