sexta-feira, 17 de maio de 2019

O palhacismo ou a tragicomédia de si mesmo: Bolsonaro


O palhacismo é uma técnica de controle de corpos e mentes que oculta, enquanto estratégia de poder, na operacionalização do gracejo e da pilhéria política. Ele se traveste de aparente ignorância generalizada, para se fazer de infantil e não temerária. A irresponsabilidade é sua nota de toque onde suas falas agressivas e depreciativas encontram respaldo no engodo dos limites intelectuais cada vez mais estreitos do personagem embasados em preconceitos e discriminações construídas na história do escravismo brasileiro.
No palhacismo de Bolsonaro, a disputa se faz em todas as áreas; até no controle do significado das palavras, que se distorcem e se desdobram com o passar dos embates intestinais mais primitivos do ser humano na busca de poder, controle e exploração. Assim, as falas-práticas desmedias são seguidas de explicações como não sei nada, ou seja, sou inofensivo, não causarei danos, não se preocupe comigo, sou apenas mais um palhaço para divertir a plateia egoísta que se vê no espelho da discriminação que subjuga social, econômica e politicamente.
O centro do palhacismo é a antintelectualidade, a negação da racionalidade propalada como elementos causadores de danos à humanidade. Risco no qual não se incorre na irresponsabilidade do palhacismo. Por isso, ministros são aparentemente atores, que vez ou outra, são depenados em público pelo grande palhaço que não quer o mal, embora o cause como centro de suas políticas.
Intelectual é o risco. O palhaço aliado ao pensamento mágico religioso a cura. A ingenuidade de má fé, que articula nos bastidores e encena o espetáculo via redes sociais, para asseverar sua irresponsabilidade intelectual que tantos danos causam à “liberdade, igualdade e fraternidade”. Destarte, foge da responsabilidade e a terceiriza como forma de escamotear um projeto bem articulado de militarização, exclusão, dependência, exploração, misoginia, racista, homofóbico e especista.

Se o palhacismo está no picadeiro do planalto é devido a seus sufragadores que se comportam de forma idêntica, agindo de forma irracional nas redes sociais, e dizendo que as ameaças articuladas de militarização, exclusão, dependência, exploração, misoginia, racismo, homofóbica e especista não passam de piadas, de força de expressão, de brincadeira. Envergonhados diante da plateia internacional que assiste assombrada o espetáculo da anti-democracia por vias aparentemente democráticas, ocultam-se na pilhéria e no gracejo.
Desta forma, não querem ser responsáveis pelos efeitos de seus votos, esta a essência do palhacismo, a irresponsabilidade com o todo social em nome dos particularismos, de frações de classe dominante, das maiorias de poder, controle e exploração.

Negar o papel fundamental das Universidades e do saber científico é apenas uma gorjeta deste projeto de subjugar as classes trabalhadoras ao modelo de capital neoliberal onde as percas de direitos conquistados arduamente, sobretudo no último século, é a  meta. A intento final é retirar da Constituição da função social do Estado e da propriedade.  Salve-se quem puder diante deste contrato social altamente excludente.
É um baile de máscaras o palhacismo de Bolsonaro e seus seguidores incontestes onde o que é encenado é a farsa de si mesmo, afinando os acordes da regência de interesses ocultos ou inconfessos na esfera pública. Assim foi ao assumir o cargo de Presidente da República quando, a Primeira Dama, encenou a centralidade da mulher e do discurso de libras. Como se fosse um aceno para as minorias em questão. Pouco tempo depois acabou com a institucionalização dos interesses das pessoas especiais. O mesmo vemos agora com a educação superior e básica pública que sofreram cortes que podem inviabilizá-las.
Esta encenação de contenção de gastos oculta interesses típicos do neoliberalismo, única faceta que obliteram: reduzir investimos nos serviços públicos para os sucatear e justificar o avanço do capital privado nesta área. O mesmo capital privado que apoio todo o processo de impedimento de Dilma Rousseff e que agora querem avançar em áreas estratégicas na construção da autonomia da nação.
Que siga o baila de máscaras na Democracia Republicana, posto que foram legitimamente eleitos. Resistam os que não fazem parte da festa, pois, calar é consentir com a orquestração do poder que se quer dissimular em palhacismo para não alardear os incautos eleitores do dividir para governar.
Almeja-se o conflito de instituições, ocultas pelo palhacismo do ator principal e seu asseclas , para esgarçar a democracia e justificar a ampliação do autoritarismo, uma vez que se diz em público que o Brasil é “ingovernável fora de conchavos”. Não os conchavos da democracia, mas, antes e sobretudo, os do autoritarismo militarizado talvez, até sem Congresso, para viabilizar as reformas – dentre elas sobretudo a da previdência e avanço da restrição os direitos do trabalhador –  que nos colocarão de joelhos ao capital internacional financeiro e industrial 4.0. Mas, tudo ao som de uma boa piada discriminatória e preconceituosa ao gosto do palhacismo que já tem dólar a mais de quatro reais, queda em dois meses seguidos de bolsa de valores e crescimento econômico negativo, o que nos coloca mais uma vez à beira da estagnação inflacionária.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

A negação do trabalhador no (des)governo Bolsonaro: Viva o dia do trabalho!


Um governo (neo)liberal, como é o caso de Bolsonaro, em meio a Revolução da Indústria 4.0 adquire novas características ao final da segunda década do século XXI. Dentre estes distintivos está a negação da relação capital e trabalhador, mas sem negar o trabalho. Até a Terceira Revolução Industrial não se negava o trabalhador com a virulência que se vê nos dias de hoje. O trabalhador tornou-se peça incomoda ao atual jogo de poder-capital.
A Revolução 4.0 possibilita pela primeira vez na história da humanidade, que se realize trabalho sem trabalhador, visto que as máquinas são capazes de se comunicarem entre si e executar quase todas as funções que outrora eram atividades especificamente humanas apesar das Revoluções Industriais que a precedeu.
Neste ponto, o palhacismo de Bolsonaro tem a função específica de ocultar a realidade ao trabalhador que pensa ser, ainda, alvo positivo das políticas, mas, antes e sobretudo é posto ainda mais à margem pelas engrenagens do poder de Estado.
Um dos primeiros sinais neste sentido foi a extinção do Ministério do Trabalho. Esta era reposta do futuro governo, em 2018, e realizado em 2019, para a maior crise de emprego do Brasil. A negação de um Ministério que tinha 88 anos de idade e tinha por papel reconhecer nas relações de trabalho a dialética entre trabalhador e capital. Sem o Ministério do Trabalho e o fim dos Conselhos Federais o governo vai se notabilizando pela exclusão do trabalhador-cidadão do Estado. Resta apenas a via de acesso burguesa do capitalista por suas instituições de representação que tanto apoio deram à tomada do poder por Temer.
Mais que isto, além de se negar a representação do trabalhador no Estado, o Estado, negando a dialética, se declara como servo do capital ao anunciar via fala do Presidente no dia do Trabalho voltado exclusivamente ao empresariado ao faltar da facilidade de abertura de empresas. Com isto sinaliza para o fim do trabalho como o conhecemos até agora na relação empregado-empregador. É um sinal de pejotização, que a Reforma Trabalhista unida a Reforma da Previdência, trarão como quase única forma de empregabilidade no mercado privado, primeiro e, depois, no funcionalismo público.
O império da máquina inteligente trará a ampliação da marginalização do trabalhador que não se vê mais representado no Estado, a não ser por breves vozes da oposição, embora o trabalho ainda exista, mas nos moldes da Revolução 4.0.

Um dos  sinais deste devastador cenário pode ser visto na educação a distância que hora quer se chamar de estudos a distância. A relação de educação pressupunha professor-aluno, ou seja, trabalho pedagógico contínuo. Ao passar a falar em estudo a distância o trabalho do professor perde a relevância para além da redação de apostilas e uma intervenção ou outra.  E, neste ponto, o professor perde a remuneração por autoria-leitura, como é o caso dos livros, e passa a receber por autoria-apostila. Recebe uma única vez por um material lido/estudado por milhões de acesso. Esse o cenário da Revolução 4.0 onde o trabalhador é negado a própria subsistência, embora, ainda exista trabalho.
Neste conjunto, no dia do Trabalho, e não do trabalhador visto que via a dialética histórica entre trabalhador e capital, passou a ser o dia do trabalho via máquina e capital, onde a Reforma da Previdência e Trabalhista não visam a criação de novos postos a seres humanos, mas, a garantia institucional de exploração da mão de obra humana.
É o Capital acima da sociedade patrocinada pelo Estado excludente. E, para isto retirar as anuidades obrigatórias dos conselhos de classe é apenas mais um passo na não representação do trabalhador, onde a não contribuição obrigatória dos sindicatos foi apenas mais um capítulo.
Tudo ao capital e à máquina e nada ao trabalhador, mesmo que este seja empreendedor. E,  o espetáculo do palhacismo bolsonariano visa apenas ocultar estas engrenagens e culpar o efeito como se ele fosse a causa.
E, já que é para se excluir o trabalhador das relações com o capital, por quais razões manteria o Estado Universidades de qualidade uma vez que a meta é dependência do capital internacional e suas tecnologias? É um projeto de subalternidade dependente, inclusive e sobretudo, intelectual.