sexta-feira, 19 de abril de 2019

Bolsonaro, a democracia e o palhacismo político


O palhacismo na política é a arte de fazer emergir nas pessoas o que têm de mais primitivo na busca da sobrevivência, quer seja de seus corpos ou de suas mentes e mentalidades. Usando da subversão da ordem política, racional e até do léxico elege o comportamento piadístico de ironizar o outro como modo de revelar suas verdades ao espelho. Assim, o palhacismo encontra eco nos demais Narcisos que nada vêm além de seus interesses próprios. Com isto reconstrói a realidade invertendo a realidade em prol de seus interesses políticos e pessoais. Nada melhor que o palhaçismo para dizer os desejos mais ocultas e reprimidas pelo contrato social democrático constitucional.
Palhacismo não é como os demagogos que prometem o impossível para se eleger. Pelo contrário, nada ou quase nada prometem e no que se comprometem é para subverter a ordem existente enquanto pacto de racionalidade política pelos Direitos e pelas Políticas. Caçoam dos esforços históricos da humanidade por uma sociedade mais justa, como fora prometida na Revolução Burguesa por excelência, a Francesa, ao ter como emblema parte do lema da maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Nesta subversão de ordem, via exclusão dos diferentes, em nome da nova ordem que superaria as fissuras denunciadas via piada revisionista é que se pode alocar o debate do significado de democracia e liberdade de imprensa para Bolsonaro, e a cilada que arma para os poderes na sanha de gerar conflito entre eles para legitimas uma nova ordem.
No dia 7 de março de 2019, Bolsonaro disse, na Cerimônia de Aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro – que a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas querem. Isto num país marcado por golpes militares desde o nascituro da República, e onde o retorno a ordem democrática deveu-se a Campanha da Diretas já, a qual aderiu o povo em massa. Ou seja, contra a vontade das Forças Armadas encasteladas no poder.
As reações foram imediatas. O Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia respondeu lembrando os papel da instituições – dos três poderes – para a democracia. Ou seja, uma posição elitizada da democracia. Quem se lembrou do papel do povo nesta questão foi o Ministro do STF Marco Aurélio Mello.
Esta semana a questão voltou a baila e muitos encantados pela fala do palhacismo político ouviram o que desejavam e não o que o presidente Jair Bolsonaro disse em seu novo léxico, que tem como pano de fundo a busca do conflito dos poderes.
Isto nos remete ao episódio da censura  imposta à Revisa Crusoé e ao site O Antagonista pelo ministro do STF Alexandre de Morais que representa os interesses políticos do Golpe, contra PT, no Superior Tribunal e que colaboraram para a eleição de Bolsonaro, em tese. Ou seja, membro da nova ordem que quer se impor, a autocrática.
Este episódio é mais um teste do projeto em curso que usa de meios democráticos para ser antidemocrático. Ou seja, para se saber até onde se pode ir e como conseguir o conflito de poderes que legitimaria tal questão.
A reação foi da Procuradoria Geral da República, de parlamentares, da imprensa e diversos outros setores organizados e mesmo por parte de membros do STF, ente eles, mais uma vez, Marco Aurélio Mello. Ou seja, poder contra poder.

O resultado foi o recuo de Alexandre de Moraes no dia 18 de abril. Ao que se ouviu o eco do espelho de Bolsonaro: “Prezados integrantes da mídia, em que pese alguns percalços entre nós, nós precisamos de vocês para que a chama da democracia não se apague. Precisamos de vocês cada vez mais. Palavras, letras e imagens que estejam perfeitamente imanadas com a verdade. Nós, juntos, trabalhando com esse objetivo, faremos um Brasil maior, grande e reconhecido em todo o cenário mundial. É isso que nós queremos”.
Ao dizer isto ele inverte o léxico, como bom membro do palhacismo, fazendo o auditório aplaudir o que diz, mas sem entenderem o significado, que é claro a seus seguidores-espelhos. “Irmanadas com a verdade” remete àquela democracia tutelada pelas forças militares. Não por acaso que a fala foi proferida na Comemoração dos 371 anos do Exército na Sede do Comando Militar do Sudeste. Ou seja, tudo que a imprensa publica, que possa esclarecer o projeto em curso é notícia falsa. O que a imprensa publica e que vai de encontro ao espelho de Bolsonaro é verdade.  Em outras palavras, não se fala em real liberdade imprensa e de expressão.
Assim, fica um jogo esfumaçado onde o que se diz tem duplo sentido e só se buscando no léxico histórico do presidente se pode encontrar o significado que subverte a ordem. Ao mesmo tempo em que tal fala, acena com a possiblidade de um pacto entre a imprensa e o atual governo. Caso isto não ocorra, a notícia falsa será a temática que fará parte do agir, como já demonstrou Alexandre de Morais, apenas como advertência ao retroceder em sua decisão.
Há um projeto em curso e como não pode ser dito em praça pública se alardeia via palhacismo para que, até a pessoas insuspeitas, possam com ele se locupletar para privatizar os lucros e socializar as perdas, via reforma trabalhista e agora da previdência, que prometem mais empregos – até agora não gerados –  e na realidade entregará mais recursos do Estado às frações da classe dominante que funcionam como espelho a Bolsonaro e seus desejos de poder.