O palhacismo na política é a arte
de fazer emergir nas pessoas o que têm de mais primitivo na busca da sobrevivência,
quer seja de seus corpos ou de suas mentes e mentalidades. Usando da subversão
da ordem política, racional e até do léxico elege o comportamento piadístico de
ironizar o outro como modo de revelar suas verdades ao espelho. Assim, o
palhacismo encontra eco nos demais Narcisos que nada vêm além de seus interesses
próprios. Com isto reconstrói a realidade invertendo a realidade em prol de
seus interesses políticos e pessoais. Nada melhor que o palhaçismo para dizer
os desejos mais ocultas e reprimidas pelo contrato social democrático constitucional.
Palhacismo não é como os
demagogos que prometem o impossível para se eleger. Pelo contrário, nada ou
quase nada prometem e no que se comprometem é para subverter a ordem existente enquanto
pacto de racionalidade política pelos Direitos e pelas Políticas. Caçoam dos
esforços históricos da humanidade por uma sociedade mais justa, como fora
prometida na Revolução Burguesa por excelência, a Francesa, ao ter como emblema
parte do lema da maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Nesta subversão de ordem, via exclusão
dos diferentes, em nome da nova ordem que superaria as fissuras denunciadas via
piada revisionista é que se pode alocar o debate do significado de democracia e
liberdade de imprensa para Bolsonaro, e a cilada que arma para os poderes na sanha
de gerar conflito entre eles para legitimas uma nova ordem.
No dia 7 de março de 2019,
Bolsonaro disse, na Cerimônia de Aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no
Rio de Janeiro – que a democracia e a liberdade só existem quando as Forças
Armadas querem. Isto num país marcado por golpes militares desde o nascituro da
República, e onde o retorno a ordem democrática deveu-se a Campanha da Diretas
já, a qual aderiu o povo em massa. Ou seja, contra a vontade das Forças Armadas
encasteladas no poder.
As reações foram imediatas. O
Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia respondeu lembrando os papel da
instituições – dos três poderes – para a democracia. Ou seja, uma posição
elitizada da democracia. Quem se lembrou do papel do povo nesta questão foi o
Ministro do STF Marco Aurélio Mello.
Esta semana a questão voltou a
baila e muitos encantados pela fala do palhacismo político ouviram o que
desejavam e não o que o presidente Jair Bolsonaro disse em seu novo léxico, que
tem como pano de fundo a busca do conflito dos poderes.
Isto nos remete ao episódio da censura
imposta à Revisa Crusoé e ao site O
Antagonista pelo ministro do STF Alexandre de Morais que representa os
interesses políticos do Golpe, contra PT, no Superior Tribunal e que colaboraram
para a eleição de Bolsonaro, em tese. Ou seja, membro da nova ordem que quer se
impor, a autocrática.
Este episódio é mais um teste do
projeto em curso que usa de meios democráticos para ser antidemocrático. Ou seja,
para se saber até onde se pode ir e como conseguir o conflito de poderes que
legitimaria tal questão.
A reação foi da Procuradoria
Geral da República, de parlamentares, da imprensa e diversos outros setores
organizados e mesmo por parte de membros do STF, ente eles, mais uma vez, Marco
Aurélio Mello. Ou seja, poder contra poder.
O resultado foi o recuo de
Alexandre de Moraes no dia 18 de abril. Ao que se ouviu o eco do espelho de
Bolsonaro: “Prezados integrantes da
mídia, em que pese alguns percalços entre nós, nós precisamos de vocês para que
a chama da democracia não se apague. Precisamos de vocês cada vez mais.
Palavras, letras e imagens que estejam perfeitamente imanadas com a verdade. Nós,
juntos, trabalhando com esse objetivo, faremos um Brasil maior, grande e
reconhecido em todo o cenário mundial. É isso que nós queremos”.
Ao dizer isto ele inverte o
léxico, como bom membro do palhacismo, fazendo o auditório aplaudir o que diz,
mas sem entenderem o significado, que é claro a seus seguidores-espelhos. “Irmanadas
com a verdade” remete àquela democracia tutelada pelas forças militares. Não
por acaso que a fala foi proferida na Comemoração dos 371 anos do Exército na
Sede do Comando Militar do Sudeste. Ou seja, tudo que a imprensa publica, que
possa esclarecer o projeto em curso é notícia falsa. O que a imprensa publica e
que vai de encontro ao espelho de Bolsonaro é verdade. Em outras palavras, não se fala em real liberdade
imprensa e de expressão.
Assim, fica um jogo esfumaçado
onde o que se diz tem duplo sentido e só se buscando no léxico histórico do
presidente se pode encontrar o significado que subverte a ordem. Ao mesmo tempo
em que tal fala, acena com a possiblidade de um pacto entre a imprensa e o
atual governo. Caso isto não ocorra, a notícia falsa será a temática que fará
parte do agir, como já demonstrou Alexandre de Morais, apenas como advertência
ao retroceder em sua decisão.
Há um projeto em curso e como não
pode ser dito em praça pública se alardeia via palhacismo para que, até a
pessoas insuspeitas, possam com ele se locupletar para privatizar os lucros e
socializar as perdas, via reforma trabalhista e agora da previdência, que
prometem mais empregos – até agora não gerados – e na realidade entregará mais recursos do
Estado às frações da classe dominante que funcionam como espelho a Bolsonaro e
seus desejos de poder.