Como
excelentemente descreveu e analiso K. Marx, ao sistema capitalista mais que
trabalhadores, interessa manter uma quantidade de trabalhadores sem trabalho
para que não ocorresse pressão sobre salários e direitos. A isto ele denominou
exército de reserva. Este seria de maior ou menor monta dependendo de ser um
dos países centrais do capitalismo ou periférico, nesta ordem, crescente o
número de pessoas atinentes ao exército de reserva para equilibrar o mercado de
trabalho, em conformidade ao interesses capitalistas liberais.
Não por acaso
o economista John M. Keynes, ao criticar o sistema liberal ancorado em Adam
Smith, assevera que este não leva em consideração o desemprego na sociedade,
pois, este faria parte do jogo em favor da classe capitalista.
Com a Quarta Revolução Industrial, a globalização e o neoliberalismo, todos em sintonia a
ampliação da exploração do trabalhador em favor do capital, far-se-á ampliar o
exército de reserva para além das demandas de equilíbrio do mercado de trabalho
capitalista nos moldes liberais. O que se tem agora, é um excedente de
trabalhadores que compõem, ainda, uma pressão para a não demanda de direitos e
melhores salários, mas, para além disso, são os desempregados estruturais, que
só fazem crescer na sociedade neoliberal globalizada da Quarta Revolução
Industrial chegando a atingir parte das camadas médias.
Os avanços
tecnológicos aliados á globalização da economia fizeram com que ocorresse uma
competição, ainda mais acirrada, por investimentos de capital, e com isto os
países periféricos, alinhados com o neoliberalismo, Caso de Bolsonaro, precisam
depreciar o preço e o valor de seus trabalhadores, enquanto média salarial,
sobretudo, pra se fazerem atraentes a este capitalismo em nível planetário.
A primeira
etapa é o desemprego estrutural com o seu consequente número crescente de
desalentados. Com isso sede a pressão nos salários e os direitos outrora
defendidos passam a ser visto como risco à empregabilidade diante do discurso
do medo propalado pelos neoliberais. Não por acaso Bolsonaro assevera que suas
reformas – com destaque até aqui para a
previdência e a nova reforma trabalhista em tramitação, chamada de Reforma da
“Liberdade econômica”. Sim, liberdade econômica de explorar mais
profundamente o trabalhador sem que o trabalho
detenha resquícios da era dos direitos trabalhistas. – são para que haja algum emprego.
A segunda
etapa, e que entra em vigor com a Reforma da Previdência, é a efetivação do
Estado do necropoder, a necropolítica. Os trabalhadores indesejados são
empurrados para a morte precoce pela ausência de direitos não só trabalhistas,
mas sociais e de políticas públicas como saúde e educação. Privatizar saúde e
educação com o desmonte do SUS e da Universidade Pública são os passos
seguintes. E, neste ponto o trabalhor realiza suas funções até a exaustão do
corpo e sem meios de acesso a saúde e repouso remunerado tende a morrer mais
jovem, assim, e como quase sempre na história do capitalismo, financia a aposentadoria
dos mais ricos uma vez que pela necropolítica está condenado a morrer antes da
expectativa de vida alongada pelas frações de classe mais privilegiadas.
Toda a
estrutura de saúde montada pelas universidades públicas e pelo SUS é ainda mais
precarizado e, depois, privatizados, conduzindo a morte de milhões de
trabalhadores que não mais eram contabilizados nas estatísticas de desemprego
por serem desalentados ou desempregados estruturais.
São os indesejáveis do sistema uma vez que não cumprem nem o papel de exército
de reserva.
Mais que isto, até a fração de
classe média aliada sistemática da classe capitalista se vê abandonada a
própria sorte uma vez que a Era dos Direitos não mais é necessária e as
Universidades Públicas que lhes garantiam privilégios pelo saber é desmontada. São
igualados assim a frações de classes mais subalternas pela perca de direitos
históricos ao qual tendiam a se posicionar contra por pensar como capitalista
embora não o sejam. A classe média é abandonada a própria sorte também, pois
com a Quarta Revolução Industrial não mais é necessário um grupo numericamente
significativo com pensamento crítico.
Por isto a
primazia não estaria mais no Estado Democrático de Direito, mas, antes, pura e
simplesmente no Estado Capitalista de Direito. Com isso juízes passam a julgar
não em conformidade com a lei, mas, antes, orientados pelas decisões políticas
calculadas em custas. Não por acaso o avanço da ausência de concursos para
professores na Educação Básica, onde o concurso é substituído por Organizações
Sociais e ONGs na prestação de serviço ao Estado, o que garante certo controle
ideológico da atuação do professor precarizado e temporário, tem avançado sem
que, até agora, o judiciário se posicione contra.
É o desmonte
da sociedade na qual cresci e me eduquei. É o neoliberalismo selvagem que, por
hora, faz seu discurso de que só há crescimento econômico se não houver
direitos e, até aqui, só perdemos direitos trabalhistas, sociais e de cidadania
sem que haja crescimento econômico que era esperado para julho, segundo o Ministro
da Economia Paulo Guedes. Estamos em agosto.
Diante da
realidade neoliberal de descontrução de empregos via Quarta Revolução
Industrial e Globalização, já diz, o mesmo ministro que não será fácil a
retomada econômica. Que retomada? Afinal para o sistema neoliberal selvagem, do
qual faz parte o atual presidente, não se planeja ou prevê pleno emprego, como era
almejado por Keynes, alcunhado no Brasil de Comunista, uma vez que foi
implementado pelo Partido dos Trabalhadores.