domingo, 24 de novembro de 2013

Religião e preconceito ou mais do mesmo?


Wlaumir Souza
Do ponto de vista acadêmico-científico crítico o fenômeno religioso possui regularidades e singularidades que distinguem os diferentes cultos e tradições. Do ponto de vista das regularidades pouco importa se cristão católico ou evangélico, ou qualquer outra denominação, quimbanda ou candomblé; espírita ou budista; islamismo ou judaísmo. Todas as denominações religiosas são manifestações do pensamento mágico, mítico ou simbólico sem possibilidade de confirmação para além dos efeitos causados nos seres humanos que neles crêem e devido mesmo a crença.
Não são raras as críticas cruzadas entre as mais diferentes denominações religiosas. Para permanecer apenas na religião predominante no Brasil. Os cristãos não se entendem: Seria e permaneceria Maira mãe de Jesus virgem e sem mais filhos? A confissão defendida por católicos simplesmente não existe para outras denominações cristãs. Jesus seria apenas mais um profeta segundo alguns judeus e o islamismo? Os espíritos se comunicam com os vivos como ocorreu com Jesus que parlamentou noite a fora com alguns dos patriarcas do judaísmo com direito a tenda e todos os símbolos de hospitalidade israelita?
Como se isto não bastasse, se formos para o campo histórico do político-religioso as coisas se complicam ainda mais. Quando da proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão – um dos fundamentos da sociedade democrática de direito ocidental que vivemos hoje – a Igreja foi um de seus oponentes mais persistentes. Avançando para a Declaração Universal dos Direitos Humanos a coisa não foi e não é tão diferente. Não por acaso as políticas de caridade das igrejas tendem a buscar na mais tenra infância mecanismo para se perpetuar e mesmo com recursos públicos e da ONU, pois, fora da infância, o consenso não impera.
Ao longo da história se homens e mulheres não tivessem se levantado contra o poder religioso-político viveríamos baseados nos milagres sem as transformações da ciência. Graças a estes seres humanos extraordinários os pensamentos laicos, seculares, democráticos e republicanos avançaram a despeito da perseguição sistemática que sofreram Galileu, Darwin, Freud e tantos outros das religiões.

Todavia, em pleno século XXI determinados pensamentos, escritos, discursos, vozes e as práticas continuam a fazer vítimas em nome da salvação das almas que tem como meio a condenação dos corpos. As mesmas almas que foram negadas ao negro, ao índio e de certa forma à mulher. Na África o combate as religiões afro por cristãos e muçulmanos, além das disputas entre os próprios africanos, tem dizimado as centenas. O mesmo para o embate entre cristãos e muçulmanos; muçulmanos e muçulmanos e outros mais.
Se deixarmos permanecer este avanço irracional do religioso, sem que se construa uma educação crítica, laica e secular a favor das diversidades e pluralidades – incluso a questão gay, a religiosa e humana – as vitórias de uma longa história do pensamento racional pós idade medieval será vista em declínio cada vez maior em nome da popularidade e da audiência do lucro fácil de mentes simples e semi-alfabetizavas na interpretação do mundo e do ser humano. 



Um comentário:

  1. Caro Professor, peço licença para concordar plenamente com sua análise sobre a atuação das várias representações religiosas citadas no texto.
    Quero dizer que desconheço outra que não haja da mesma forma.
    Então estas representações religiosas buscam manter seus seguidores dentro de uma faixa de obscuridade, como um rebanho, facilitando sua manutenção, condução.
    Acredito que a educação, o pensamento racional, científico, filosófico, sejam os condutores para a liberdade e nobreza espiritual.
    Mas quando o texto se refere a pensamentos democráticos e republicanos sinto uma enorme dificuldade em encaixá-lo com a integridade de tudo o que está expresso, talvez por não conhecer também uma verdadeira democracia e o exemplo de república que conhecemos... .
    Em fim não consigo deixar de sentir um paralelismo entre a manipulação social exercida pela política religiosa e política governamental e que as duas convergem cada uma a seu modo para o favorecimento das classes dominantes.

    Abraço do seu sempre aluno.
    Edmar

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