Chegamos
a um ponto no Brasil que o passado é mais presente que o futuro desejado pelas
massas que aspiram cidadania, justiça e transparência e são transformados a
fórceps em consumidores comuns, se tanto.
Quase
invariavelmente, parte significativa das elites históricas do País estiveram
ligadas ou mantidas no poder pela criminalidade. Palavras e conceitos pomposos
foram destilados para manifestar, e simultaneamente ocultar aos iletrados, a
corrupção em suas nuances: mandonismo, coronelismo, filhostismo, compadrio,
clientelismo entre tantas outras formas assumidas pela devassidão do uso
privado do que deveria ser público. Enfim, uma amarra sem fim com a
criminalidade corrupta e corruptora do poder e do dinheiro públicos. Uma forma
histórica de privatização que agora se torna lema do neoliberalismo.
Manifestações
que eclodiram no Brasil, em junho de 2013, e que questionavam o aumento de
vinte centavos na tarifa, rapidamente se transformaram em denuncia sistemática
da corrupção e da transformação do cidadão em consumidor. A cidadania demandava
direitos sociais e questionava a qualidade dos serviços públicos em precarização
diante da corrupção e o modo de fazer política tradicionalmente no Brasil, ou
seja, pessoalizada e corrupta no uso privado da República..
A
mensagem era clara, Dilma experimentava queda na aprovação de seu governo e a
oposição, ávida por poder há mais de uma década, iniciou uma inovação sem
precedentes no modo de fazer política, mas herdeiro do modo Collor de caçar
marajás, pela honestidade na política. Era a caça aos políticos não mais feita
por militares, mas por juízes e promotores que, ao que tudo indica até aqui,
foram seletivos nas denúncias e investigações.
Estes
senhores da toga que, apesar da questão da transparência, permanecem com
salários e benefícios sob sigilo, na grande maioria, mas, ganhando mais que o
limite legal, foram trazidos à frente de batalha pela campanha pela honestidade,
transparência e prestação de contas. Assim, descartavam-se os aliados
tradicionais na manutenção do topo da pirâmide, o padre, pelo pastor; o
policial e o delegado estadual, pelo plano federal, preferencialmente por
juízes.
A
massa cheirosa foi às ruas capitaneada por movimentos que se diziam sociais,
mas, eram apêndices de partidos de “direita” e da classe dominante, que se
diziam preocupados com o modo de fazer política corrupta. A batalha contra a
corrupção fez o nome de juízes federais, passando pelo STF, serem conhecidos e
discutidos por um circulo muito mais amplo que o jamais visto no País. E, as
poucas cortes que não tinham suas sessões televisionadas ficaram gratas por não
serem expostas ao vexame do projeto em curso.
Nos
aproximamos do aniversário do Impedimento da Presidenta Dilma Rousseff com a
evidência de que os que tomaram o poder não eram melhores no quesito que
acusavam a derrotada e seu partido. Mas, o projeto fundamental se mantinha. A
elite não pagaria o pato das custas financeiras da crise política-econômica
defragada pela luta contra a corrupção, mas, atergiversação entre dinheiro
público e patrimônio privado perpetuaria-se, mesmo que para isto tivessem que
sacrificar alguns dos homens mais ricos da América Latina: Marcelo Odebrecht e
o ex-Super X, Eike Batista.
A
autofagia se tornou necessária e não poucos seriam sacrificados do pequeno
circulo do poder em nome da manutenção da ordem tradicional mascarada de
transformação histórica sem precedentes. Tudo ia bem enquanto isto atingia
seletivamente o PT e seus financiadores. Mas, não tocava os que tomaram o poder
e seus aliados e financiadores que desejavam que o povo pagasse o pato da crise.
Assim,
coube a Temer reestruturar a posição planetária do Brasil em meio ao
neoliberalismo. Deixar a mão de obra brasileira mais barata e longeva para a
exploração internacional é a marca do governo. Reforma da previdência, da
educação e trabalhista se incumbirão disto transferindo a conta para o povo
trabalhador – inclui você com patrimônio menor que cinco milhões – ao mesmo
tempo que liberará recursos públicos para serem emprestados como investimento
subsidiado ao verdadeiros multimilhonários do Brasil e do exterior.
Todavia,
é um governo que tem pressa. Tudo a toque de caixa: primeiro, por estar
limitada a dois anos – se mantida a ordem constitucional; segundo, imprime
velocidade por medidas provisórias, uma infinidade se comparada aos antecessores;
terceiro, quer fazer dos juízes e promotores os candidatos ou apoiadores
virtuais das próximas eleições pela construção de narrativas jurídicas do
social e do político, deixando para o passado médicos e comunicadores sociais.
Todavia,
teriam de combinar com os russos, digo, com os delatores. Nem entro na questão
de quem é o novo financiador de votos que torna possível o azeitar da máquina
com recursos e cargos. Seja como for o ponto que nos encontramos é o do “meu
corrupto favorito”. Ou seja, os meus e os que apoio ideológicamente são
honestos e inocentes até que se prove o contrário materialamente; e os seus e
seus aliados são corruptos notórios e culpados por indução de testemunho,
colaborativo.
Mas,
citando André Perfeito, um dos entrevistados por várias vezes pela Globo News,
como explicar que “Um processo é
movido por um partido para impugnar a chapa rival por uso de caixa 2 e o
inquérito descobre que o partido que moveu o processo recebeu caixa 2 e que o
atual presidente, vice da chapa rival que foi acusada inicialmente por aquele
partido, recebe hoje apoio do partido que moveu o processo sendo que se for
provado que houve caixa 2 na chapa rival cai o governo onde o partido inicial
tem ministros de estado.”
Coisas
do velho Brasil, da velha política fazendo o futuro do País em conformidade aos
interesses do grande capital no presente, que mesmo defenestrado, continua no
poder e não pagará o pato. Mas, os que seguiram o pato de borracha amarelo na
rua não ficarão infensos ao pagamento compulsório. E, pior, a escravização é
tamanha, em louvor e defesa do capital do mercado, que nem de seus próprios
filhos têm piedade, jogando-os à previdência privada – que tende a falir no
futuro – transformando mais um direito de cidadania em serviço.
Mas,
culpado é quem mostra ao escravizado que ele encontra-se na situação de
escravizo. Ou que seu corrupto favorito também é um reles corrupto, apesar do
português hermético da ciência e das leis dos crimes de colarinho branco feitos
na imensa maioria por homens e mulheres brancos.
Para
fechar basta lembrar o relato colaborativo de Marcelo Odebrecht esta semana de
que repassou, por meio de caixa dois, para as campanhas do PSDB, Aécio Neves,
que pede a cassação da chapa no poder; de Eduardo Campos e Marina Silva, então
do PSB. E, o mensalão do outro partido seletivamente fica no fundo
da gaveta enquanto a Lava Jato segue.
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