quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Paris não é aqui!

Atualmente, usa-se, no Ocidente, sobretudo, liberdade de imprimir como sinônimo de liberdade expressão, de imprensa. Não são.  A liberdade de imprimir foi conquistada, na Inglaterra, em 1688, quando a Revolução Inglesa acabou com a imposição da existência de autorização prévia do governo, o imprimateur, para que textos fossem impressos. O conteúdo ainda não estava em questão, pois, a responsabilidade sobre aquele é do escrevente. Neste tempo imprensa ainda era os tipos utilizados para imprimir textos. A imprensa, como a conhecemos hoje, é, em muito, resultado dos avanços do capital – e com ele, das técnicas.
Assim, em Paris, cometeu-se duplo crime.
Um, contra a liberdade de imprimir. Os que atacaram a revista “Charlie Hebdo”– que são apenas a mão visível deste processo de luta contra as liberdades básicas das democracias – não consideram a possibilidade de uma tipografia que imprima livremente qualquer conteúdo que resvale no terreno do “religioso-político” sem a autorização do comando religioso, no caso muçulmano transformado em “político-religioso”.
O Imrimateur da Igreja Católica, que durou bem além, no ocidente, que o ano de 1688, e chega até os dias de hoje, no que diz respeito a liberdade de expressão com autores ainda condenados ao silêncio no século XX, demonstra que neste quesito os muçulmanos não estão sós.
Dois, contra a liberdade de expressão, de livre manifestação do pensamento, dos sentimentos, das interpretações e elucubrações que as artes viabilizam e que historicamente foi uma conquista posterior a liberdade de imprimir. Os Direitos Humanos consolidaram esta demanda que até os dias de hoje sofre ataques.
O ataque de morte ocorrido em Paris, no dia 07 de janeiro de 2014, demonstra que passados tantos séculos as liberdades ainda encontram opositores capazes de fazer os atoas mais atrozes enquanto “mãos-invisíveis” manipulam as cenas. Assim, muitos atores que atuam contra a liberdade de expressão de diferentes modos veem a tona para defende-la. Contradição que faz parte do sistema visto que a mesma liberdade que condenam é a que lhes permite se manifestar e avançar.

Lamentavelmente, aqui não é Paris.
Enquanto lá ocorre a mobilização social dos profissionais da área de informação com apoio da população, por aqui, sabe-se de jornalista que se diz “cria da Ditadura”. Sabe-se de jornalista que garante que em sua atuação aprende que não existe nenhum tipo de isenção no jornalismo praticado. Sabe-se de jornalista que limita a opinião de seus subalternos. Sendo assim a mão-visível das mãos-invisíveis que faz parecer haver liberdade de imprimir e expressar enquanto não o há via controle do capital.

Que pena Paris não ser aqui! Se fosse nosso jornalismo seria melhor, nossas análises mais amplas, e a tirania das maiorias ou das minorias jamais sobreviveriam em meio a secunda década do século XXI. 

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