sexta-feira, 1 de maio de 2015

Síndrome Caco Antibes no Dia do Trabalho face ao Imposto de Renda

Se tem uma ideia cara às elites é a do self-made mam, ou, em tradução livre, e atualizada para o nosso tempo, “a pessoa que se fez por conta própria”. Expressão elaborada por Benjamin Franklin tornou-se elemento típico/mítico da cultura norte-americana que tem seu baluarte em pessoas como Cornelius Vanderbilt, o Comodoro, e, sobretudo, John D. Rockefeller. Embora seja uma expressão para os detentores do grande capital, as classes médias, sem ruborizar, se auto compreendem como tal.
O self-made mam quer crer que tudo ponde independente da estruturas. Seria o ator social capaz de tudo fazer sem depender e superando todas as condições sociais, políticas, econômicas e culturais. Assim, para este ser extraordinários as políticas de Estado pouco representam para além de entraves.

Todavia, em tempos de ajuste fiscal, o self-made mam percebe que não é bem assim. Que o Estado tem papel determinante, e que as características pessoais não são todo poderosas contra as condições histórico-sociais.
Com o Plano Real chegando a sua maioridade (1994 – 2015) a população acomodou-se a estabilidade econômica – se é possível usar este termo para o Brasil (?) – e, apenas um mês após a maioridade, ou seja, em março, o País assistiu a um panelaço. Que pesem as questões partidário-eleitorais e a indignação com a corrupção que justificaram o evento em primeiro plano, o fato é relevante, sobretudo, do ponto de vista simbólico.
Bater panelas é ato que remete a carestia, ao fato de não ser alimentar adequadamente, de não ter recursos para pagar as contas. Notadamente, não foi o grande capital que saiu às sacadas e varandas para o panelaço. A classe média diante de um sopro do Estado percebeu que poderia entrar em extinção nas terras brasileiras. Mais que isto, que quase tudo que detém depende de financiamento. Na hora da verdade dos fatos a classe média notou que não era tão distinta das novas classes médias e temendo serem igualadas ao que negavam saíram às ruas e janelas para protestar diante da desconstrução do seu imaginário de self-made mam.
A realidade é dura. Somos um país, e não é exceção, controlado pelo grande capital e que cada vez menos se importa com as classes intermediárias devido a expansão da capacidade produtiva de quinquilharias sofisticadas e artificialmente entendidas como necessárias à sobrevivência.
A realidade é crua. A classe média não se mantém sem a intervenção do Estado. A mesma intervenção que, via políticas públicas de distribuição de renda, fez emergir artificialmente a nova classe média, vista com horror pela “tradicional classe média” que estudou em colégios particulares e mantém plano de saúde e vida em condomínio.
A realidade é nua. Num país de aproximadamente 200 milhões de habitantes, apenas 27.895.000 declararam imposto de renda. Uma porcentagem baixíssima de classe média. Sendo que a declaração obrigatória de renda inicia-se no valor de R$1.903,99 e a última faixa de contribuição principia pelo valor de R$4.664,68. Traduzindo: somos uma população de explorados que se pensa de classe média, deseja viver como membro do capital e critica e faz piada, diuturnamente, das frações de classe dos andares de baixo. O típico comportamento da síndrome de Caco Antibes.

Assim, a sétima economia do mundo tem salário baixo e quase nada de renda, nem chegando perto do capital. Há se não fossem os pobres pagando imposto sendo extraído destes muito mais do que recebem quer do Estado ou dos que se pensam e agem como self-made mam. O país pararia sem a extração extra do salário daqueles que são piada e motivo de horror para os “tradicionais”.

Feliz dia do trabalho, pois, o salário oh! E a rena, nem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário