Se tem uma
ideia cara às elites é a do self-made mam, ou, em tradução livre, e atualizada
para o nosso tempo, “a pessoa que se fez por conta própria”. Expressão elaborada
por Benjamin Franklin tornou-se elemento típico/mítico da cultura norte-americana
que tem seu baluarte em pessoas como Cornelius Vanderbilt, o Comodoro, e,
sobretudo, John D. Rockefeller. Embora seja uma expressão para os detentores do
grande capital, as classes médias, sem ruborizar, se auto compreendem como tal.
O self-made
mam quer crer que tudo ponde independente da estruturas. Seria o ator social
capaz de tudo fazer sem depender e superando todas as condições sociais,
políticas, econômicas e culturais. Assim, para este ser extraordinários as
políticas de Estado pouco representam para além de entraves.
Todavia, em
tempos de ajuste fiscal, o self-made mam percebe que não é bem assim. Que o
Estado tem papel determinante, e que as características pessoais não são todo
poderosas contra as condições histórico-sociais.
Com o Plano
Real chegando a sua maioridade (1994 – 2015) a população acomodou-se a
estabilidade econômica – se é possível usar este termo para o Brasil (?) – e,
apenas um mês após a maioridade, ou seja, em março, o País assistiu a um
panelaço. Que pesem as questões partidário-eleitorais e a indignação com a corrupção
que justificaram o evento em primeiro plano, o fato é relevante, sobretudo, do
ponto de vista simbólico.
Bater panelas
é ato que remete a carestia, ao fato de não ser alimentar adequadamente, de não
ter recursos para pagar as contas. Notadamente, não foi o grande capital que
saiu às sacadas e varandas para o panelaço. A classe média diante de um sopro
do Estado percebeu que poderia entrar em extinção nas terras brasileiras. Mais
que isto, que quase tudo que detém depende de financiamento. Na hora da verdade
dos fatos a classe média notou que não era tão distinta das novas classes
médias e temendo serem igualadas ao que negavam saíram às ruas e janelas para
protestar diante da desconstrução do seu imaginário de self-made mam.
A realidade é dura. Somos um país, e não é exceção, controlado pelo grande capital e que cada vez menos se importa com as classes intermediárias devido a expansão da capacidade produtiva de quinquilharias sofisticadas e artificialmente entendidas como necessárias à sobrevivência.
A realidade é dura. Somos um país, e não é exceção, controlado pelo grande capital e que cada vez menos se importa com as classes intermediárias devido a expansão da capacidade produtiva de quinquilharias sofisticadas e artificialmente entendidas como necessárias à sobrevivência.
A realidade é crua.
A classe média não se mantém sem a intervenção do Estado. A mesma intervenção
que, via políticas públicas de distribuição de renda, fez emergir
artificialmente a nova classe média, vista com horror pela “tradicional classe média”
que estudou em colégios particulares e mantém plano de saúde e vida em
condomínio.
A realidade é
nua. Num país de aproximadamente 200 milhões de habitantes, apenas 27.895.000
declararam imposto de renda. Uma porcentagem baixíssima de classe média. Sendo
que a declaração obrigatória de renda inicia-se no valor de R$1.903,99 e a
última faixa de contribuição principia pelo valor de R$4.664,68. Traduzindo:
somos uma população de explorados que se pensa de classe média, deseja viver
como membro do capital e critica e faz piada, diuturnamente, das frações de
classe dos andares de baixo. O típico comportamento da síndrome de Caco
Antibes.
Assim, a
sétima economia do mundo tem salário baixo e quase nada de renda, nem chegando
perto do capital. Há se não fossem os pobres pagando imposto sendo extraído
destes muito mais do que recebem quer do Estado ou dos que se pensam e agem
como self-made mam. O país pararia sem a extração extra do salário daqueles que
são piada e motivo de horror para os “tradicionais”.
Feliz dia do
trabalho, pois, o salário oh! E a rena, nem!
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