domingo, 12 de julho de 2015

Cristiano Araújo na voz de Zeca Camargo: a questão da “crítica da arte”

Quanto Immanuel Kant (1724-1804) abordou a questão da estética e o papel do artista afirmou que o gênio artístico é original e exemplar, ou seja, é o formador de novas regras na arte que produz a tal ponto que se torna exemplo a ser observado pelos demais artistas da área em questão. Este o traço das contribuições originais. Cristiano Araújo passaria por esta peneira?
Pela peneira de Kant, possivelmente, passaria Aleijadinho, Oscar Niemayer, Machado de Assis, Heitor Villa-Lobos, Elis Regina, e alguns outros. Bem poucos outros!?
Zeca Camargo não errou ao analisar a produção artística de Cristiano Araújo. Equivocou-se no tempo que o fez. Não analisou a comoção popular como elemento do show business, da lucratividade da indústria cultural que pouco ou quase nada quer com o gênio ao estilo definido por Kant por propiciar pensamento e sentimentos livres e autônomos que podem tirar o povo da massa consumista.
Cristiano Araújo é fruto de seu tempo e espaço. Conhecido “nacionalmente” estava num terreno entre a cultura popular e a mídia de massa; num ponto onde o sucesso está marcado pela lógica do lucro e pela da exposição visceral. Onde o músico é produto temporário, mas, no emergir tem força suficiente para movimentar milhões pelas massas que o consomem no formato de shows, CDs e DVDs, conteúdo de jornais, revistas, sites, etc. Assim, e não por acaso, uma de suas maiores defesas foram a cifras que movimentou no país enquanto vivo e, para o lucro do espetáculo sua morte renderia ainda mais pela comoção que se ameniza pela via do consumo das “últimas lembranças”.
Zeca Camargo ao buscar fazer uma autocrítica, no sentido de viabilizar uma análise do meio do qual é fruto, a mídia de massa com sua lucratividade pela “arte” produzida em massa e quase unitemática – o alienante amor burguês individual e individualista que faz do outro objeto e não sujeito do amor, onde o “caipira enlatado em moldes semi-norteamericanos é o ápice da “sofrência” egoística – terminou por expor o quanto o público da mídia de massa é limitada pelo próprio meio que a (des)educou e vista diante do espelho ignaro se recuou a olhar o espelho o narciso Zeca se refletia.


O choque não poderia ser menor para um público colocado diante de uma crítica feita magistralmente pela Escola de Frankfurt. O trauma comovente uniu as massas, as mídias para a inquisição midiática do crítico que se rendeu penitente e pediu desculpas diante do fato, já assinalado pelo kant – que possivelmente poderia ter inspirado um Zeca Camargo crítico – a razão cria monstros que a própria razão desconhece! 

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