Quanto Immanuel
Kant (1724-1804) abordou a questão da estética e o papel do artista afirmou que
o gênio artístico é original e exemplar, ou seja, é o formador de novas regras
na arte que produz a tal ponto que se torna exemplo a ser observado pelos
demais artistas da área em questão. Este o traço das contribuições originais.
Cristiano Araújo passaria por esta peneira?
Pela peneira
de Kant, possivelmente, passaria Aleijadinho, Oscar Niemayer, Machado de Assis,
Heitor Villa-Lobos, Elis Regina, e alguns outros. Bem poucos outros!?
Zeca Camargo
não errou ao analisar a produção artística de Cristiano Araújo. Equivocou-se no
tempo que o fez. Não analisou a comoção popular como elemento do show business,
da lucratividade da indústria cultural que pouco ou quase nada quer com o gênio
ao estilo definido por Kant por propiciar pensamento e sentimentos livres e
autônomos que podem tirar o povo da massa consumista.
Cristiano
Araújo é fruto de seu tempo e espaço. Conhecido “nacionalmente” estava num
terreno entre a cultura popular e a mídia de massa; num ponto onde o sucesso
está marcado pela lógica do lucro e pela da exposição visceral. Onde o músico é
produto temporário, mas, no emergir tem força suficiente para movimentar
milhões pelas massas que o consomem no formato de shows, CDs e DVDs, conteúdo
de jornais, revistas, sites, etc. Assim, e não por acaso, uma de suas maiores
defesas foram a cifras que movimentou no país enquanto vivo e, para o lucro do
espetáculo sua morte renderia ainda mais pela comoção que se ameniza pela via
do consumo das “últimas lembranças”.
Zeca Camargo ao
buscar fazer uma autocrítica, no sentido de viabilizar uma análise do meio do
qual é fruto, a mídia de massa com sua lucratividade pela “arte” produzida em
massa e quase unitemática – o alienante amor burguês individual e
individualista que faz do outro objeto e não sujeito do amor, onde o “caipira
enlatado em moldes semi-norteamericanos é o ápice da “sofrência” egoística –
terminou por expor o quanto o público da mídia de massa é limitada pelo próprio
meio que a (des)educou e vista diante do espelho ignaro se recuou a olhar o espelho
o narciso Zeca se refletia.
O choque não
poderia ser menor para um público colocado diante de uma crítica feita
magistralmente pela Escola de Frankfurt. O trauma comovente uniu as massas, as
mídias para a inquisição midiática do crítico que se rendeu penitente e pediu
desculpas diante do fato, já assinalado pelo kant – que possivelmente poderia
ter inspirado um Zeca Camargo crítico – a razão cria monstros que a própria
razão desconhece!
Nenhum comentário:
Postar um comentário