Não é devido
ao fim da escravidão formal que não temos mais escravizados no século XXI. Pelo
contrário, nunca houve tantos seres humanos em escravidão ou situação análoga à
escravidão. Mesmo em Ribeirão Preto já vimos várias denúncias contra a
construção civil e seus incorporadores. O trabalho escravizado ainda rende
lucros mesmo quando descoberto e punido pelo Estado.
Não é devido ao
fim do patriarcalismo que o sistema patriarcal se desfaz - aquela que permitia
a punição de esposas, filhas, ou mulheres, em geral, com a pena de morte por
infligir a vontade do macho. A Lei Maria da Penha e os casos cotidianamente
denunciados pela imprensa evidenciam o tamanho do problema apesar da igualdade
perante a lei entre homens e mulheres. Ou seja, o tipo de crime leva a
impunidade diante pena menor praticada por juízes homens.
Não foi devido
ao fim da era do carvão que este deixou de ser utilizado pelo capitalismo. Pelo
contrário, a China o usa em larga escala e as carvoarias, não raro, estão
entrelaçadas com o trabalho escravizado, mesmo no Brasil. O lucro do carvão
mantém seres humanos aprisionados e soterrados em minas.
Com o caso do
Petróleo não é diferente.
A queda no
preço do barril no planeta não coloca fim ao seu uso, pelo contrário, o
implementa como último suspiro de um modelo energético. Isto não quer dizer que
pararemos de utilizar o petróleo como base de energia produtiva, no planeta,
ainda esta década, mas, que, não há espaço para ele no futuro do século XXI. Ao
menos da forma escancarada com que vimos no século XX.
Se, 2014 foi o
ano mais quente da história da humanidade desde as primeiras medições
realizadas; não deixa de ser alarmante que o ano de 2015 já tomou o prêmio
indesejado do ano de 2014. O aquecimento do planeta se acelera, superando as
expectativas dos cientistas. O alarme soa cada vez com maior e com urgência se
faz necessária uma resposta.
Face ao
aquecimento global, os maiores investidores do planeta, que não estão infensos
a esta realidade que desembocará em impostos e taxas cada vez mais caras para
os produtos que têm em sua pegada produtiva o uso de tal energia, do carbono em
geral, iniciam o desembarque desta matriz energética na bolsa de valores não só
do Brasil, mas do planeta.
Aquilo que os
Estados não foram capazes de fazer pela COP 21 (novembro a dezembro de 2015)
será feito esta semana, com a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos? As
questões que se farão sentir nas entrelinhas do debate econômico neoliberal
são: clima e petróleo. As maiores fortunas planetárias se reúnem em meio a
Chefes de Estado e suas comitivas para decidir o que farão do planeta, para
além das decisões das Nações Unidas, e mesmo de Estados isolados, diante das
práticas e saberes neoliberais que não querem ver seus lucros minguarem diante
de taxas e impostos. Não por acaso o tema de Davos, em 2016 é a “Quarta
revolução industrial”.
Para o Brasil,
esta realidade se materializa de forma contraditória. Embora o petróleo esteja
com o preço em queda no plano internacional – e isto atinja em cheio o valor das ações da
Petrobrás, mas, não só dela, de toda e qualquer petrolífera e seu complexo
produtivo, – devido a demanda por
redução de carbono e o possível direcionamento das grandes fortunas para
energias limpas, em médio prazo, é um fato no mínimo embaraçoso diante dos
projetos da camada do pré-sal.
A era do
petróleo chegou ao fim antes mesmo que pudéssemos fazer do lema “O petróleo é
nosso” em uma realidade de redistribuição de renda via royalties para a
educação. Esta a característica de terceiro mundo, de país atrasado ou em
desenvolvimento que não conseguimos deixar para trás: quando estamos próximos
ao modelo dominante de produção, este se esgota diante de uma nova vertente ou
matriz.
Deste prisma, a
queda do preço do petróleo e do valor das ações das empresas petrolíferas e
seus complexos visam a não expansão da estrutura em preparação a sua substituição.
Em seu último suspiro dominante o petróleo será viabilizado ao maior número
possível de agentes econômicos e sociais para garantir até o último centavo de
lucro. Enquanto este modelo de carbono não se torna antieconômico e
merecidamente ilegal em nome das gerações futuras ele será utilizado, mas seu
complexo produtivo será limitado cada vez mais – este o problema maior para o
pré-sal.
Assistimos aos
estertores do petróleo e tornar antieconômica a extração do pré-sal é apenas um
dos sinais irreversíveis deste processo histórico onde ou deciframos o aquecimento
global ou seremos pelo planeta dizimados por catástrofes climáticas cada vez
mais gigantescas: enchentes, secas, nevascas, furações, perda de lavouras,
doenças... onde as pragas do Antigo Egito parecerão brincadeira de criança
diante dos desalojados e famintos do clima.
E, deste
prisma havia razão para o Estado investir em pesquisa de ponta para tornar o
pré-sal cada vez mais viável do ponto de vista se ele será cada vez mais
condenado do ponto de vista ambiental? Seria o tempo de darmos um passo adiante
e investirmos no que temos também em abundância: sol, ventos e marés? Ou seria
necessário dois passos além para entrarmos no século XXI?
Nenhum comentário:
Postar um comentário