quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O planeta e o petróleo ou a crise das ações

Não é devido ao fim da escravidão formal que não temos mais escravizados no século XXI. Pelo contrário, nunca houve tantos seres humanos em escravidão ou situação análoga à escravidão. Mesmo em Ribeirão Preto já vimos várias denúncias contra a construção civil e seus incorporadores. O trabalho escravizado ainda rende lucros mesmo quando descoberto e punido pelo Estado.
Não é devido ao fim do patriarcalismo que o sistema patriarcal se desfaz - aquela que permitia a punição de esposas, filhas, ou mulheres, em geral, com a pena de morte por infligir a vontade do macho. A Lei Maria da Penha e os casos cotidianamente denunciados pela imprensa evidenciam o tamanho do problema apesar da igualdade perante a lei entre homens e mulheres. Ou seja, o tipo de crime leva a impunidade diante pena menor praticada por juízes homens.
Não foi devido ao fim da era do carvão que este deixou de ser utilizado pelo capitalismo. Pelo contrário, a China o usa em larga escala e as carvoarias, não raro, estão entrelaçadas com o trabalho escravizado, mesmo no Brasil. O lucro do carvão mantém seres humanos aprisionados e soterrados em minas.
Com o caso do Petróleo não é diferente.
A queda no preço do barril no planeta não coloca fim ao seu uso, pelo contrário, o implementa como último suspiro de um modelo energético. Isto não quer dizer que pararemos de utilizar o petróleo como base de energia produtiva, no planeta, ainda esta década, mas, que, não há espaço para ele no futuro do século XXI. Ao menos da forma escancarada com que vimos no século XX.
Se, 2014 foi o ano mais quente da história da humanidade desde as primeiras medições realizadas; não deixa de ser alarmante que o ano de 2015 já tomou o prêmio indesejado do ano de 2014. O aquecimento do planeta se acelera, superando as expectativas dos cientistas. O alarme soa cada vez com maior e com urgência se faz necessária uma resposta.
Face ao aquecimento global, os maiores investidores do planeta, que não estão infensos a esta realidade que desembocará em impostos e taxas cada vez mais caras para os produtos que têm em sua pegada produtiva o uso de tal energia, do carbono em geral, iniciam o desembarque desta matriz energética na bolsa de valores não só do Brasil, mas do planeta.
Aquilo que os Estados não foram capazes de fazer pela COP 21 (novembro a dezembro de 2015) será feito esta semana, com a reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos? As questões que se farão sentir nas entrelinhas do debate econômico neoliberal são: clima e petróleo. As maiores fortunas planetárias se reúnem em meio a Chefes de Estado e suas comitivas para decidir o que farão do planeta, para além das decisões das Nações Unidas, e mesmo de Estados isolados, diante das práticas e saberes neoliberais que não querem ver seus lucros minguarem diante de taxas e impostos. Não por acaso o tema de Davos, em 2016 é a “Quarta revolução industrial”.
Para o Brasil, esta realidade se materializa de forma contraditória. Embora o petróleo esteja com o preço em queda no plano internacional –  e isto atinja em cheio o valor das ações da Petrobrás, mas, não só dela, de toda e qualquer petrolífera e seu complexo produtivo, –  devido a demanda por redução de carbono e o possível direcionamento das grandes fortunas para energias limpas, em médio prazo, é um fato no mínimo embaraçoso diante dos projetos da camada do pré-sal.  

A era do petróleo chegou ao fim antes mesmo que pudéssemos fazer do lema “O petróleo é nosso” em uma realidade de redistribuição de renda via royalties para a educação. Esta a característica de terceiro mundo, de país atrasado ou em desenvolvimento que não conseguimos deixar para trás: quando estamos próximos ao modelo dominante de produção, este se esgota diante de uma nova vertente ou matriz.
Deste prisma, a queda do preço do petróleo e do valor das ações das empresas petrolíferas e seus complexos visam a não expansão da estrutura em preparação a sua substituição. Em seu último suspiro dominante o petróleo será viabilizado ao maior número possível de agentes econômicos e sociais para garantir até o último centavo de lucro. Enquanto este modelo de carbono não se torna antieconômico e merecidamente ilegal em nome das gerações futuras ele será utilizado, mas seu complexo produtivo será limitado cada vez mais – este o problema maior para o pré-sal.
Assistimos aos estertores do petróleo e tornar antieconômica a extração do pré-sal é apenas um dos sinais irreversíveis deste processo histórico onde ou deciframos o aquecimento global ou seremos pelo planeta dizimados por catástrofes climáticas cada vez mais gigantescas: enchentes, secas, nevascas, furações, perda de lavouras, doenças... onde as pragas do Antigo Egito parecerão brincadeira de criança diante dos desalojados e famintos do clima.

E, deste prisma havia razão para o Estado investir em pesquisa de ponta para tornar o pré-sal cada vez mais viável do ponto de vista se ele será cada vez mais condenado do ponto de vista ambiental? Seria o tempo de darmos um passo adiante e investirmos no que temos também em abundância: sol, ventos e marés? Ou seria necessário dois passos além para entrarmos no século XXI?

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