sábado, 11 de outubro de 2014

Carta aberta ao PT ou das possíveis razões do declínio eleitoral

Wlaumir Souza
Afinal, qual o discurso que vence a eleição - o dito ou o não dito? O realizável ou o irrealizável? Estes parecem ser os dilemas que resolverão a eleição presidencial de 2014.
Nas eleições de 2012, o machismo, o patriarcado e o personalismo fizeram a maioria crer que Fernando Haddad fora eleito prefeito da cidade de São Paulo pela influência pessoal de Lula. Não foi. Apesar do apoio de Lula, apenas a entrada na campanha de Marta Suplicy garantiu os votos necessários. Marta S. – por barganha política em nome de um Ministério? – arregimentou os votos dos pós-modernos, dos gays, das feministas e outras categorias relacionadas a gênero que não tinham para onde ir, diante dos outros nomes “conservadores” que disputavam o pleito.
Nas eleições de 2014 o quadro não é tão diverso.

O melhor sintoma não é a votação expressiva de Bolsonaro, Feliciano entre outros, mas o impacto que teve na campanha de Marina Silva, em sua primeira versão de “Plano de Governo”, a questão gay com uma plataforma “nunca antes vista neste País”. Mais importante que o dito, foi o não dito. Com a retirada da pauta LGBTTs a candidata perdeu parte de sua credibilidade e de votos espalhados pelo Brasil. O discurso dito foi o da candidata evangélica que poria em risco o Estado laico. O não dito, a questão de gênero é um fator decisivo das eleições em detrimento do pensamento, discurso e práticas retrógradas de tantas igrejas em meio ao arcabouço machista que defendem.
Por outro lado, a Presidenta Dilma Rousseff e Aécio Neves tentam passar ao largo da questão, num tipo de postura subliminar que não fira ou atice os ânimos quer de progressistas ou retrógrados das questões e agendas de gênero. Todavia, entre um candidato e outro qual seria o mais palatável para o público pós-moderno, os gays, as feministas e outras categorias relacionadas a gênero que não têm para onde ir face aos “conservadorismos” da cena política em meio a uma coxia irrequieta e um público com o entusiasmo a flor da pele?
Algumas pistas já foram dadas.
Aécio em primeira aparição em público para o segundo turno fez a arte do patriarcado: bom pai, bom esposo e bom provedor – apesar de todos os comentários de sua vida pregressa nas noites e madrugadas cariocas? Mais uma vez o não dito é mais forte que o expresso? Ou seja, votem em Aécio que nada mudará na vida familiar: vida pública com foto de família de margarina e vida privada a “Providência dará”? Ou seja, tudo ficará no muro?

Dilma, surgiu sozinha para dispor-se ao segundo turno, como a vitoriosa que abriu mão do “protetor” Lula. Este uma espécie de padrinho e damo de honra das virtudes de divorciada que vive como uma viúva virtuosa e assexuada, em nome da competência pós-moderna da mulher poderosa e executiva. Todavia, as práticas de seu governo para as agendas progressistas de gênero não foram palatáveis a alguns de seus principais atores ou ao(a) cidadão(ã) comum.
Neste ponto, os trabalhistas parecem devedores do patriarcado machista e classista. Se sentem muito classe média após mais de uma década no governo e não arriscam em questões que vão para além da moral medíocre, digo mediana. E, por isto mesmo, abre espaço à direita que nada fará. Nada por nada, qual a razão de se apoiar a continuidade que pouco acrescentará? Não por acaso o lema da campanha dá a mão à palmatória e propõe um novo governo com novas ideias, algo do tipo medianamente conservador, ou seja, modernização conservadora - se transforma para permanecer o mesmo.
Quanto ao patriarcado, exigem da Presidenta a postura de assexuada e enquanto tal deve ficar longe daquela que seria sua redentora eleitoral, Marta Suplicy? Não precisaria que a ex- do ex-Senador (e por isto mesmo punida e execrada do Partido?)  – que não se comportou como assexuada, fazendo jus a sua biografia (idem?) – fizesse grandes discursos para ganhar a eleição. Bastaria aparecer em público dizendo do apoio urgente e necessário. Isto bastaria para que os progressistas entendessem e acorressem. Mas, como dizer isto a um partido que “nasceu e cresceu” de certa forma na sacristia da Teologia da Libertação e ganhou espaço com uma linha eleitoral baseada no voto religioso que despertou a Hidra Religiosa para o poder que tem de dizer, por exemplo, “Crente vota em crente”?
E, afinal, se apenas o apoio personalista de Lula em campanha não resolver o pleito e como último suspiro for recorrer ao legado de Marta Suplicy, num tipo de personalismos feminista, o que esta mereceria? A casa civil? Seria demais para uma mulher que faz questão de ser Mulher? Ou o mínimo para quem mesmo sem dizer quase nada, diz quase tudo?

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