Wlaumir Souza
O
poder corrompe ou o poder revela? Estas são questões que remetem às questões,
respectivamente, filosóficas, de Rousseau – nascemos bons e a sociedade nos
corrompe – ou, em Hobbes, o Homem é o lobo do homem. Estas teses até hoje não
chegaram a uma síntese que satisfaça o pensar e o viver, a teoria e a prática,
o dominante ou o dominado.
Todavia,
as eleições de 2014 colocaram em relevo um fato inequívoco. A corrupção graça à
direita ou à esquerda, mesmo estando estes conceitos mais que esgarçados pelas
alianças políticas que, do ponto de vista histórico, seriam impensáveis há pouco
mais de uma década, devido ao grau de espúria que remeteria.
Assistir
o PT unido a Fernando Collor, Paulo Maluf, José Sarney (entre outros); ou o
PSDB unido a Marina Silva – que só perde em personalismo político, hoje, para LLulla
e FFHH –, Eduardo Jorge (entre outros); é
no mínimo constrangedor para quem não abandonou o programático em nome do
pragmático.
Mais
que isto, evidencia que a corrupção no país atingiu um nível suprapartidário
pela demanda do poder ou o nível suprapartidário atingiu a corrupção pela
demanda do poder? Em outros termos, o corrompido e o corruptor se confundiram
numa simbiose onde o colorido partidário perdeu qualquer acento possível?
A
pasta rosa, o mensalão, o metrô paulistano, o mensalão, o nepotismo... e,
infelizmente, quase que um etc faria sentido nesta frase .Se no primeiro turno
vimos um desfilar de acusações mútuas entre os que ocuparam/ocupam cargos
eletivos, no segundo turno, inimigos aparentemente irreconciliáveis, devido as denúncias que se fizeram e as bandeiras que agitavam, se uniram
numa amnésia estarrecedora das denúncias alardeadas em cadeia nacional e em
horário nobre - onde o público alvo era a classe média em diante.
Estas
denúncias de parte a parte parecem ter como fim a banalização da corrupção uma
vez que nenhum dos denunciantes é visto às voltas com promotores e juízes
demandando por justiça, salvo, o raro caso do mensalão. Mais que isto, parece
uma discussão de compadres políticos em meio a possibilidade remota de uma
cisão de fato e não só de direito.
Há
um misto de mal estar na sociedade atônita com o fato de que tanta lama possa
correr em meio a campanha e tão pouca justiça se veja cumprir – inclusive pelo
sucateamento do aparato do judiciário que vem desde o Império – com cumplicidade
singela ao pensamento e a prática dominante na conformação das consciências.
E,
em decorrência da banalização do mal da corrupção organizada, vota-se quase
apático nos membros das elites partidárias que representam o estereótipo do
poder partidário, ao se candidatarem. Os candidatos e seus
partidos são votados não devido a cumplicidade real do povo com a corrupção,
antes pela ausência visível de candidatos com programas capazes de representar
a demanda social por justiça e dignidade. A vertente
explicativa que quer culpar a vítima do sistema pelo sistema diz que o povo tem
o governo que merece, mas, muito pelo contrário, o governo que o povo tem é o
que a elite permite ter, quer seja econômica e/ou partidária. Vergonha das vergonhas visto que todos, neste ponto, querem ser os meritocráticos da ética e da conduta ilibada.
Melancólico
trópico onde a denúncia fica quase vazia gerando um tipo de denuncismo
desconstrutor da democracia. Não visa a justiça ou a real
representação das aspirações populares como aquelas advindas de julho de 2013, as denúncias.
Da maneira que andam os debates presidenciáveis
– ter-se-á de escolher entre "meritocracia com corrupção” ou
"distribuição de renda com corrupção”, pois, não há outro modo de votar. O sufragado será o mais votado visto que o povo não pode invalidar a
eleição por maioria de votos brancos e nulos. O povo vítima, depois, será o
culpado do sistema nos alardes da elite que controla as mídias e, em parte, as
mentes dos corpos sofredores das conseqüências eleitorais, quer de um grupo pela "tolerância" com a inflação, quer de outro pelo "choque de desemprego".
A manifestação da indiferença (voto em branco)
ou inconformismo (voto nulo) pode ocorrer, mas, o sistema foi criado para andar
sem estes num arremedo de voto oligárquico onde, por vezes, a minoria envolvida
por parentescos mil, apaniguados outros, aparelhamentos os mais diversos, interesses privados tantos, votam e tão poucos sustentam o
devir democrático onde o saber permanece como poder.
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