“Faculdade de Ciências Nervosas”
é um conto sobre a arte de envelhecer. Quanto mais ancião, mais esta palavra
ganha urgência em ser substituída pela vida vivida. A premência da existência só
dá a ver a quem dela se percebe em fuga. Contrariado.
Fosse à primeira metade do século
XX, esta “h”istória causaria pudor e arrepios nos velhos de 44 anos sentados na
varanda aguardando a vida passar nos dias finais e, por vezes, terminais.
Sentado na varanda, acalentando sonhos dos netos e dos filhos e não os
próprios. E, quem ousasse ir contra a “história natural dos fatos”, sobretudo,
mulheres, seria coagido socialmente a resignar-se ou ser execrado.
Hoje, a beleza da história de 69
anos é rara aos de quem tem 19. Só os amantes de antiquários para saber o
quanto se ganha ou se perde com a idade. A história única e traz em si o gosto
da existência primitiva da do processo de humanização e individuação que apenas
a poucos pode dizer a si mesmo, em primeira mão, e, depois em público, quem se
é sem vergonha de ser.
Basta ser num tempo onde o único
é cada vez mais raro mesmo na obra de arte. Sobreviveu apenas o antiquário com
as peças raras no formato de obra prima repetida na unicidade de suas
existências.
É isto que os 19 anos encontram
nos 69. A mulher emancipada, dona de seu corpo e de seu desejo, desavergonhada
de suas carnes e de seus gemidos na esperança de em um átimo conter o que
juventude perdeu nos anos de existência.
A mulher Celena é tudo, menos afoita.
Isto os anos consumiram, mas lhe deram a urgência de viver. Neste ponto são os
dois jovens amantes que se interpenetram na busca do gozo de viver.
Ganha mais o jovem ou a
fogueteira? Ganha a vida sem travas de idades, sem limites na inquietude. Ganha
o jovem nas lições de lençol, ganha a anciã no calor dos braços jovens, ganha a
vida com a esperança de eternizar-se num gozo que não tem fim.
“Faculdade de Ciências Nervosas”
é um convite para se tomar ciência da vida, das faculdades mentais que a torna
mais bela, dos nervos que se abrem para o real, do entretenimento dos amantes
que confabulam sonhos irrefletidos diante dos dias.
Parabéns, Raúl Otuzi Oliveira por
mostrar o quanto os admirados de antiquário apreciam a arte da existência.
Wlaumir Souza
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