Não há como
negar que a história das Américas é marcada pelo cristianismo. Todavia, a cruz
que marcou os EE.UU, não foi a mesma dos demais países. E, dentre estes, a Igreja
que se implantou na primeira missa, no Brasil, era a mais retrógrada. Neste
ponto, não há como não recordar o tipo ideal de M. Weber, criticado como
estereotipia e preconceito pelos o opositores deste célebre pensador, quanto ao
papel de protestantes e católicos no que diz respeito aos “avanços” do comportamento
capitalista no Ocidente.
Enquanto a
Europa via ruir o modelo de padroado – onde a Igreja era um departamento de
Estado com privilégios cartoriais, como o de religião oficial que garantia a
pertença à nação e ao Estado -, o Brasil o implantava em clara aliança entre
Estado e Igreja. Dos tempos coloniais à “República Democrática” em que vivemos,
a igreja saiu de departamento de Estado a Estado com a colaboração de B.
Mussolini. A política realizada, até então, enquanto modo de influência passou
a ser uma chancela diplomática onde o Núncio Apostólico desenha cenários em conformidade
aos interesses católicos.
Se, no século
XIX, o oponente máximo da Igreja era o mundo moderno, o liberalismo e seus
representantes mais “discretamente visíveis”, a maçonaria e a ciência.
Realizadas as devidas alianças, no final das monarquias, nos berços da
República que aspirava a democracia, o novo oponente privilegiado passou a ser,
no século XX, o comunismo.
Nos braços do “capitalismo
republicano democrático” via-se a Igreja amparada no seu afã de proselitismo. A
liberdade do liberalismo lhe parecia, então, melhor que o controle Estatal de
outrora, embora o gosto pela monarquia ainda lhe deixasse saudades nos príncipes
da Igreja.
Assim, uma
Igreja livre num Estado livre, o que equivale a não haver qualquer tipo de
restrição – seja doutrinárias ou fiscais e, sobretudo na rede escolar privada
confessional – foi um acordo razoável para Igreja apoiar os políticos republicanos
que não tinham a “linhagem sagrada dos nobres”, então descartados no jogo do
poder de Estado explicito.
Figurou, deste
modo, no horizonte do Estado e da(s) Igreja(s) um oponente comum: o comunismo,
primeiro na URSS e depois em Cuba e China. No caso da Rússia a ascensão da
Igreja Russa Ortodoxa é visível no pós-comunismo. No caso da China as barreiras
ao cristianismo são marcadas, e até certo ponto, inflexíveis ao não avanço
desta vertente religiosa. E, no caso de Cuba?
O fato do
Vaticano ter operado no campo diplomático com destaque demonstra que em breve
teremos um documento oficial entre Igreja Católica e Cuba. Em geral, o primeiro
passo é a retomada das antigas propriedades seguida da liberdade de culto e
ensino. Em outros termos, seguindo os caminhos históricos a Igreja o ocupará
espaço privilegiado na educação das elites (econômicas) locais e distribuirá
bolsas de estudos a elite intelectual (e pobre). Com isto, fará, na média, em
vinte anos, uma transformação cultural com precedentes históricos; como o do
Brasil - que no final do Império tinha uma tendência anticlerical, para, nos
anos 1930 ver a saída do presidente do Estado do Palácio do Rio de Janeiro onde
tomou o poder G. Vargas, pelas mãos do Cardeal Leme. E, mais que isto, viu re-implantar
um tipo de neo-cristandade (“novo padroado”).
Deste prisma,
por meio de ação humanitária e na defesa das crianças – ponto em que não há
grandes discordâncias entre os Estados das Nações Unidas – a Igreja avançará
transformando as mentalidades cubanas sobre as noções de igualdade, aborto,
propriedade, pecado, ordem, e, como fato final do oponente principal do século
XX, que ainda sobrevive no século XXI, derrubará a vertente dominante de matriz
cultural socialista.
Não por acaso
a Igreja anunciava, no final de outubro de 2014, após 55 anos, a construção do
primeiro novo templo católico no País. Pobres indígenas, digo, cubanos. Mérito
não apenas do atual Papa, mas da política do Vaticano, já com os papas
anteriores, com destaque para Bento XVI, o papa emérito.
Wlaumir
Souza
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