quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Obama em Cuba: as pontas de lança do capitalismo

Não há como negar que a história das Américas é marcada pelo cristianismo. Todavia, a cruz que marcou os EE.UU, não foi a mesma dos demais países. E, dentre estes, a Igreja que se implantou na primeira missa, no Brasil, era a mais retrógrada. Neste ponto, não há como não recordar o tipo ideal de M. Weber, criticado como estereotipia e preconceito pelos o opositores deste célebre pensador, quanto ao papel de protestantes e católicos no que diz respeito aos “avanços” do comportamento capitalista no Ocidente.
Enquanto a Europa via ruir o modelo de padroado – onde a Igreja era um departamento de Estado com privilégios cartoriais, como o de religião oficial que garantia a pertença à nação e ao Estado -, o Brasil o implantava em clara aliança entre Estado e Igreja. Dos tempos coloniais à “República Democrática” em que vivemos, a igreja saiu de departamento de Estado a Estado com a colaboração de B. Mussolini. A política realizada, até então, enquanto modo de influência passou a ser uma chancela diplomática onde o Núncio Apostólico desenha cenários em conformidade aos interesses católicos.
Se, no século XIX, o oponente máximo da Igreja era o mundo moderno, o liberalismo e seus representantes mais “discretamente visíveis”, a maçonaria e a ciência. Realizadas as devidas alianças, no final das monarquias, nos berços da República que aspirava a democracia, o novo oponente privilegiado passou a ser, no século XX, o comunismo.
Nos braços do “capitalismo republicano democrático” via-se a Igreja amparada no seu afã de proselitismo. A liberdade do liberalismo lhe parecia, então, melhor que o controle Estatal de outrora, embora o gosto pela monarquia ainda lhe deixasse saudades nos príncipes da Igreja.
Assim, uma Igreja livre num Estado livre, o que equivale a não haver qualquer tipo de restrição – seja doutrinárias ou fiscais e, sobretudo na rede escolar privada confessional – foi um acordo razoável para Igreja apoiar os políticos republicanos que não tinham a “linhagem sagrada dos nobres”, então descartados no jogo do poder de Estado explicito.
Figurou, deste modo, no horizonte do Estado e da(s) Igreja(s) um oponente comum: o comunismo, primeiro na URSS e depois em Cuba e China. No caso da Rússia a ascensão da Igreja Russa Ortodoxa é visível no pós-comunismo. No caso da China as barreiras ao cristianismo são marcadas, e até certo ponto, inflexíveis ao não avanço desta vertente religiosa. E, no caso de Cuba?

O fato do Vaticano ter operado no campo diplomático com destaque demonstra que em breve teremos um documento oficial entre Igreja Católica e Cuba. Em geral, o primeiro passo é a retomada das antigas propriedades seguida da liberdade de culto e ensino. Em outros termos, seguindo os caminhos históricos a Igreja o ocupará espaço privilegiado na educação das elites (econômicas) locais e distribuirá bolsas de estudos a elite intelectual (e pobre). Com isto, fará, na média, em vinte anos, uma transformação cultural com precedentes históricos; como o do Brasil - que no final do Império tinha uma tendência anticlerical, para, nos anos 1930 ver a saída do presidente do Estado do Palácio do Rio de Janeiro onde tomou o poder G. Vargas, pelas mãos do Cardeal Leme. E, mais que isto, viu re-implantar um tipo de neo-cristandade (“novo padroado”).
Deste prisma, por meio de ação humanitária e na defesa das crianças – ponto em que não há grandes discordâncias entre os Estados das Nações Unidas – a Igreja avançará transformando as mentalidades cubanas sobre as noções de igualdade, aborto, propriedade, pecado, ordem, e, como fato final do oponente principal do século XX, que ainda sobrevive no século XXI, derrubará a vertente dominante de matriz cultural socialista.
Não por acaso a Igreja anunciava, no final de outubro de 2014, após 55 anos, a construção do primeiro novo templo católico no País. Pobres indígenas, digo, cubanos. Mérito não apenas do atual Papa, mas da política do Vaticano, já com os papas anteriores, com destaque para Bento XVI, o papa emérito.

Wlaumir Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário