quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Água, AIDS e despolitização.

Durante as eleições, e atravessando um dos períodos de maior seca, quase tudo que se viu, na campanha eleitoral, foi um trabalho de desconstrução do adversário politico e a desmobilização do eleitorado para além de qualquer gesto que não fosse o de ir às urnas. Neste ponto chamou atenção o fato da despolitização em diferentes níveis do eleitorado.
O primeiro e mais notório nos últimos anos é o fato da campanha girar ao redor do MKT profissional que quase nada incrementa no debate político para além de um País da propaganda onde todos gostariam de viver, pois, bem diferente do mundo cotidiano do real. Neste ponto a questão da água, no Estado de São Paulo, mas, não só por aqui, foi alarmante.
Em um processo contínuo de despolitização atribuía-se a falta de chuvas a S. Pedro e outros fatores mágicos. Mais que isto, a cena de políticos em nascentes ou represas com “curandeiros” fazendo à dança da chuva, digo, as rezas para chover. Quantos séculos retrogradamos?
Ao invés de se ter um debate sobre o meio ambiente e a legislação recentemente aprovada e seu impacto negativo nas precipitações em termos de crise e segurança hídrica, apelava-se para o pensamento e os atos mágicos que nos colocou no mesmo patamar que as tribos. Isto para o Estado que ainda se pensa a locomotiva do Brasil.
A despolitização realizada pelos agentes do Estado e por uma mídia cúmplice com um dos lados em questão, não para neste ponto.

No mês em que se marca uma data de combate internacional à AIDS, primeiro de dezembro, assiste-se ao mesmo fenômeno em novos parâmetros. O crescimento de portadores do vírus HIV, sobretudo entre pessoas dentre 15 a 24 anos, é atribuída ao fato de que a nova geração não viu morrer artistas e demais pessoas célebres em decorrência das complicações causadas pelo vírus. Nada mais pueril e despolitizante que isto.
Sim, como canta Cazuza, “Meus heróis morreram de overdose (AIDS)”, foi um marco que levou o próprio Cazuza à morte pela CIDA. Sim, isto colaborou para o processo educativo daquela geração. Mas, o ponto máximo não foi apenas o terror de se morrer em pouco tempo, foi o fato de se investir nos mais diferentes processos educativos de combate ao vírus.
Havia investimento de campanhas educacionais e publicitárias, nos mais diferentes espaços, da escola, passando pelos profissionais da saúde, à televisão, rádio, jornais e revistas. Mais que isto, houve um combate ao pensamento mágico que queria restringir tudo que diz respeito ao sexo e a sexualidade ao espaço privado das consciências e do controle do pecado.
A geração que conta entre 15 a 24 anos é a maior vitima da despolitização em nome de doutrinas políticas e religiosas que querem ocultar o real em nome de um mundo que só existe no imaginário de seus defensores que tem triunfado na Terra Brasilis.
Assim, são vítimas os jovens do crescimento do poder religioso sobre a sociedade, a política e na decisão dos rumos da educação, por consequência. Estas decisões silenciam a educação que foi e é o maior mecanismo sistemático de combate a qualquer forma de doença física ou social, os preconceitos e discriminações.
Esta geração, de 15 a 24 anos é vítima de uma despolitização continuada que fez da progressão continuada a “progressão automática” que aliada a meios de divertimentos cada vez mais baratos e hipnóticos, realizados em farto mercado virtual – de computadores a celulares -, se vê sequestrada do direito a informação, sem censura prévia de conteúdo, de modo sistemático na educação.
Sim, é possível dar combate o HIV, mas, não só pela morte dos “Heróis da AIDS”, mas, por um processo decisório de educação que faz da rememória politizada dos “Heróis mortos pelo vírus” instrumentos educativos preciosos, sem que se passe pelo conteúdo como quem dorme a beira da estrada por uma progressão sistemática de paisagens que nada diz ou transforma devido a meta “coronelesca” de despolitizar e mistificar das políticas.

Wlaumir Souza.

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