O Estado de
Bem-estar social foi a resposta capitalista ao modelo da URSS. Assim,
implementar o Estado-previdência era um meio para inviabilizar a crescente
união dos trabalhadores na luta por direito
amalgamada pelos avanços do ideário comunista/socialista.
Finda a URSS,
o ocidente liberal capitalista não precisava mais alocar tantos recursos
econômicos para legitimar a ordem social do trabalho assalariado, via direitos
trabalhistas, até então propalados como direitos sociais indissociáveis da
cidadania. A exploração poderia ser mais explícita, todavia, com a cumplicidade
típica da classe média com a classe dominante.
Neste ambiente
de dissolução da URSS, e em meio à derrocada moral do sistema socialista e de
seus mandatários, expostos em praça pública via televisão, ao vivo e em cores
na forma de espetáculo, ofereceu-se, em bandeja de prata, às classes médias a
cidadania enquanto direito de consumo em substituição ao bem-estar social.
Chegado o
capitalismo a um dos pontos altos da reprodutividade, da produção em série, proporcionar o endividamento quase “infinito” via cartão de crédito e
empréstimos e financiamentos outros, onde o alvo era fazer o cidadão feliz pelo
consumo, passou a ser o diletantismo dos privilegiados do sistema.
Estabilizada esta
etapa do cidadão consumidor, via classes médias, e com a tendência histórica
destes se aliarem com as classes dominantes, desfazer o Estado social seria
passo seguinte para os avanços do liberalismo, denominado, na fase do
neoliberalismo. Afinal, os recursos alocados para manter a ordem social, via
investimento público, poderiam ser alcunhados de gastos desnecessários responsáveis
pelo endividamento do Estado e formador de vasta clientela; agora desnecessária
do ponto de vista estratégico e legitimador dos avanços do capital.
Não deixa de
ser interessante notar que o bem-estar social, no Brasil, foi uma atividade
típica do Estado Autoritário – Getúlio Vargas – e depois, de certo modo, avançou
pela Ditadura Militar como meio de legitimar a ordem oferecendo à parte melhor
remunerada da classe trabalhadora direitos que as desarticulassem e trouxessem
a cumplicidade com os abusos de poder. Todavia, como a redemocratização antecipou-se
a derrocada da URSS, validar os direitos trabalhistas do Estado-previdência era
fundamental no ambiente do Estado de direito.
Passadas estas
etapas, ao capital, sem concorrentes ideológicos à altura do discurso moral que
protegia(e) os dominantes – e não por
acaso, desde as manifestações de julho de 2013, e com mensalão em voga – a
tônica foi a desclassificação moral das proclamadas “esquerdas”. Desmoralizar a
esquerda como resposta legítima se fazia urgente para fazer avançar, sem grandes
soluços, a agenda do capital.
Não conseguindo
retirar a “esquerda” do poder via voto, no Estado democrático, e, com um
projeto fundamental para os avanços da concentração de renda capitalista, a
terceirização, se fazia urgente retomar as manifestações legitimadoras de uma
nova ordem, sobretudo via redes sociais para parecer “insuspeito”, em tempos
onde a grande mídia é assolada pelo descrédito da imparcialidade. Neste ponto,
as “esquerdas”, mais atentas que em julho de 2013, não entraram no cadafalso
para o baile de máscaras. Restou às direitas assumir o papel no jogo explicito
pelo poder. E, como ponto alto, a publicidade em cadeia nacional da FIESP em
favor da terceirização.
As “massas cheirosas”
foram às ruas clamar por uma nova velha ordem contra a corrupção e com isto
legitimar o poder dos reformadores, no primeiro quadrimestre de 2015. Não observaram
que se espojavam com uma fração de classe que só viabilizou, historicamente, a
origem das classes intermediárias, como meio de legitimação da exploração enquanto
ascensão controlada. Ficando a produção restrita aos “poucos e
bons”.
Deitaram-se
num dia com direitos trabalhistas garantidos pelo modelo de Estado que
condenavam e acordaram, no dia 23 de abril de 2015, tal qual os súditos do
findo Império do Brasil, no ano de 1889, bestializados com os riscos que os
direitos trabalhistas corriam; sem entender, ou perceber, que, da noite para o dia, foram igualados aos empregados domésticos no período quase anterior a PEC das
domésticas.
Despertaram
sem notar que às classes dos “poucos e bons” membros da FIESP, e seus pares ,foram
apenas “massa de manobra cheirosa” nos avanços do lucro e da exploração em meio
a precarização das condições de trabalho, crédulos de que o velho pacto
implícito entre classes médias e os donos dos meios de produção permanecia em
vigor.
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