quinta-feira, 23 de abril de 2015

Terceirização: a jornada rumo ao fim da Era Vargas

O Estado de Bem-estar social foi a resposta capitalista ao modelo da URSS. Assim, implementar o Estado-previdência era um meio para inviabilizar a crescente união dos trabalhadores na luta por direito  amalgamada pelos avanços do ideário comunista/socialista.
Finda a URSS, o ocidente liberal capitalista não precisava mais alocar tantos recursos econômicos para legitimar a ordem social do trabalho assalariado, via direitos trabalhistas, até então propalados como direitos sociais indissociáveis da cidadania. A exploração poderia ser mais explícita, todavia, com a cumplicidade típica da classe média com a classe dominante.
Neste ambiente de dissolução da URSS, e em meio à derrocada moral do sistema socialista e de seus mandatários, expostos em praça pública via televisão, ao vivo e em cores na forma de espetáculo, ofereceu-se, em bandeja de prata, às classes médias a cidadania enquanto direito de consumo em substituição ao bem-estar social.
Chegado o capitalismo a um dos pontos altos da reprodutividade, da produção em série, proporcionar o endividamento quase “infinito” via cartão de crédito e empréstimos e financiamentos outros, onde o alvo era fazer o cidadão feliz pelo consumo, passou a ser o diletantismo dos privilegiados do sistema.

Estabilizada esta etapa do cidadão consumidor, via classes médias, e com a tendência histórica destes se aliarem com as classes dominantes, desfazer o Estado social seria passo seguinte para os avanços do liberalismo, denominado, na fase do neoliberalismo. Afinal, os recursos alocados para manter a ordem social, via investimento público, poderiam ser alcunhados de gastos desnecessários responsáveis pelo endividamento do Estado e formador de vasta clientela; agora desnecessária do ponto de vista estratégico e legitimador dos avanços do capital.
Não deixa de ser interessante notar que o bem-estar social, no Brasil, foi uma atividade típica do Estado Autoritário – Getúlio Vargas – e depois, de certo modo, avançou pela Ditadura Militar como meio de legitimar a ordem oferecendo à parte melhor remunerada da classe trabalhadora direitos que as desarticulassem e trouxessem a cumplicidade com os abusos de poder.  Todavia, como a redemocratização antecipou-se a derrocada da URSS, validar os direitos trabalhistas do Estado-previdência era fundamental no ambiente do Estado de direito.
Passadas estas etapas, ao capital, sem concorrentes ideológicos à altura do discurso moral que protegia(e) os dominantes  – e não por acaso, desde as manifestações de julho de 2013, e com mensalão em voga – a tônica foi a desclassificação moral das proclamadas “esquerdas”. Desmoralizar a esquerda como resposta legítima se fazia urgente para fazer avançar, sem grandes soluços, a agenda do capital.

Não conseguindo retirar a “esquerda” do poder via voto, no Estado democrático, e, com um projeto fundamental para os avanços da concentração de renda capitalista, a terceirização, se fazia urgente retomar as manifestações legitimadoras de uma nova ordem, sobretudo via redes sociais para parecer “insuspeito”, em tempos onde a grande mídia é assolada pelo descrédito da imparcialidade. Neste ponto, as “esquerdas”, mais atentas que em julho de 2013, não entraram no cadafalso para o baile de máscaras. Restou às direitas assumir o papel no jogo explicito pelo poder. E, como ponto alto, a publicidade em cadeia nacional da FIESP em favor da terceirização.
As “massas cheirosas” foram às ruas clamar por uma nova velha ordem contra a corrupção e com isto legitimar o poder dos reformadores, no primeiro quadrimestre de 2015. Não observaram que se espojavam com uma fração de classe que só viabilizou, historicamente, a origem das classes intermediárias, como meio de legitimação da exploração enquanto ascensão controlada. Ficando a produção restrita aos “poucos e bons”.
Deitaram-se num dia com direitos trabalhistas garantidos pelo modelo de Estado que condenavam e acordaram, no dia 23 de abril de 2015, tal qual os súditos do findo Império do Brasil, no ano de 1889, bestializados com os riscos que os direitos trabalhistas corriam; sem entender, ou perceber, que, da noite para o dia, foram igualados aos empregados domésticos no período quase anterior a PEC das domésticas.
Despertaram sem notar que às classes dos “poucos e bons” membros da FIESP, e seus pares ,foram apenas “massa de manobra cheirosa” nos avanços do lucro e da exploração em meio a precarização das condições de trabalho, crédulos de que o velho pacto implícito entre classes médias e os donos dos meios de produção permanecia em vigor.




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