sexta-feira, 10 de abril de 2015

Todos contra a corrupção no Brasil ou somos todos honestos

Todos contra a corrupção no Brasil ou somos todos honestos

A cada época corresponde um modelo de legitimidade social, política e econômica.
Entre gregos e romanos a elite descendia, via heróis, dos Deuses e com isto validava-se todas as formas de exclusão e abusos do poder – visto do presente para o passado – que correspondiam a uma sociedade organizada dando origem ao modelo ocidental de Estado e de democracia.
Na Idade Média, mas não apenas nela, o mundo moderno incluso em período de transição, e de certa forma até os nossos dias, Deus era o garantidor da ordem social e seus representantes, a Igreja, depois, no mundo moderno, as igrejas, diziam o discurso legitimador do sistema. Assim, não se fez as grandes navegações apenas pelo vil metal, pelo lucro, e, sim, para se levar a palavra de Deus aos povos denominados de pagãos.
Apesar das transformações diversas, o discurso religioso permanece presente e forte, sobretudo em determinados países e classes sociais. Todavia, em especial no Ocidente, não se pretende mais revoluções e avanços sociais apenas pelas práticas discursivas religiosas. Acrescentou-se a este o discurso científico que pelo anterior é permeado.
Ficando apenas em um exemplo, enquanto para os gregos a “natureza” sempre existiu, embora caótica; para os monoteístas, em geral, Deus criou o mundo do nada. Esta premissa religiosa influenciando o pensamento científico faz os cientistas quererem saber a origem do universo e não como ele sempre existiu. Mudou a religião explicadora, transformou as perguntas.
A ordem hoje é acalentada pela questão da honestidade. Todos contra a corrupção é um mote fácil e de efeito rápido, embora de prática conturbada e tergiversada. A honestidade é o substituto histórico da vida sem pecado, sem macula, “inaugurada” pela Independência dos EUA, pela Revolução Francesa e pela monarquia constitucional. Estes trouxeram para o centro do palco um ator histórico social de peso econômico colocado em segundo plano no modelo anterior. A burguesia e seu discurso legitimador.
Se na democracia grega e na república romana antigas, os heróis semidivinos era o padrão de ordem; na idade Média, a Igreja e seus pares nobres de “poder divino”; no mundo moderno os reis e seus compromissos de expansão da fé.
No mundo contemporâneo a arma de legitimação do poder de Estado – e não apenas este – passou a ser a honestidade. Assim, e não por acaso, as revoluções que fizeram avançar o regime republicano e democrático estavam balizados pela denúncia da vida suntuosa da nobreza, da sua imoralidade e das denúncias de mau uso do dinheiro arrecadado pelos impostos.
A burguesia encontra no discurso da honestidade a sua ponte para o poder de Estado aliado aos avanços do pensamento denominado de racional-científico, um constructo em substituição da religião, que viabilizava mais lucros, maior produção e concentração da renda.
Destarte, não é por acaso que, nos dias que vivemos, “tudo” circula ao redor da busca da derrubada da corrupção, do abuso do poder, da busca de uma elite econômica e partidária ilibada. São as ilusões legitimadoras de nosso tempo. E neste ponto a busca por transparência, pelos avanços na democracia representativa, de prestação de contas dos eleitos, da visibilidade dos salários públicos e outras questões são essenciais para manter o regime e não desestabilizar o sistema econômico do ponto de vista formal.
Os atores burgueses não podem dizer, como não diziam seus antepassados, que tudo é apenas, como se fosse apenas, uma questão de poder e lucros. Não se escravizaram índios ou os dizimaram ou se povoou as Américas em nome do vil metal, antes, era uma obra de salvação das almas. Hoje, não se está disputando o poder de Estado e seu poder de legalizar e legitimar modelos sociais e econômicos – como a redução da maioridade, a terceirização entre outros –, mas, a urgência da honestidade.
Deste prisma, basta lembrar uma questão. Quanto custa uma lei ou uma vista em processo que retarda seu andamento? Quanto custa eleger um vereador, prefeito, deputado ou senador, governador ou presidente da república? E, sobretudo lembrar, não existe, de fato, doação de campanha, o que há é empréstimo, depois ressarcido na forma de “cargos de confiança”, manutenção de privilégios legais, obras públicas ou leis defendidas e aprovadas.
O preço de um vereador varia de município para município. Mas, o Congresso, em média, seria um investimento de seis milhões para ser eleito; e para a assembleia legislativa, a metade. Mas, se este é o primeiro passo, depois, temos a caminhada do mandato.

Até hoje pesa a acusação, não investigada, de que FHC só pode se tornar FFHH depois da devida compra de votos para aprovação da lei da reeleição, hoje, acusada de ser um dos males do País.  O que é útil e legítimo enquanto situação; é entrave, quando na oposição.
O mensalão, por sua vez, devidamente julgado e aceito pela justiça como fato condenado, comprou votos de “modo sistemático” e com isto abalou-se a legitimidade do regime.
“Posto fim” a compra de votos pelos “senhores” dos  partidos, restou a distribuição de cargos de primeiro a terceiro escalão e de verbas. Mas, isto seria suficiente para manter o regime funcionando e a estabilidade do sistema econômico? Ao que parece, não.
As disputas entre a Presidenta e os legisladores podem demonstrar:
a)     A honestidade raiou em nosso país e a representatividade de interesses diversos é o novo mote?
b)    Se a presidência não compra mais votos nas atuais circunstâncias, quem estará pagando a conta de tantas leis aprovadas em tempo recorde?
c)     Em resumo, há alguém que paga a conta?

Com a resposta o cidadão, a polícia federal ou a história? Afinal, a Câmara aprovou número recorde de propostas desde o início do conturbado ano de 2015. É o maior volume em vinte anos. 

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