segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A crise entre preços e valores

Nos países capitalistas, e mais acentuadamente nos periféricos como o Brasil, a confusão entre valor e preço é reiterada por mecanismos de controle e exploração social que vão da publicidade e propaganda passando pela novela até a configuração das eleições e o acesso ou não aos recursos de ponta do Estado e a prestação pública de contas.
As pessoas e a ciência (dentre estas a prima donna é a economia) no contexto capitalista contribuem para isto, tendem a não entender que preço é o pagamento em dinheiro, é a relação entre a quantidade das necessidades e a de bens disponíveis; já o valor é relativo à ética, – como um bastião de resistência aos avanços inumanos do capitalismo e outras formas de controle, domínio, exploração e exclusão contemporâneos, – significa as características que decidem a maneira de proceder, de escolher o modo de agir em conformidade aos princípios. A confusão linguística é reveladora das práticas.
Diante desta possibilidade palpável, no nosso cotidiano, fica a questão: quantos dos atores sociais, políticos, culturais, religiosos, entre outros, podem agir de modo a superar esta estrutura econômica que trabalha para reduzir tudo ao preço, ao cálculo dos rendimentos onde até o Recurso Humano é utilizado como instrumento de ampliação de lucros?
No terreno do político basta ver que a tendência é haver políticos profissionais que vivem da política e não para a política. Os cargos eletivos, ou de indicação política, tornaram-se um dos principais meios de ascensão econômica e social num país onde o salário dos pobres à classe média é uma piada de exploração internacional.
Baile de máscaras partidárias onde quase todos dançam as mesmas músicas neoliberais com diferentes tampões que alteram a dimensão do som, mas, ao final, todos se locupletam nos preços em nome da decadência do valor humano, mesmo dos direitos humanos. Ponto máximo nesta equação é pensar até onde se elegem representantes da democracia ou se escolhe os que liderarão a corrupção?
Mais que isto, muitos dos atores, de modo geral, são imaturos do ponto de vista dos valores segundo a análise de Lawrence Kohlberg e, assim, não conseguem ultrapassar as dimensões dos interesses que os rodeiam, da transformação de princípios universalizantes em religião, enquanto visão de valores. Um reducionismo que torna quase inviável a vida democrática em todo seu colorido, diversidade e pluralidade - típicas da realidade do século XXI. Assim, transformamos o Cristo em religião cristã, o Buda em budismo, e por este caminho trilhamos o mais do mesmo, sem grandes avanços fora das estruturas que nos controlam e contorcem em favor do sofrimento que purifica a alma e escarnece a carne.
Muito da atual crise política no Brasil, uma entre as muitas do capitalismo que tem como meta ampliar lucros e reduzir custos, ou ampliar o preço do produto e baixar o preço do salário – o ajuste ocorre em termos de perdas salariais, – é a transformação dos valores pessoais-religiosos em querer universalista. Assim, não aparecem as reais causas do conflito entre os dirigentes dos cargos eletivos mais importantes da nação.

De um lado, os que defendem os valores humanos universais e universalistas em favor de uma pluralidade e diversidade prática; de outro, os que desejam moldar o valor universal a partir de sua própria concepção de mundo, não raro religiosa, numa abstração onde a maior parte da humanidade não se enquadraria a não ser por meios autoritários. De tudo fica um fato, se o Sr. da vertente religiosa dominante no ocidente voltasse hoje, Cristo, ele se negaria a conviver com muitos dos que pregam em seu nome mas pervertendo a noção de perdão, de caridade, de solidariedade e emancipação que tem como meta “fazer o bem sem olhar a quem”.
Em termos explícitos, a questão de gênero – pedra de toque nos fundamentos das hierarquias explorativas e de excludência – não vêm à tona nos discursos, mas move as práticas onde a ponto do iceberg foi a disputa ao redor da questão nos planos municipais de educação e a cereja do bolo hoje seria a exoneração do ministro da Educação - Renato J. Ribeiro. A bancada da bala e da bíblia unida preferem ver a derrocada dos corpos via “choro e ranger de dentes” – desemprego e fome, resseção e crise política gerada na base da seletividade das denúncias e apurações – do que aprovar medidas que legitimem o atual governo rumo a liberdade dos corpos e das mentes.

E você acreditando que vivemos em uma democracia de Estado laico?

Nenhum comentário:

Postar um comentário