Não apenas
Dilma foi reeleita em uma das disputas mais acirradas da história eleitoral do
Brasil democrático, como isto era um prenúncio dos tons de cinza que poderiam
predominar em sua gestão. Embora no discurso da vitória, no dia 26 de outubro
de 2014, ela afirmasse não acreditar “que essas eleições tenham dividido o país
ao meio.”; foi o que de fato ocorreu e ocorre.
Aécio obteve
48,36% dos votos válidos e Dilma, 51,64%. Uma diferença de quase 3,5 milhões de
votos. Como se esta baixa diferença não fosse o suficiente para fragilizar a
sufragada, ocorreu aproximadamente 20% de abstenções, 6% de votos nulos e 4% de
votos brancos. Ou seja, aproximadamente 30% do eleitorado não aprovavam Aécio
ou Dilma.
“São” estes
30% que emitem opiniões nada fáceis de analisar, decifrar ou equalizar no mapa
político e no espectro do poder, até hoje, em meio a manifestações com
mensagens entre o confuso e o contraditório, indo do impeachment ao pedido de
volto dos militares. Do com partido ao sem partido, do “fora corrupção” à volta
da monarquia.
Pelo país afora
a oposição, liderada pelo PSDB e aliados, que obteve aproximadamente 51 milhões
de votos, contra os 54,5 milhões de votos que sufragaram a presidenta, tenta
cooptar o movimento, ainda amorfo, dos descontentes - somados aos seus
eleitores, de onde a acusação de se pleitear ganhar a eleição na base de um “golpe”;
afinal, apesar da aprovação da presidenta estar em menos de 10% nem todos
concordam com a expulsão da mesma do Palácio do Planalto.
De todas as
tentativas da oposição fazer parar o atual governo, e conduzi-lo à renúncia ou impeachment,
o lema do combate a corrupção tem sido o mais alardeado e o que mais tem
surtido efeito, todavia, na prática, a que mais tem aturdido o governo e
atingido a população são as “pautas bombas”. Todavia, as bases das denúncias,
no que tange a presidenta, ainda carecem de provas. Mas, mesmo assim, a
operação “Lava-Jato”, quase uma continuação do “Mensalão”, gera um desgaste
progressivo mesmo naqueles 51,5 milhões que reelegeram Dillmma onde o plano é a
tempestade perfeita: o povo na rua numa representação maior que os eleitores do
PSDB e dos descontentes com os partidos que votaram nulo ou em branco – que ainda
não ocorreu apesar dos clamores para que o povo vá para as ruas indignados.
Assim, os 51,5
milhões de eleitores passam a se polarizar entre manter a legitimidade do
governo sufragado ou não. Mais que isto, apesar de concordar com a permanência
de Dilma no poder, esta se relativiza por não considerar a forma de governar
legítima diante das promessas eleitorais recentes da presidenta e históricas do
Partido dos Trabalhadores. Assim, quanto mais o PT se alinha no centro-direita,
onde Kátia Abreu e Joaquim Levy são apenas os sintomas mais visíveis da quinada
à direita, mais perde apoio de suas bases históricas e parlamentares e causa
escândalo ao propor uma reforma ministerial onde os principais atingidos são os
temas históricos dos trabalhadores pela demanda da igualdade, da pluralidade e
da diversidade, entre outros.
Situação
difícil a de Dilma que diante da Lava-Jato e do Mensalão viu esboroar, em tese,
um dos mecanismos mais tradicionais de governabilidade do País, a “compra de
votos” e o financiamento empresarial via “doações ao partido”. E, como se isto
não fosse o bastante, desalinhou o movimento crescente do capitalismo que se
viu sem as estruturas do Estado para permanecer ascendente via obras públicas.
Posto isto, surge mais uma hipótese, acaso é possível lucro sem corrupção e
fraude? Ou, para complicar ainda mais o quadro da governabilidade, acaba por
clamar a certa “política dos governadores” para sobreviver e fazer votos em
seus projetos que só fazem reeditar o já dito e não cumprido.
Neste campo
minado da ética, não poucos históricos defensores dos princípios da
administração pública – legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
eficiência – tergiversaram diante da realidade bruta dos fatos e passaram a
acusar a operação “Lava-jato” de responsável pela crise econômica, para além da
política. Honestidade não rimaria com crescimento econômico quando se está no
poder, apenas quando se está na oposição?
Nesta guerra
de Ciclopes, enquanto a Lava-jato não se encerrar haverá muitos políticos
sedentos por justiça que poderão acabar “enjaulados”, ainda que muito
temporariamente, apesar da seletividade na informação às massas via indústria
cultural que só publica as notícias contra os oponentes. Desonestidade do
próprio grupo não é crime, mero deslize a ser perdoado em confissão privada.
Fica um fato,
o criador diante de sua criatura poste que pretendeu ter luz própria, não
passou de uma metáfora efêmera do personalismo solar onde a lua acabou
eclipsada e se quiser sobreviver terá de render homenagem ao grande patriarca
nordestino estabelecido nas terras paulistas?
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