Wlaumir Souza.
No período áureo do café, os imigrantes europeus perceberam que havia uma época propícia para demandas não atendidas no formato de greves: o período da colheita. Algo aparentemente evidente foi construído ao longo de anos de experiência e sob influência anarquista. Diante do fruto maduro o cafeicultor tinha de tergiversar de algum modo e com ele o Estado oligárquico que se propagandeava como república democrática.
No período áureo do café, os imigrantes europeus perceberam que havia uma época propícia para demandas não atendidas no formato de greves: o período da colheita. Algo aparentemente evidente foi construído ao longo de anos de experiência e sob influência anarquista. Diante do fruto maduro o cafeicultor tinha de tergiversar de algum modo e com ele o Estado oligárquico que se propagandeava como república democrática.
Semelhantemente, os garis e tantos
outros se conscientizaram que estão diante da maior colheita do país das
últimas décadas: a Copa do Mundo e as Olimpíadas ensaiadas pelos grandes
eventos que as precede, entre elas o carnaval. A greve em meio à festa é o que
de pior pode acontecer a um governo ou empresa privada diante dos olhos do
mundo postos sobre o País sede dos mega eventos. Assim como outrora era a greve
em meio à colheita. Os ácratas de outrora se personificam agora nos Black blocs.
Se as
manifestações de 2013 prenunciaram as demandas por uma democracia de fato e um
novo modo de inserção, do Brasil, no capitalismo internacional., a
subserviência político-econômica que se traduz no empobrecimento da população –
via inflação, preço do dólar, alta de juros e proteção da indústria nacional –
com direito de corrupção no varejo chegou ao limite. Contrariamente do que
esperavam as elites deletérias, a educação formal de baixa qualidade não
impediu o avanço da consciência social e política que poderá se transformar, em
médio prazo, em consciência de classe. Neste ponto, de uma consciência que se
desperta, o escracho político foi reintroduzido como pauta da manifestação, em
seus mais variados tons.
Mais do que depor
governantes, visto que o modelo de representação via executivo de coalizão torna
isto quase impossível, onde a exceção – Collor com livre trânsito político no
Brasil atual – comprova a regra; a tentativa é via ironia, charge, caricatura,
piada e outras formas – até violentas de desobediência civil – de denúncia, evidenciar a falta de credibilidade do político ou das políticas adotadas. No jargão
geral, o assassinato de reputação via contradição da imagem vendida fartamente
– inclusive com verba pública – com a execução do mundo real vistos a olhos nus.
Neste ponto, toda e qualquer
cidade que se vê como sede dos eventos ou das confederações da copa, entre elas Ribeirão Preto, pode
esperar muitas manifestações e greves comparando a situação do Brasil e de Ribeirão
Preto, em particular, com a dos países mais ricos. A situação de apoio que o
esporte, a educação e a assistência básica recebem naqueles países em
contradição com a realidade local será fartamente denunciada e discutida. Buracos pintados serão apenas uma das visões
cotidianas, caso a promessa de maquiar as cidades – tapar buracos, pacificação,
mobilidade entre outros – não se cumpra.
O futebol via escracho, mais
do que ser impedido ou boicotado, será o
palanque de denúncia com holofotes do mundo alardeando a contradição entre a
festa da classe média alta nos estádios e o povo na rua clamando pelo básico.
Será o escracho do futebol como meio de dominação e controle que se ampliará se
o Estado e o mercado não estiverem preparados para responderem rapidamente de
modo radicalmente democrático.
Mais que isto, as demandas via anarquismo atual
no modelo Black bloc afirma as instituições representativas democráticas como
esgarçadas pelo filhotismo, apadrinhamento, cooptação, familismo, clientelismo e outros
mecanismos da velha política que não se foram.
A vitória dos garis, no Rio
de Janeiro, em meio a greve, face ao carnaval, onde o sindicato foi posto para
escanteio nas reivindicações e organização do movimento grevista diante de sua
imperícia no representar os seus associados é apenas o sintoma de um movimento
muito maior de questionamento da legitimidade das instituições democráticas e da representatividade.
Os sindicatos pelegos –
entre eles o melhor exemplo seria o dos professores de São Paulo que mesmo
diante dos docentes desejarem manter a greve a diretoria a encerrou? –
sentem-se acoçados por novas lideranças sociais e trabalhistas. Estas evidenciam que
com os velhos modos de governar, fazer política e sindicalizar não mais é
possível dialogar, mas, antes, tornou-se necessário falir com o conforto destes
em nome de uma nova ordem legítima de poder.
Teremos uma copa com parte da classe média vaiando os governantes no estádios enquanto a outra parte tentará gerar um apagão com todos os eletrodomésticos ligados
durante os jogos, a população trabalhadora fazendo greve, e os Black blocs
fazendo o espetáculo da destruição da e na praça pública que não se alça
realmente a democracia almejada pelas massas.
No
contexto destes insatisfeitos com o modelo de inserção no capitalismo
internacional, enquanto país subalterno que fornece mão de obra barata e
consome produtos internacionais mais caros para subsidiar duplamente o consumo
dos países centrais do capitalismo e manter viva a indústria nacional, a copa é
o evento que possibilita a resposta pública das querelas internas com base na
divisão internacional do trabalho. Protestar na copa é uma exigência para que
os financiadores e patrocinadores do sistema-mundo vejam que o modelo encontra
opositores dispostos não a romper com a ordem de um Brasil que fica entre a sexta e a sétima posição na produção de riquezas, mas, se necessário for, aturdi-la
com a realidade de ser um dos últimos em distribuição dos dividendos sociais, políticos e econômicos à nação.
estamos ai Prof., quero meu livro rsrsrs
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