Chegamos a um
ponto na sociedade contemporânea onde o mais relevante não é ganhar, mas,
antes, inviabilizar o vencedor. Dilma Rousseff e Josef Blatter são exemplos
ímpares. Ambos enfrentaram oposição de grupos significativos e, apesar dos
pesares – corrupção e propina – saíram sufragados das eleições.
Dilma Rousseff
utilizou de todos os meios ao seu alcance, assim como seu opositor, para
vencer. Do discurso da esperança vencer o medo – quando LLulla era candidato –
passou-se para a arenga do medo sucumbirá a esperança que raio.
A velha
cantilena do medo na política é antiga e tradicional. Pintar o “outro” com
tintas fortes faz parte do processo, segundo os marqueteiros e seus aliados. Quem
está na oposição trabalha a esperança de novos tempos e o que está no poder
adverte do medo, perigo e receio da mudança. Não é fato novo. É mais do mesmo
ao longo dos séculos, quer democráticos ou não. Faz parte do romantismo
político e seus ideais fraudados no plano real. O discurso do medo advertia
para o risco de um choque de gestão. Vencedor o discurso do medo passou a
implementar as práticas do ajuste fiscal.
A situação e a
oposição sempre se digladiando em suas práticas discursivas – o que para um é choque,
para o outro partido é ajuste; o que para um é reforço de caixa, para o outro
partido é dinheiro não contabilizado, privatização X concessão... Seja como
for, ao final das contas quem pagará à custa dos erros administrativos
transformados em dívidas é o cidadão assalariado e quem ganhará sobre os
acertos será a elite tradicional financista.
Vencido nas
urnas, Aécio Neves demorou-se para reconhecer a derrota a ponto da vencedora
quase se antecipar ao traço diplomático das eleições. O vencedor alardeia-se
após as congratulações do vencido. O postergar do reconhecimento da derrota
eleitoral rra o sinal claro de que o desbarato não aceitara o fato. De lá para
cá, tudo o que vimos foi uma oposição organizada para garantir que a vencedora
não seja entregue as batatas.
No caso de
Josef Blatter o enredo não é diferente. Acossado de todos os lados está em meio
à trama de propinas. Ao contrário de Dilma, seu o opositor não só reconheceu de
público a derrota, como o fez de modo estamental, renunciando. Ao menos do
ponto de vista oficial, pois, a ação remete a outros significados, como a
impossibilidade de um embate ético. Mas, a teia em que se encontrava e se
encontra matem o interesse em inviabilizá-lo e o conseguiu, a ponto de Blatter anunciar
a renúncia. Mas, para o ano que vem. Até lá tudo pode mudar se seus opositores
amainarem diante do desgaste da marca FIFA.
O mesmo faz a
presidenta ao colocar em primeiro plano para as negociações o vice-presidente –
transmutado em primeiro ministro – e o ministro da economia, transformado em
embaixador. Sair do foco é a questão de Blatter e Dilma, para que tudo se
mantenha como está.
O elemento
mais relevante é notar o quanto os denunciados e acossados estão envoltos no
enredo da corrupção como elemento que fortalece lucros e dividendos num enredo
triste de assassinato público do romantismo republicano e democrático de
direito. Nos dois casos, por absurdo que pareça, as investigações conduziram a
prejuízos maiores do que o lucro do ressarcimento. Isto coloca uma questão
diante do capitalismo anti-romântico: seria a corrupção sistêmica ou simbiótica
no capitalismo, na república, na democracia?
Como escreveu
Honoré de Balzac “Por detrás de uma grande fortuna há um crime”. No mesmo
sentido, ouvi recentemente de um advogado que a melhor expressão para o que
ocorre é a frase “está tudo dominado” e, se o Estado quiser fazer algo, deveria
legislar para legalizar a joia.
Tristes tempos
onde a busca da honestidade, da verdade e da justiça possam causar mais dano
social que o benefício de seu ressarcimento numa denúncia banalizadora do sonho
romântico da honestidade e da transparência. Tristes tempos estes onde o
honesto é inviabilizado e o vencedor não levam as batatas. Afinal, pior que
perder... é ganhar e não levar o prêmio. Pior que perder, é fraudar para
ganhar.
OU para ficar
em um exemplo de movimento social – mesmo que elitizado – como deverá se sentir
quem foi às ruas contra corrupção na política do Brasil com a camisa verde e
amarela do time brasileiro diante das denúncias contra a FIFA e a copa de 2014?
Machado de
Assis (1839- 1908), responde – quer para quem votou em Dilma ou se manifestou
pela honestidade – apesar das pequenas corrupções cotidianas – “De tanto ver
crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o
homem chega a rir-se da honra, desanimar-se da justiça e ter vergonha de ser
honesto.”
Será o canto
do cisne para os ideais políticos românticos de utopias mil? Será a inauguração do planeta a algemas?
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