domingo, 7 de junho de 2015

Pior que perder... é ganhar e não levar ou da extinção do pensamento político romântico

Chegamos a um ponto na sociedade contemporânea onde o mais relevante não é ganhar, mas, antes, inviabilizar o vencedor. Dilma Rousseff e Josef Blatter são exemplos ímpares. Ambos enfrentaram oposição de grupos significativos e, apesar dos pesares – corrupção e propina – saíram sufragados das eleições.
Dilma Rousseff utilizou de todos os meios ao seu alcance, assim como seu opositor, para vencer. Do discurso da esperança vencer o medo – quando LLulla era candidato – passou-se para a arenga do medo sucumbirá a esperança que raio.
A velha cantilena do medo na política é antiga e tradicional. Pintar o “outro” com tintas fortes faz parte do processo, segundo os marqueteiros e seus aliados. Quem está na oposição trabalha a esperança de novos tempos e o que está no poder adverte do medo, perigo e receio da mudança. Não é fato novo. É mais do mesmo ao longo dos séculos, quer democráticos ou não. Faz parte do romantismo político e seus ideais fraudados no plano real. O discurso do medo advertia para o risco de um choque de gestão. Vencedor o discurso do medo passou a implementar as práticas do ajuste fiscal.
A situação e a oposição sempre se digladiando em suas práticas discursivas – o que para um é choque, para o outro partido é ajuste; o que para um é reforço de caixa, para o outro partido é dinheiro não contabilizado, privatização X concessão... Seja como for, ao final das contas quem pagará à custa dos erros administrativos transformados em dívidas é o cidadão assalariado e quem ganhará sobre os acertos será a elite tradicional financista.

Vencido nas urnas, Aécio Neves demorou-se para reconhecer a derrota a ponto da vencedora quase se antecipar ao traço diplomático das eleições. O vencedor alardeia-se após as congratulações do vencido. O postergar do reconhecimento da derrota eleitoral rra o sinal claro de que o desbarato não aceitara o fato. De lá para cá, tudo o que vimos foi uma oposição organizada para garantir que a vencedora não seja entregue as batatas.
No caso de Josef Blatter o enredo não é diferente. Acossado de todos os lados está em meio à trama de propinas. Ao contrário de Dilma, seu o opositor não só reconheceu de público a derrota, como o fez de modo estamental, renunciando. Ao menos do ponto de vista oficial, pois, a ação remete a outros significados, como a impossibilidade de um embate ético. Mas, a teia em que se encontrava e se encontra matem o interesse em inviabilizá-lo e o conseguiu, a ponto de Blatter anunciar a renúncia. Mas, para o ano que vem. Até lá tudo pode mudar se seus opositores amainarem diante do desgaste da marca FIFA.
O mesmo faz a presidenta ao colocar em primeiro plano para as negociações o vice-presidente – transmutado em primeiro ministro – e o ministro da economia, transformado em embaixador. Sair do foco é a questão de Blatter e Dilma, para que tudo se mantenha como está.
O elemento mais relevante é notar o quanto os denunciados e acossados estão envoltos no enredo da corrupção como elemento que fortalece lucros e dividendos num enredo triste de assassinato público do romantismo republicano e democrático de direito. Nos dois casos, por absurdo que pareça, as investigações conduziram a prejuízos maiores do que o lucro do ressarcimento. Isto coloca uma questão diante do capitalismo anti-romântico: seria a corrupção sistêmica ou simbiótica no capitalismo, na república, na democracia?
Como escreveu Honoré de Balzac “Por detrás de uma grande fortuna há um crime”. No mesmo sentido, ouvi recentemente de um advogado que a melhor expressão para o que ocorre é a frase “está tudo dominado” e, se o Estado quiser fazer algo, deveria legislar para legalizar a joia.
Tristes tempos onde a busca da honestidade, da verdade e da justiça possam causar mais dano social que o benefício de seu ressarcimento numa denúncia banalizadora do sonho romântico da honestidade e da transparência. Tristes tempos estes onde o honesto é inviabilizado e o vencedor não levam as batatas. Afinal, pior que perder... é ganhar e não levar o prêmio. Pior que perder, é fraudar para ganhar.
OU para ficar em um exemplo de movimento social – mesmo que elitizado – como deverá se sentir quem foi às ruas contra corrupção na política do Brasil com a camisa verde e amarela do time brasileiro diante das denúncias contra a FIFA e a copa de 2014?
Machado de Assis (1839- 1908), responde – quer para quem votou em Dilma ou se manifestou pela honestidade – apesar das pequenas corrupções cotidianas – “De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se da justiça e ter vergonha de ser honesto.”

Será o canto do cisne para os ideais políticos românticos de utopias mil? Será a inauguração do planeta a algemas?

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