sábado, 19 de outubro de 2013

Cultura em trans-form(a)cão...

Cultura em trans-form(a)cão...

Postado em 23 de Novembro de 2011 às 16:11 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza

A cultura heteronormativa se construiu ao longo de séculos com o apoio de diversas instituições – Igreja(s), Estado, Medicina... Nesse processo de construção de um modelo discursivo que se pretendia(de) verdadeiro, único e normal, a dicotomia ou bipolaridade dos adjetivos dos sexos e suas práticas foi um ponto primordial.
foto de Hans Braxmeierfoto de Hans Braxmeier
Assim, mulheres seriam dóceis, submissas, não violentas e “naturalmente” destituídas do prazer sexual. Os homens seriam fortes, dominadores, violentos e teriam no sexo uma “necessidade natural” a ser satisfeita. E tudo, bem azeitado pela ótica do sobrenatural. 
Para garantir esta ordem, que privilegiava o macho-masculino que dominava(?)/controlava(?)/explorava(?) a fêmea-feminina, os esforços não foram poucos. E, para que todos soubessem que a vigilância era constante nem mesmo heróis e heroínas foram poupados no decurso da história construtora da heteronormatividade. Que o diga Joana D´Arc – condenada por travestismo. 
Todavia, a resistência a esse modelo assumiu diferentes manifestações ao longo dos séculos. No tempo presente, aquilo que era o ponto chave para se exercer a dominação se transmutou em elemento de oposição quase vitoriosa - a reconstrução social dos discursos, das práticas e seus significados faz parte deste processo onde o Bullying é um elemento a ser considerado.
Assim, as mulheres passaram a utilizar o que as dominava - a não violência – como questão central de resistência. Tem dado tão certo que padrões de violência antes celebrados publicamente têm tendido a patologização. Os gays – no arco-íris de diversidades, e não apenas eles – assumiram como obra prima da resistência o humor, a alegria. Os resultados são visíveis em face de uma sociedade sisuda onde temos a efervescência da extroversão. É claro que essas transformações não se deram apenas pelos avanços do feminino sobre o masculino e seu modelo de sociedade; mas, é um elemento de mudança inegável.
O exemplo do bullying é um caso que demonstra como a resistência do feminino tem avançado. Poderíamos analisar as brincadeiras masculinas que hierarquiza(va)m os machos desde a infância e, por vezes, para alguns, mesmo na idade madura e/ou avançada. Essas brincadeiras historicamente estiveram associadas a relações de força, dominação, certo grau de sofrimento e violência. Não por acaso, ouve-se um coro masculino a dizer “na minha época passávamos por isso ou aquilo e não era bullying” ou “havia essas questões e nem por isso somos  `patológicos’”.
A passagem de um modelo cultural predominantemente masculino, para um em que o componente feminino ganha espaço fez com que essas “brincadeiras” que mediam força e violência fossem reinterpretadas. O que outrora era “natural” passou a ser visto como uma construção social equivocada.
Em outros termos, assistimos a ascensão do feminino e seu discurso que, como fizera o masculino no passado, apresenta novos modelos que agora são institucionalizados com o apoio de outras tantas instituições e seus saberes, entre eles a medicina, a psicologia e tantas outras.

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