sábado, 19 de outubro de 2013

Tatcher: a Dama sem túmulo

Tatcher: a Dama sem túmulo

Postado em 25 de Abril de 2013 às 10:04 na categoria Caleidoscópio
Wlaumir Souza

MARGARET TATCHER (1925-2013), sim, com todas as letras maiúsculas, foi uma das personalidades mais importantes do século XX. Sua importância é de tal relevo que seu sobrenome virou sinônimo de uma determinada posição econômica-político-social de Estado, o tatcherismo.

O tatcherismo ultrapassou as fronteiras da Inglaterra e fez escola no pensamento de direita como uma das modalidades do liberalismo econômico, político e social de Estado. Margaret T. defendeu e impôs a privatização das empresas estatais, desregulamentou o setor financeiro e flexibilizou o mercado de trabalho. Local comum dizer que estas políticas privilegiavam os lucros e condenavam ao ostracismo os sindicatos e setores populares, se constituindo como a base da crise atual do sistema econômico.

Aos embates entre os países capitalistas e os restos dos comunistas e a famosa “cortina de ferro”, entre os direitos sociais e mesmo civis, os ingleses contrapuseram a “Dama de Ferro”. Mais que seu estilo de governo, que negava a existência da sociedade – isto em meio a um governo eleito democraticamente – exibia a face capitalista com uma senhora blindada pelos detentores do poder político e econômico no Reino Unido, com vista a fazer as reformas necessárias para os avanços do capital.



A desregulamentação do setor financeiro possibilitou ao Reino Unido expandir seus paraísos fiscais pelo mundo tornando/mantendo real, em pleno século XXI, a expressão “Império sobre o qual o sol não se põe” atualizada para o capitalismo financeiro. Assim, pode-se compreender a recusa de M. Tatcher em fazer parte da União Europeia que poderia fazer limites a tal expansão do capital.

Os resultados dos embates de parte da sociedade civil organizada de trabalhadores contra o governo de Tatcher foi de empobrecimento das massas britânicas, mas garantiu que não ocorresse o declínio nacional, nos dizeres de Tatcher, ou seja, se construía as estruturas necessárias ao capitalismo financeiro transnacional com base nos paraísos fiscais. Tal postura garantiu a Inglaterra o posto de soberana face à crise da União Europeia que adotou medidas semelhantes ao tatcherismo, com o nome de neoliberalismo. Na União Europeia, o neoliberalismo de inspiração tatcherista demonstra a ineficiência em favor da cidadania e exibe sua face mais crua, a concentração do capital e da renda com exclusão em massa.


Mas, Margaret Tatcher não seria quem foi sem a face complementar. Diana, a princesa de Gales. Para amenizar as asperezas da Dama de Ferro que governou de 1979 a 1990, contrapunha-se Diana (1961-1997) casada, de 1981 a 1992, com o príncipe herdeiro. As similaridades das datas não são mero acaso.
Diana representava o ideal de beleza — a europeia; o estereótipo de feminilidade enquanto elegância, mãe e esposa; ícone de bom gosto e de moda; e, como cereja do bolo, aristocrata caridosa em plano internacional. Assim, enquanto Tatcher mantinha e deixava os milionários, os bilionários e os aristocratas ingleses mais ricos e poderosos no mundo; não por acaso, Diana esbanjava em roupas e joias; a Princesa de Gales se apresentava como a protetora dos pobres, solícita face aos desmandos de um Estado Democrático, que não reconhecia a sociedade civil como digna de ser ouvida.

A eleição de M. Tatcher tornou necessária uma Diana que, diplomaticamente, amenizava as dores da pobreza, sem nada fazer de estrutural. Diana era o espetáculo da riqueza dos aristocratas e dos bilionários, face aos dramas das reformas de Margaret. A queda da “Dama de Ferro” tornou desnecessária a existência de Diana. Iniciou-se a desconstrução da criatura que superava o criador. Arredia ao silêncio, a separação era o caminho e a entrevista bombástica contra o Príncipe herdeiro não poderia ter outro desfecho.

Todavia, enquanto a Diana simbólica do estereótipo feminino manteve-se viva mesmo após a morte, com funeral real e direito a túmulo; Tatcher, mesmo com todos os símbolos e funeral suntuoso, não terá direito a túmulo; fato nada desprezível para a história. Sem túmulo, sem memória material geográfica, demonstra-se que o Reino Unido temia pelos restos da memória da Dama de Ferro, em face da oposição que sofreu e sofre dos excluídos do Estado, nada mais, nada menos que a sociedade. Aquela sociedade que não existia segundo Margaret T.

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