sábado, 19 de outubro de 2013

Inocentes úteis...

Inocentes úteis...

Postado em 09 de Março de 2012 às 17:03 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza
Considero que um dos maiores dramas dos seres considerados ou que se entendem como dominados, explorados ou excluídos é conseguir saber até que ponto se é o que se quer ser ou se é o que os outros querem que se seja. Esta uma questão nada fácil de equacionar. Sartre considerava que o relevante era saber o que se fez de si mesmo a partir do que foi feito com cada um. 
dia da mulherdia da mulher

Em outros termos, todos somos reféns de nossa história trançada nas relações sociais e culturais, todavia, podemos transformar parte do que nos fizeram ser em algo que desejamos ser. Tarefa árdua a que muitos se negam ao primeiro sinal de um pensamento crítico, face aos desafios e possíveis coerções sociais ou subjetivas.
Neste intricado vir a ser, sendo o que nos fez e nos edificando no que nos tornaremos, penso o dia da mulher, o “8 de março”. A data erigida como marco das mulheres que defendiam e ainda defendem a emancipação feminina – considerada incompleta pelas feministas e ratificada pelas pesquisas especializadas – encontra-se entre o limite da demanda por direitos e a confraternização típica dos estabelecidos no e pelo sistema de dominação da mulher.
Fiquei impressionado com a quantidade de postagens na internet sobre o dia das mulheres. Entretanto, o que mais me impressionou foi a limitada interpretação do dia enquanto pensamento feminista. Assim, li várias mensagens que eram tudo, menos engrandecedoras dos direitos da mulher, uma vez que enfatizavam exatamente a dominação por meio de estereótipos em que a sensibilidade, o afeto, a ternura, e outros elementos eram valorados como o principal foco do dia das mulheres. Elementos denunciados como parte de instrumentos de controle das mulheres pelas feministas.




Desenho de Debora Vaz Desenho de Debora Vaz
Assisti a tudo isso como quem vê o dia do trabalho tornar-se o dia da esmola trabalhista. No dia do trabalho, em que o trabalhador deveria apresentar a agenda de demandas, vemos a distribuição e passeio de bicicletas, sorteios de prêmios aos funcionários, shows patrocinados pelo Estado e outras coisas medonhas que fazem tudo para desarticular o trabalhador e evitar qualquer ação que faça frente ao sistema capitalista.
O dia da mulher tornou-se, em boa medida, com raras e meritórias exceções, o dia da desarticulação das mulheres. Dão-se flores, bombons, parabéns como se fosse um dia de confraternização, como o dia das mães, o natal, ou coisa parecida. Até poderia tornar-se um dia de confraternização apenas, mas tão somente quando as demandas das mulheres estivessem satisfeitas. 
Para a minha compreensão, foi um dia monótono na trilha do machismo que faz suas vítimas. Desarticularam-se as mulheres sem que estas o notassem em favor de um “parabéns” que nada muda ou transforma. Assim, quem fará de si o que se deseja se o desejo está colado ao dominador e explorador?
Quanto aos casos meritórios de organização feminina e feminista nada se noticiou para além de notas rápidas, afinal, se as mulheres percebessem o que ocorreu no seu dia não seríamos mais a sociedade que somos.

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