sábado, 19 de outubro de 2013

Papa Francisco: A última monarquia absolutista do Ocidente ou a democracia pelas portas do fundo

A última monarquia absolutista do Ocidente ou a democracia pelas portas do fundo

Postado em 04 de Abril de 2013 às 14:04 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza


Propaganda Fide – Congregação para a Evangelização dos Povos fundada pela Bula Inscrutabili Divinae, de 1622, – é a marca do Papa Francisco I. O termo propaganda cunhado pela Igreja católica tinha e tem o sentido de propagar a fé católica pelo mundo e como verso da medalha combater o avanço ou permanência de outros grupos religiosos ou tendências internas (ou externas) da Igreja que não a sancionada oficialmente pela hierarquia.

Os cardeais que elegeram Francisco calcularam meticulosamente a quem eleger para agradar gregos e troianos e propalar o desmonte do Cavalo de Tróia hospedado na Cúria Romana que levou a existência de um papa emérito.

Eleger um ítalo-argentino foi obra que merece parabéns! Atende a boa parte da demanda racista que ainda sobrevive na Europa e até certo ponto é cultuada numa Argentina que se pensa(va) quase européia. As Américas que ainda olham e divulgam o continente europeu como modelo, em detrimento de outras etnias, saudou o argentino. Os europeus vêem em Francisco um papa italiano, os das Américas um Argentino. De outro ponto de vista, acena para a maior platéia católica do planeta – a das Américas – com a possibilidade de entrar na Igreja pelas portas da frente ao mesmo tempo em que ainda não renuncia ao eurocentrismo católico com todo seu panteão de santos católicos de matriz européia. Para amenizar este quadro, possivelmente passaremos a ver mais santos da América – não apenas de europeus que por aqui viveram, mas, sobretudo, que nasceram nestas terras.

Mas, a Propaganda da fé não para neste ponto de duplicidade de nacionalidades que se sobrepõem, antes, apenas se inicia. Em tudo o novo Papa precisará ser estratégico e diverso do predecessor no mundo público. São Bento era um santo intelectualizado, hierarquizado, austero – o patrono da Europa. São Francisco um adolescente em todo seu furor querendo a pobreza como símbolo da Igreja – que se diga de passagem, em boa medida até intelectual – formando quase uma comuna, acena para a situação de pobreza para além do continente europeu e mesmo para a que ali se entranha em meio a crise de capitais nos Bancos Europeus e os escândalos no/do Banco do Vaticano. 

Puderam ser vistos, nos últimos dias, alguns dos traços de Francisco, que será constrangido a negociar com os traços de Bento. Anunciou em sua primeira fala a necessidade de estar junto aos pobres e mesmo vender parte do símbolo da ritualística para doar aos desprovidos – João Paulo I fez o mesmo e morreu pouco tempo depois – mas nada se vendeu, até agora. A maior atitude que a Igreja poderia ter em nome da pobreza franciscana seria abrir as portas de suas escolas de elite e pontifícias universidades aos necessitados que só entram, em sua maioria, para limpar, cozinhar ou fazer a segurança. Mas, aí, sair-se-ia da caridade e haveria transformação social, e não é isto que se busca. Por outro lado, ao negar-se a morar nos aposentos pontifícios e estar junto aos demais membros da hierarquia da Cúria Romana, Francisco anuncia a que veio. A aceitação de uma Igreja episcopal no lugar da infalibilidade papal. Nada com que se preocuparem retrógrados e conservadores de plantão, é algo como a venda dos bens para a distribuição aos pobres. Propaganda da fé.

Assistir-se-á uma infinidade de propagandas com um Papa bonachão, sorridente, que abraçará e beijará “os pobres” – tipo a Princesa de Gales e Lula – na ânsia de superar a falta de carisma do predecessor que sem apoio interno ou externo renunciou. Sobretudo, em meio a Jornada Mundial dos Jovens deverá demonstrar às nações “católicas!” que retiraram o apoio ao papa emérito com a urgência de voltar à antiga aliança e patrocínio. Ou seja, caso o Papa Francisco não consiga demonstrar sua utilidade na condução das consciências juvenis, em meio a uma multidão digna da negação da redução dos fiéis católicos, restará a ele o que sempre coube aos jesuítas, servir ao papa europeu, no caso o legítimo nascido na Alemanha, em meio as trocas de informações feitas sigilosamente pelo “belo entre os belos do Vaticano”, que durante o dia serve ao Papa e à noite ao Emérito. Boa estratégia de comunicação.

E, por último, mas em nada menos importante, revela o velho pêndulo do poder da Igreja. Quando as elites lhe são resistentes ela se volta para o povo, o uni, o doutrina, o converte para pressionar os do andar de cima. Tão logo os objetivos são alcançados, toda a nova geração de clérigos é educada para viver nas sacristias e não em meio ao povo. Resta saber se Francisco conseguirá fazer ir às ruas duas gerações de padres – a do Papa João Paulo II e a de Bento XVI – com a urgência que o momento pede em favor dos interesses católicos eclesiásticos.

A sorte está lançada, a propaganda está na rua, ou melhor, na TV, rádios, internet, todos os dias. Mas, algum documento da hierarquia dizendo algo de realmente novo, por hora, nada. Viva Francisco, o afável do momento, que se não mostrar documentalmente a que veio, poderá ser o terceiro palhaço da Itália. Nos dizeres dos alemães os italianos contam com dois – Silvio Berlusconi e Beppe Grillo. Se Francisco não publicar algo de inovador ou pôr luz sobre os escândalos e o relatório secreto deixado por Bento, fará sentido uma das últimas frases do papa emérito ao anunciar que usaria sapatos argentinos.

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