sábado, 19 de outubro de 2013

Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010)

Heleieth Iara Bongiovani Saffioti (1934-2010): notas autobiográficas I

Postado em 19 de Dezembro de 2011 às 11:12 na categoria Caleidoscópio
Por Wlaumir Doniseti de Souza
Pra mim, Heleieth era, e ainda hoje é, como um mito na Sociologia produzida no Brasil. Um mito que tive o privilégio de conhecer no terreno público e, parcialmente, no privado.
Meu primeiro contato com o nome dela foi durante o doutorado na UNESP de Araraquara. Ouvi a referência sobre Saffioti de outra grande professora – Lucila Scavone. Ambas estavam unidas pela pesquisa e a militância referentes às questões de gênero. De certo modo, pode-se dizer que Heleieth seria a primeira geração e Scavone a segunda geração que pesquisava as relações de gênero no Brasil.
De certo modo, Heleieth Saffioti era anunciada no campus da FFCL de Araraquara  como uma das mulheres intelectuais mais influentes do século XX, no Brasil. Mas, não apenas por aqui. Meu fascínio pelas idéias que ela defendia foi tamanho que sempre pensei na possibilidade de conhecê-la pessoalmente.
HeleiethHeleieth
Conhecer se traduz por uma fórmula muito comum no universo acadêmico - estar em uma conferência e ouvi-la. Foi o que fiz no ano de 2000, em um Congresso realizado na PUC da capital paulista. Um misto de acaso e contexto histórico. Como de hábito, ao chegar ao congresso realizei a primeira atividade, selecionar quem ouvir e aonde ir. Afinal, ali se encontram os mais renomados amigos e os oponentes de idéias e praticas. Em meio a programação, lá estava no nome de Heleieth Iara Bongiovanni Saffioti.
Fui ao grupo de trabalho para ouvi-la. Jamais havia visto uma foto dela. Cheguei antes de a porta ser aberta para as atividades e aguardei no corredor. Em pouco tempo, chegou uma senhora elegante. Estando apenas nós ali, ela iniciou a conversa sem que nos apresentássemos e foi logo inquirindo o que estava a fazer ali, em uma reunião do grupo de estudos de gênero.
Contei-lhe o real propósito: conhecer Heleieth Saffioti. A conversa se alongou o suficiente para que ela soubesse de minha admiração e minha posição sobre as questões do grupo de estudos. A reunião começou sem que soubesse quem era aquela senhora elegante e instigante.
Ao iniciar a reunião, uma revelação.  Ela era Saffioti. Fui pego de surpresa ao chamarem-na. Surpresa maior foi saber que ela havia sido “eleita” para a presidência da ASESP (Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo) para aquele biênio. Ela anunciou que aceitaria se um amigo pudesse ser o secretário. Ao que todos aceitaram. O amigo era eu!!!! Havíamos nos conhecido a menos de meia hora!!!
Saímos na busca de reorganizar a ASESP – na época com a ajuda de Francisco, um ex-orientando dela – e a primeira meta foi preparar, na Biblioteca Mário de Andrade, com o apoio do Colégio São Paulo, o evento “Globalização, 11 de setembro, democracia”, que foi realizado no dia 13 de novembro de 2002.
Conviver com ela foi um privilégio. Uma aprendizagem cotidiana. Um debate ininterrupto de idéias e práticas. Uma esperança renovada na igualdade de gênero. A cada encontro, no apartamento localizado na Praça da República, São Paulo, as possibilidades de interpretação do social, do humano eram multiplicadas. Era fascinante partilhar horas com aquela mulher altamente intelectualizada e humana.
No dia 14 de dezembro de 2011, completa-se um ano do falecimento de Heleieth Saffioti. Ainda tenho a certeza de que o mundo ficou mais triste. Obrigado pelas aulas privadas e públicas. Apesar de homenageada das mais diferentes formas, ainda falta o verdadeiro reconhecimento que, para mim, seria a organização de uma universidade com o nome dela.

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